terça-feira, 29 de outubro de 2013

Fragmentos de um Amor que era doce e se acabou.









Sei que dá medo de recomeçar. E que abrir mão de você fará com que eu precise me reinventar. Sei que planejamos que iríamos juntos para Itália, para Austrália e até para Marte, mas, meu amor, saiba que precisarei ficar aqui, sem você, mesmo que ainda queira ir para outra parte. Vou sentir a sua ausência.
Talvez, para não relembrar os nossos melhores porres e o cenário das nossas piores ressacas, eu tenha até que mudar de bar – afinal, aquele boteco amarelo de esquina já foi quase o nosso doce lar. Além do mais, se eu sentar sem você naquela mesa bamba, o garçom, nosso velho amigo, certamente, por ingenuidade e não por indelicadeza, vai perguntar por você. E a minha resposta será nada mais do que o silêncio. Cisco no olho, aperto no coração, nó na garganta.
Provavelmente, mudarei também o caminho que faço para chegar ao trabalho, só para não passar na frente daquela sorveteria de que você tanto gosta. Só para não me lembrar das vezes em que não a avisei e a deixei, por pura diversão, com a pontinha do nariz suja de sorvete de pistache. Aquele nariz que se franze em incontáveis ruguinhas toda vez que você sorri com a alma, com tanta convicção que só a boca não dá conta. E por mais que o motivo do seu sorriso não seja eu, que você continue sorrindo. Com a alma.
Eu, certamente, não estarei presente na comemoração do próximo Natal e nem no brinde que marcará a chegada do Ano Novo, porque não quero mentir para minha família e, com voz fraca, dizer: “Ela não veio porque está doente”. E muito menos quero contar-lhes a verdade, para ter que suportar mil caras de velório me olhando com ares de piedade. Mas ainda assim, desejo que você tenha motivos de sobra para comemorar. E que se escapar aquela lágrima de canto de olho no segundo da virada, você a seque com convicção. E que só se deixe molhar por um banho de champanhe.



Quando você sair e finalmente apagar a luz, apagarei também tudo que existe dentro do meu Ipod. Trocarei nosso infinito estoque de rock por qualquer coisa que não me toque. Por qualquer coisa que nós nunca tenhamos tocado em algum tempo-espaço do passado. Pode até ser pagode, se quer saber. Chegou a hora de mudar o disco e perder a mania de discar, quase que como ato falho, seu número no meu celular. Preciso riscar você da minha agenda e apagar os seus riscos da minha pele. As camisetas que você me deu de presente? Que façam algum necessitado feliz. Não suportaria usá-las sem você para tirá-las com aquele ar de desespero. Mudarei o tempero, porque até o ketchup me lembra você. Talvez seja a hora de usar a mostarda e de exagerar na pimenta, só para disfarçar a amargura que restará no meu paladar quando você já não estiver aqui.
Para não me lembrar de você e das muitas noites que varamos tagarelando, mudarei do vinho para água. Porque vinho me remete às nossas noites dançantes. À vergonha que você sempre perdia após a segunda taça. À sua mania de girar o copo em movimentos circulares “só para analisar o teor alcoólico”. À mancha que você deixou no meu tapete. E no meu coração. Por isso, garçom, desce aquela água. Para um.

Texto adaptado de Ricardo Coiro, autor do livro ''Confissões de um Cafamântico''.


domingo, 6 de outubro de 2013

É AMOR.





Olha aqui, vai. Eu tô me embolando nas palavras, eu sei. Não porque eu sou confuso. Ok, eu sou confuso. Mas nem sempre. Não agora. Agora eu pareço mais lúcido que todos os profetas e juízes juntos, só não sei explicar tudo isso. Mas é porque amar é, ao mesmo tempo, ter um dicionário pra falar e não saber como. É como se meu cérebro desaprendesse qualquer idioma tolo. E eu fico aqui, gesticulando vírgulas que exigem a tua presença um pouco mais. E eu não sei se você sabe, mas se estivesse comigo, você seria mais feliz. Juro. Deu na TV, nos jornais, no tarot, no horóscopo, nas músicas e nos livros que ando lendo. 
Eu estou falando feito um doido, sem vírgulas ou pausas, inventando assuntos quaisquer porque estou morrendo de medo do silêncio oceânico que pode surgir e você desviar teus olhos dos meus, reparar na vizinhança, naquele moço de gravata cinza ou na senhorinha dando comida aos pombos, e, talvez, você reparando no moço de gravata cinza e na senhorinha dando comida aos pombos possa pensar que já não há mais nada a fazer aqui e decida ir embora porque não gosta de cinza, nem de pombos, nem de mim. Sei lá.



Você tá com fome? Eu tenho um par de lábios e um tanto de sonhos que podem te alimentar. Juro. Como faz aquele macarrão que você gosta? Eu posso aprender, também. Mas te amo. E amar, além de ser algo que me deixa mais confuso e nervoso, deve ser aprender a ser o mestre dos desejos do outro. Assim, só para te agradar, sabe? Isso é amor. Você sabe. Ou acho que sabe. Mas, de qualquer forma, gostaria que soubesse que eu te amo. É, amor. Com ou sem aqueles coraçõezinhos infantis da quarta série, com ou sem musiquinha bonitinha. É amor. Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que o poeta falou, eu sei pelos filmes que vi, eu sei porque eu sinto exatamente aquilo que eu li em tantos lugares...Eu sei porque eu sinto aquilo tudo que o Aurélio disse sobre a palavra ''amor'' naquele minidicionário dele. Eu sei porque eu quero viver com você, quero acordar do seu lado, quero construir uma vida com você. Eu sei porque eu nunca desejei tanto algo na minha vida, e nunca desejei tanto que algo desse certo assim como quero que isso dê...Eu sei porque é algo recíproco, e isso sim é amor...É amor, e ponto.
Entendeu alguma coisa? Não? Ok, perfeito assim. Se você entendesse, eu ficaria triste por ter conseguido explicar algo sem explicação. E é isso: dentro de mim, sentimentos são inexplicáveis, mas explicam todo o resto. Amor é um sem sentido sentir e dar sentido a tudo. E este ''tudo'', agora, é você. Juro.



sábado, 5 de outubro de 2013

Algumas garotas são maiores que outras





Eu não sabia esperar e por você eu esperei e teria esperado mais tempo. A verdade é que eu nunca tive certeza se você iria mesmo aparecer um dia. Algumas garotas passam por aqui antes. Antes de você. Duas ou três talvez até tenham chamado minha atenção e eu realmente teria ficado confortável com elas. A gente costuma ouvir  que idealizar estereótipos é errado, mas comigo foi inevitável: sempre soube o tipo de garota que eu estava procurando. Tipo você.
Você chegou e me fez maior, menina. Apagando qualquer dúvida que eu tinha de que esperar não valeria a pena, e me fazendo aprender a ter calma, tudo está em calma, deixe que o beijo dure, deixe que a alma, você canta pra mim e diz que quando as coisas são elas simplesmente são. Não tem melhor palavra que eu possa usar pra ilustrar o que é estar com você do que “certo”. Meu maior feito na vida foi ter passado um tempo contigo.
Você chegou e me fez melhor, menina.
Depois de um tempo eu aprendi a me acostumar com esse disparo que meu coração dá sempre que ouço sua voz, mas ainda acho estranho a dificuldade de desviar os olhos enquanto você fala. Uma vez cê me disse que ninguém nunca te olhou como eu olho, e a verdade é que eu nunca quis olhar pra alguém como quero olhar pra ti.
É engraçado, porque eu achava que estaria preparado pra tudo, pra terremoto e poesia, pra quando finalmente te encontrasse no meio de toda essa gente sem sal, mas você me ensinou que não tem plano e que o seu plano era desalinhar as coisas no meu quarto e em mim pra mostrar que amor é também desordem.
Foi você também quem mostrou que todos aqueles desencontros da vida e romances mal resolvidos que eu tive fizeram sentido. E não adianta achar que eu vou estar preparado pra isso quando vier, porque não vou. Você me apareceu assim, sem aviso e sem ensaio. De repente eu tava sorrindo e nem sabia por que, só conseguia rir mais ainda quando me perguntavam se era droga ou coisa do tipo. É, o amor é uma droga. Mas eu não me preocupo com isso.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sobre Perdas, Luto e Saudade.


   


  111 dias sem escrever uma linha se quer. Pra um escritor, isso é muito tempo sem escrever. É uma tortura, muito angustiante. Angustiante e difícil foi conseguir escrever esse texto. Mas nada é tão angustiante quanto a minha vida atual.
 O dia 13/06/2013 vai ficar marcado pra sempre como o pior dia da minha vida. Nesse dia, por volta das 22h30min, em um acidente de carro, eu perdi meu irmão e um primo muito próximo. Antes disso, eu escrevia sobre dores e perdas como se tivesse propriedade pra falar sobre, como se conhecesse isso de verdade, mas estava enganado. Hoje eu sei de verdade o que é dor e o que é saudade. Dor é ouvir um telefonema do seu pai dizendo que seu irmão e seu primo mais próximo morreram. Dor é ter que escolher a roupa que seus entes queridos vão usar no caixão, as roupas que vão com eles pra debaixo da terra, quando algumas horas antes você estava os vendo vivos e animados se arrumando pra irem festejar. Dor é não poder ter dito ''Adeus''. Dor eu senti quando vi o caixão com meu irmão dentro descendo sete palmos para baixo. Meu irmão, meu co-piloto, a pessoa com quem mais tive convivência em toda a minha vida. 



Dor eu senti quando acordei no dia seguinte e vi a cama vazia, não ouvi sua voz, suas brincadeiras. Dor eu senti quando vi que no banco de trás do carro dos meus pais havia um espaço sobrando, e que nunca mais será ocupado. Dor é lembrar de todo aquele dia que não me sai da cabeça, da última vez em que eu os vi. Dor é perceber que 90% das pessoas que eu achava que eram minhas amigas sumiram quando mais precisei e nunca mais apareceram. Dor é lembrar o quanto eu protegi meu irmão, quantas vezes dei a cara a tapa, literalmente, quantas vezes eu soquei quem tentou triscar um dedo nele, e como eu não pude o proteger no fim.


 Saudade é pensar em alguém 24h e saber que nunca mais vai encontrar esse alguém. Saudade é sentir corpo, mente e espírito gritarem de dor por querer ter de volta o que lhe foi tomado de maneira tão abrupta e definitiva. A saudade é a dor, a dor é saudade. E só o que resta é a esperança de um dia reencontrar quem já foi em outro mundo.