sábado, 23 de novembro de 2013

Sobre a guerra particular dela




Tô com aquele medo, aquela coisa que martela me dizendo pra não cair nessa de novo. Tem alguma coisa aqui dentro piscando, um alerta de que você vai me fazer sentir algo além do frio na barriga e eu te chamo de montanha-russa sem você saber. Se você pudesse ler os meus pensamentos enquanto vira à esquerda, perceberia que o meu sinal ficou fechado por tanto tempo que é difícil deixar o vermelho dar lugar ao verde. Se você pudesse me ler agora, diria que eu tô congelando (mesmo com sol e calor lá fora).
Tô com aquela sensação de barco sem remos, sabe? Sabe, ontem você me falou que era pra eu confiar em você e nessas coisas todas que você fala, mesmo que nenhuma delas fosse bonita. Você também falou isso na semana passada e uns meses atrás quando eu te vi pela primeira vez. Como você me pede pra confiar em olhos de caçador se eu tô acostumada a esboçar olheiras no papel? Meu uso do carvão vai além do uso artístico e eu me pinto com ele, pinto as bochechas, sou prenúncio da guerra. Bochechas pintadas e escondo o rubor, duas faixas em cada lado e tô pronta. Tô pronta pra me defender e lutar contigo até me dar por vencida.
Travo uma batalha completamente sem sentido porque o inimigo não é você. O combate tinha que ser aqui dentro, com mil soldados mortos por minuto e sem decisão, já que eu mudo de ideia de dois em dois minutos. Se me deixo vencer e você dá xeque-mate, que garantia eu vou ter de que esse sentimento todo declamado não passava de estratégia? Se eu me empurro mais pra dentro, cavo uma trincheira e me escondo até você passar, talvez eu perca você pra sempre. Pra sempre assusta e badala doze vezes na minha cabeça antes do trem passar na frente da gente. Por que toda vez que você freia, você me olha? Eu não quero te devorar. Antes quisesse, porque assim eu me defendo sem precisar me entender.


Não sei se você tá vendo ou se vai chegar a ver, mas eu tenho um medo estranho de deixar que me vejam. Medo desses que me atrapalham pra cacete, mas não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso. É meu efeito video game: preciso passar de fase, uma a uma, pra ficar mais forte e chegar no chefão. E já foram tantas fases, tantos game overs, tanta preguiça e falta de vontade de recomeçar que olha, às vezes, eu prefiro me largar num sofá com pipoca a ter que recomeçar. É exaustivo ter que programar tudo, encontrar um rosto novo e contar, me construir, deixar que me descubram de novo e de novo e mais uma vez pra depois acabar em nada. É o jogo da sociabilidade amorosa, certo? Vira à direita e mais duas à frente que você me encontra perdida de novo. Fico me perguntando se você me pararia e me seguraria pelos ombros, pra me sacolejar e me dizer o que eu preciso ouvir. Que eu não preciso de carinho – agora - só de alguém (você) que me diga que já chega.

Diz pra mim que já chega de travar essas batalhas sozinha porque cansa. Cansa ter que convocar exército e botar o povo na rua pra fazer revolução amorosa. Cansa jogar com um console e ver mais um jogo indo pro buraco por falta de companhia compartilhada. Cansa dizer quem eu sou dezenas de vezes pra alguém que mal vai lembrar meu nome amanhã. Então vira a esquina e me deixa em casa. Me deixa na porta e insiste em entrar comigo. Insiste em não me deixar sozinha essa noite e jogar comigo, sem questionar meus vícios, pra abrandar essa guerra que tá na minha cabeça. Não me deixa cavar trincheira nenhuma dessa vez. Para na minha porta e desce do carro, do tanque de guerra, desse movimento que todo mundo faz de me deixar aqui e não voltar. Mostra pra mim que você decorou o caminho todo e que tem razão: eu não preciso mais brigar comigo pra deixar alguém entrar.





terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sobre pessoas que sabem o que é Amar



Que todo relacionamento é uma troca todo mundo já sabe. Não vou ficar aqui gastando meu português para adornar esse clichê. O que me interessa, diante dessa premissa, é o objeto da troca. É o que o outro tem para oferecer. É o escambo que vai muito além das doações imprescindíveis para que qualquer relacionamento prospere. É o teor da permuta. É a parcela mais genuína de si que o outro pretende doar para mim.

E preciso esclarecer que quando digo isso, definitivamente, não me refiro apenas a carinho, fidelidade, lealdade ou respeito, que no meu romântico, poético, mas nada utópico entendimento, são itens que não deveriam figurar no rol das qualidades, como lamentavelmente tem acontecido no embalo engasgado dessa maldita tendência de mediocrização das relações humanas, mas apenas dos simples e básicos pré-requisitos “standard” para qualquer pessoa que pretenda se relacionar.

A verdade é que relacionamento é coisa de gente altruísta. Gente egoísta não tem vez. Relacionamento é para os mão-aberta. Para os ouvido-aberto. Para os cabeça-aberta. Para os coração-aberto… E é por isso que eu gosto de gente que tem algo para doar. Gente que ama a própria vida. Gente que tem coisa nova a ensinar. Gente que tem história boa para contar. Gente que já aprendeu a se doar.

E não me venha com mixaria. Não quero meia-boca, meio-corpo, meio-copo, meia-alma. Quero tudo o que você sabe. Todos os novos sentimentos loucos, não poucos, que você pode proporcionar. Todas as coisas boas, não tolas, que esse relacionamento pode dar.

Eu amo fluidez. Amo a sonoridade da correnteza boa que leva a sujeira do rio velho embora. Amo a liquidez da vida reciclável, que naturalmente leva as coisas que não mais nos servem para que outros possam usar. E é por isso que alguns relacionamentos vão, algumas coisas vão, algumas pessoas vão. Tem que deixar ir para o novo chegar. O importante, nessa reflexão, é não deixar que as relações sejam em vão. O mais legal de toda relação é conviver com alguém que tenha alguma paixão. Qualquer paixão. Útil ou não.

Gente que tem uma paixão sabe que amor exige dedicação. Ponto pra eles, que já aprenderam essa lição. Mas o mais interessante é o legado dessas pessoas na relação. Gente que ama alguma coisa sempre tem algo a ensinar. Pode ser sobre futebol, gramática, religião, cinema mudo, polo aquático, literatura russa, estudos da física em mandarim, ''The Sims'', Comida boa, bandas com nomes estranhos como ''Ave Sangria'', cruzeiros transatlânticos, sudoku, viagens de baixo custo pelo leste europeu, zouk, música popular grega, motovelocidade, reality shows, fofocas sobre celebridades americanas, ou seja lá o que for. O essencial é que a pessoa tenha uma paixão.

Tenho pouquíssimas certezas na vida e uma delas é que o ser humano é movido a paixões. Por isso eu amo gente apaixonada. Aprendi que é muito melhor se relacionar com gente que conhece o combustível da própria vida. Gente que não vai sugar só o que é meu. Gente que tem uma herança para deixar. Gente que também tem algo a compartilhar. Gente que amando algo, já aprendeu como é amar.


domingo, 3 de novembro de 2013

Divagações aleatórias de uma noite chuvosa









Cá estou eu sozinho, mais uma vez, como costumava ser até meses atrás, só que pior. Domingo... Noite chuvosa... Solidão... O vento jogando a tristeza na minha janela... E aí surgem vários pensamentos... As perdas... Ah, como esse ano foi cheio de perdas... Daria pra escrever um livro, bem no estilo ‘’Mal do século’’, daqueles do Álvares de Azevedo. Eu poderia falar sobre Morte, Luto e Tristeza com tanta propriedade quanto ele...eu poderia falar da recente desilusão amorosa e as mentiras e pensamentos negativos que vêm juntos...sei lá...é tanta coisa, tantas linhas sobre a propriedade de não ter propriedade, que eu nem consigo concluir esse texto, pensamento solto e aleatório que o ‘’eu poético’’ quis escrever...