Que todo relacionamento é uma troca todo mundo já sabe. Não vou ficar aqui gastando meu português para adornar esse clichê. O que me interessa, diante dessa premissa, é o objeto da troca. É o que o outro tem para oferecer. É o escambo que vai muito além das doações imprescindíveis para que qualquer relacionamento prospere. É o teor da permuta. É a parcela mais genuína de si que o outro pretende doar para mim.
E preciso esclarecer que quando digo isso, definitivamente, não me refiro apenas a carinho, fidelidade, lealdade ou respeito, que no meu romântico, poético, mas nada utópico entendimento, são itens que não deveriam figurar no rol das qualidades, como lamentavelmente tem acontecido no embalo engasgado dessa maldita tendência de mediocrização das relações humanas, mas apenas dos simples e básicos pré-requisitos “standard” para qualquer pessoa que pretenda se relacionar.
A verdade é que relacionamento é coisa de gente altruísta. Gente egoísta não tem vez. Relacionamento é para os mão-aberta. Para os ouvido-aberto. Para os cabeça-aberta. Para os coração-aberto… E é por isso que eu gosto de gente que tem algo para doar. Gente que ama a própria vida. Gente que tem coisa nova a ensinar. Gente que tem história boa para contar. Gente que já aprendeu a se doar.
E não me venha com mixaria. Não quero meia-boca, meio-corpo, meio-copo, meia-alma. Quero tudo o que você sabe. Todos os novos sentimentos loucos, não poucos, que você pode proporcionar. Todas as coisas boas, não tolas, que esse relacionamento pode dar.
Eu amo fluidez. Amo a sonoridade da correnteza boa que leva a sujeira do rio velho embora. Amo a liquidez da vida reciclável, que naturalmente leva as coisas que não mais nos servem para que outros possam usar. E é por isso que alguns relacionamentos vão, algumas coisas vão, algumas pessoas vão. Tem que deixar ir para o novo chegar. O importante, nessa reflexão, é não deixar que as relações sejam em vão. O mais legal de toda relação é conviver com alguém que tenha alguma paixão. Qualquer paixão. Útil ou não.
Gente que tem uma paixão sabe que amor exige dedicação. Ponto pra eles, que já aprenderam essa lição. Mas o mais interessante é o legado dessas pessoas na relação. Gente que ama alguma coisa sempre tem algo a ensinar. Pode ser sobre futebol, gramática, religião, cinema mudo, polo aquático, literatura russa, estudos da física em mandarim, ''The Sims'', Comida boa, bandas com nomes estranhos como ''Ave Sangria'', cruzeiros transatlânticos, sudoku, viagens de baixo custo pelo leste europeu, zouk, música popular grega, motovelocidade, reality shows, fofocas sobre celebridades americanas, ou seja lá o que for. O essencial é que a pessoa tenha uma paixão.
Tenho pouquíssimas certezas na vida e uma delas é que o ser humano é movido a paixões. Por isso eu amo gente apaixonada. Aprendi que é muito melhor se relacionar com gente que conhece o combustível da própria vida. Gente que não vai sugar só o que é meu. Gente que tem uma herança para deixar. Gente que também tem algo a compartilhar. Gente que amando algo, já aprendeu como é amar.
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