quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Quando termina sempre há um "mais um pouquinho"




O nosso trato tinha sido o fim. Exatamente assim: com direito apenas a um ponto final. Assisti pelo canto dos olhos você catar todas as tuas vírgulas, que estavam ali há tanto tempo dando sentido a uma história. Engoli minhas exclamações. Eu havia perdido o controle do enredo, e agora ele te empurrava pela porta da frente para nunca mais voltar. Quando teus passos viraram a esquina, senti uma lágrima quente escorrendo pelo canto da boca. Tinha gosto de reticências.
O nosso trato tinha sido mesmo o fim? Então diz pra mim: o que o teu sorriso está fazendo dentro da minha gaveta, descansando entre uma meia e uma gravata? Ninguém me avisou que no fim havia tantas metades. E agora, o que faço com os teus pedaços espalhados pela bagunça que a vida ficou? Tua respiração pesada ainda sopra hálito de creme dental de hortelã em meu pescoço toda noite. O a cor dos teus olhos me encurrala em cada aresta da casa. Qualquer perfume que cruza por mim na rua tem o teu cheiro. Quanto tempo demora o fim pra acabar?
Se você souber a resposta, por favor, não recorre àquele franzir de testa que me faz sentir o quanto sou estúpido. É que, pra ser sincero, eu achei que aquela conversa de “não dá mais” era tudo o que bastava...ela devia ter apagado da minha memória o teu riso frouxo enquanto me olhava absorto... Devia ter me feito esquecer como o teu corpo tem sabor de estar em casa, e eu nunca mais saberia o som da sua voz ou o cheiro do seu travesseiro e a travessura exata que conta a história de cada cicatriz que você herdou da infância. No fim, não era pra eu conseguir lembrar a posição da tua escova de dente na prateleira, ou dos teus neologismos em meu vocabulário.
O nosso trato tinha sido mesmo o fim. Mas enfim… não dizem que é depois dele que surge um novo começo? Esquece a coerência, escuta o coração. Se ele ainda bater no mesmo compasso, então muda o teu passo e vem bater no meu endereço. Não aprendi a dançar, mas ainda sei fazer rima. E lembro exatamente a receita que você gosta: vou combinar açúcar e canela e falar mesóclises ao seu ouvido. Não se preocupe, não vou esperar resposta. Quero apenas que você tire o caderno das minhas mãos antes de eu terminar a última estrofe, me abrace forte e me arranque um beijo. Acelera a minha respiração, faz eu me perder no teu labirinto de poros e pelos. Não, não me deixa terminar. Antes, me entrega teus arrepios, saliva e suor. Me cega para o que difere o tesão da coesão. Me fere, carrega pedaços de mim em tuas unhas e me faz esquecer as outras dores. Não espere: venha buscar o último verso em meus lábios e suga-lo do íntimo da minha alma – você conhece o caminho à beça. Não tenha calma. Minha poesia e meu coração têm pressa.








Adaptação/paráfrase do texto  "Quanto tempo leva pra esquecer alguém", de Sâmia Louise, publicado em: http://www.casalsemvergonha.com.br/2014/11/12/quanto-tempo-leva-pra-esquecer-alguem/


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A velocidade da resposta prova o quanto você gosta







A gente sabe bem como levamos a vida. Algumas vezes até podemos não saber o que fazer, mas sempre sabemos o que não fazer. Tolice é negar que não sabe quando está fazendo uma coisa que não gostaria que fizessem com você.
É engraçado pensar que a certeza que hoje você pode ostentar pode se fazer contra você amanhã. Ou seja, a pessoa que corre atrás de você hoje e que você insiste em ignorar é exatamente você amanhã correndo atrás de outro alguém que vai insistir em te ignorar. Por outro lado, não é pra fingir sentir uma coisa quando na verdade sente outra. É só pra se colocar no lugar. O lugar mais difícil do mundo de estar é no lugar do outro. Você sabe quando tem alguém se interessando por você. Dá pra perceber os sinais, dá pra contar na quantidade de exclamações no fim das frases ou na inclusão de um coraçãozinho em ou outro momento da conversa ou até mesmo na sua inserção nos planos de fim de semana desse alguém. E disso pra um apelido carinhoso é um pulo. Você sabe. E outra coisa, você sabe quando está dando abertura para que sejam assim com você, pois como sabemos: pode até não saber o que quer, mas sabe bem o que não ser, então, você sabe o que fazer para cortar esperanças ao invés de cultivar ainda mais.
Talvez não seja tão definitivo dizer que a velocidade da resposta prova o quanto você gosta. Você pode realmente ser uma pessoa desligada e que se perde nos contatos e no que estão te dizendo ou talvez você simplesmente se ocupa muito que não dá tempo de responder depressa. Mas é interessante refletir sobre: 1) como você se comporta quando te respondem rápido 2) como você se comporta quando está esperando uma resposta. E nós sabemos que quando somos nós quem espera os pesos parecem ser diferentes. Em pensar que já achamos gentil que puxassem a cadeira ou que fizessem questão de pagar a conta, hoje a comemoração é com a resposta depois do “visualizada”. E o louco é que as pessoas continuaram as mesmas, sentindo as mesmas coisas, só que com as novas ferramentas, elas meio que se confundiram no modo de ser e se expressar. Presta atenção na velocidade com que te respondem. Presta atenção na velocidade com que gostaria que te respondessem. É naquela conversa despretensiosa que existe um jogo que não tem vencedor. Nem tudo é pela vitória. Há tentativas que são mais prazerosas que realizações. Não tem o que competir, não tem o que calcular, é preciso respeitar a música que diz da importância de saber viver. É preciso pagar pra ver no que vai dar, é preciso tentar antes de lamentar. “Mas eu tenho preguiça, eu cansei” – então você pode escolher qual cemitério dormir à partir de amanhã já que se dá assim por vencido, já que a sua vida não tem mais motivo.
Muitas vezes você se vê reclamando que ninguém te dá atenção, mas você não reconhece quem te dá. Não se trata, porém, de facilitar para quem demonstra que gosta de você. Essas coisas não funcionam assim. Mas é para você enxergar em quem tem tentado te fazer bem um jeito de você fazer o mesmo quando estiver sentindo algo parecido. Você não precisa ficar com quem quer ficar com você, mas seria bonito se você soubesse respeitar. Hoje em dia, nós sabemos, é tão difícil identificar quando a intenção é boa, mas isso não pode afastar as boas pessoas.
Eu sei que já encontrou em alguém do passado algumas coisas que sempre sonhou viver. E que muitas dessas coisas te parecem repetitivas para reviver com um novo alguém. Mas quem pode te garantir isso? Sabemos como chocolate é bom e qual sensação proporciona mas nunca paramos de comer o mesmo chocolate. Esse negócio de planejar o calendário é tão pessimista. Ter a pretensão de querer saber como lidar quando o coração bater é como se quiséssemos escolher o jeito que o dia vai nascer, esquecendo que, tem vezes que a gente gosta de dias de sol, tem vezes que a chuva é que faz bem. Não é pelo sexo, não é pelo tesão, é por algo muito antes disso e talvez até mais valioso: é por atenção.
A velocidade da resposta prova o quanto alguém quer saber da sua opinião; prova o quanto alguém está se esforçando em se fazer interessante pra você; prova o quanto alguém abre mão de outros momentos da vida, de outras respostas respondidas, para ter aquela só pra você; prova que pra esse alguém você é quem mais importa e merece saber. Dá pra ver por essa ótica? Dá pra pelo menos tentar? Dá pra parar de julgar como esse “câncer” chamado “grude”? Dá pra reconhecer que você no lugar desse alguém faz exatamente as mesmas coisas? E vale repetir: não se trata de você ceder e tentar por tentar, se trata de você fazer sua parte pra ver no que vai dar, e ainda que não renda beijos, pode te render outros bons momentos. Não é só de amor que se vive. É da conversa de “Tá melhor que ontem?” de alguém preocupado com você. É da conversa de “Pensei em te chamar pra jantar!” de alguém interessado em ter sua companhia. É da conversa de “Qual o seu maior sonho?” de alguém curioso em saber mais sobre coisas que você sempre quis falar.





Por Márcio Rodrigues em: http://umtravesseiroparadois.wordpress.com/2014/11/05/a-velocidade-da-resposta-prova-o-quanto-voce-gosta/


domingo, 2 de novembro de 2014

Por um amor em que eu não precise mendigar reciprocidade


Eu queria não precisar te pedir pra me amar, não precisar emitir nenhum ganido agudo da noite de domingo pra segunda sabendo que você não vai ouvir. Queria ter um zíper dos pés à cabeça pra mostrar como as coisas funcionam aqui dentro, pra ver se você entende um pouco sobre como eu me sinto. Faz quanto tempo que você foi embora, um mês ou dois, por aí. Então por que você não vai embora de mim também?
Pensei que fosse fácil guardar isso num baú. Foi paixão de primavera, meu doce outubro. Foi uma coisa sem começo e sem final, despretensiosa, como um filme da Sofia Coppola. Poderia ser "Somewhere", mas até no filme a Elle Faning ajuda Stephen Dorff a se achar. Me sinto como naquela cena inicial, sabe? Com o carro dando voltas e mais voltas sem sair do mesmo lugar. Só pra me cansar, gerar algum desgaste, pra ver se dá a hora de ir pra casa e não querer mais brincar de você.
Não é tão fácil assim esquecer um amor. Um amor que tinha tudo pra acontecer, mas você não quis. Se não queria, por que me manteve ali e me fez acreditar que sim, que a gente teria a cena de beijo de despedida no aeroporto, que eu ia passar minhas férias com você, que eu me sentiria um menino correndo na praia de Ipanema no momento exato do pôr-do-sol? Você não fez, foi culpa minha, fui eu que coloquei tudo isso aqui dentro e não consigo mais tirar. Mas olha, você bem que podia. É que. Esquece.
Eu te quero pra caramba. Como eu nunca disse pra alguém que queria. Te quero com sotaque, com selfie no espelho, com essa mania chata de achar que todo mundo é bobo e só você entende das coisas. Te quero, mas machuca muito te pedir amor. Principalmente quando percebo que talvez você não o tenha pra dar. Não pra mim, no caso.
Eu não quero pedir pra ninguém me amar. Por isso mesmo é que não te peço. Te deixo ir morrendo feito o Joel, sou Clementine. Escolhi te apagar, mas não tem método. É tempo e choro, gente e choro, tristeza e choro, até que fique alguma coisa, mas o choro seque. Quando secar, eu te digo que eu tento de novo – não com você. Tento e espero mais amor, mas sem favor algum. Sem pedido e sem vertigem dessa vez.