Minha querida F,
Estou tão cansado. Estou tão, tão cansado! Minha vida tem sido um amontoado de palavras, F. Quase não falo, mas escrevo tudo o que não escrevi durante toda a minha existência. E tenho refletido sobre esta relação obsessiva que o escritor tem com a palavra. Pois, apesar da minha profunda necessidade dela, sua aproximação é muito tímida às vezes, e fico com todos os meus sentimentos desamparados de frases. Apenas sentir, sentir, sentir demais me entorpece, instiga minha insanidade e provoca uma profusão de diálogos e monólogos absurdos dentro de mim. Será que alguém repensa a própria existência e vive este processo de mergulhos até perder o fôlego intencionando respirar, por um segundo que seja, na superfície das coisas?
F, eventualmente, tenho tido algumas crises de ausência e minhas tentativas de dizer coisas soam vãs, pois nada escuto ou vejo. Mas estou condicionado a estimular minha mente e eu não me dou este instante de paz. Tiro o meu coração da garganta e pergunto o que ele tem a me dizer. As pessoas não querem apenas minhas palavras, querem minha presença, e tenho estado tão indisponível para me relacionar com algo que não seja um texto. Dezenas de textos espalhados pela cama antes de dormir. Antes de tentar dormir.
Centenas de abas do Word abertas com frases desalinhavadas em cada uma delas. “Deseja salvar as alterações?" Sim...não...talvez...não sei...será?. Confuso, confuso como nunca estive. E tão povoado e só. Absurdamente só com todas estas pessoas que moram em mim. Com todas estas cores e paisagens e sensações e metáforas e músicas e aquele filme que nunca mais consegui parar de assistir porque demorei tanto para conseguir assisti-lo e eu estava tão entranhado naquele roteiro que fui meu espectador por quase 3 meses. Tive quase 3 meses de eternidade, F. E, agora, Roberto Carlos me dando um nó no peito. Uma vontade de chorar de cansaço... Roberto Carlos me diz “eu me vi tão só...” e eu entristeço mais e mais...mas acho que as pessoas ao meu redor não merecem minha confusão... '' e eu me vi tão só, enfrentando momentos difíceis de solidão...”, Roberto Carlos parece saber bem o que é isso. E, por enquanto, estou salvo. Reze por mim, F. (Eu precisava estar dormindo agora mas estou escrevendo para você).
Então, apenas me abrace em pensamento enquanto eu lamento.
Sinto sua falta, amor.