terça-feira, 24 de novembro de 2015

"Eu vou encontrar outro alguém".


Talvez ela não tenha seu sorriso. Aquele torto e cínico, escondido do lado esquerdo do seu rosto, que só você sabia dar. Mas espero que ela tenha vinte por cento do seu humor – foi muito por causa dele, e de mil outras coisas, que eu me apaixonei. Espero que ela ria até perder o ar, do jeito que você sempre fazia, mas que não perca o riso com o passar do tempo, nem canse de mim, de nós dois, do amor. Espero que ela não  seja outra que diga que vai ficar e, no fim, não ficou.
Se eu pudesse escolher alguma coisa, iria querer que ela tivesse seu olhar carinhoso ao acordar. E aquele ar despretensioso que você tinha ao dormir. Uma vez, te olhando, eu jurei que poderia passar o resto da vida só te vendo ali, sem medo, sonhando. Mas a gente sempre acorda dessas ilusões malucas de que amores duram pra sempre, não acorda? Eu, pelo menos, acordei.
Seu gosto musical insuportável ela não precisa ter. Talvez eu encontre alguém que, finalmente, curta passar a tarde de domingo ouvindo Caetano ao meu lado. Alguém que tope fazer aquela trilha do Costão de Itacoatiara que eu sempre quis fazer e você nunca quis me acompanhar. Já pensou eu encontro alguém que não me ache maluco por querer rodar o mundo em um cruzeiro quando eu tiver setenta anos?
Espero que ela tenha três doses a mais de amor se um dia resolver partir. E aí não parta como você – meu coração inteiro. Quem sabe, olha só, eu não dê a sorte de encontrar alguém que não vá me fazer questionar tudo, cada passo, cada vírgula da história, pra saber se valeu a pena. Vai ver eu ache alguém que me dê menos dúvidas e me encha de certezas.
De verdade? Espero que ela me faça parar de pensar que era você. E que só não era eu. E tudo bem porque a gente tem que aceitar quando não é a gente. Não é? Às vezes, a gente tem que aceitar que a gente tava pronto e o outro não. Mas espero que ela me faça pensar, depois de um tempo, que era ela. Que é ela. E espero, do fundo do coração, que ela seja.
Porque se tem uma coisa em que eu continuo acreditando, é isso: uma hora, vai ser.
Eu vou encontrar outra “você”.

Por Karine Rosa em:  http://www.karinerosa.com/

domingo, 14 de junho de 2015

Mistério


Sou a saudade de um jardim que nunca existiu, de filhos que nem nome têm, de um amor que nunca vivi. Vivo o desafeto de sonhar, sozinho, um amor de cinema. Almejo o inexistente, me digo ser euforia, mas, quando me pergunto se um dia ele virá, transbordo na maldade do tempo.
Estranho dizer, mas a minha melhor parte é aquilo que não sei. Então, antes de vir, não me pergunte quem sou, ou como amo. Sou um mistério para mim. Me desvende, me faça não ter onde me esconder, descubra o amor que há aqui dentro, só não me deixe saber disso. Minta para mim, não me deixe enxergar que estou amando, assim, amo como ninguém.
Fingindo que não sei amar, te digo, não me faça prometer amores certos e responsáveis, me ganhe no silêncio do vivido, se disponha a ver a cidade acender ao meu lado, o vinho se pôr em bocas diferentes e, se possível, me deixar ser eterno por um instante. Não necessito de mais que um instante, pois, preciso te dizer, a eternidade me assusta. O amor me assusta. A assertividade do que sinto me assusta. Me entregar para um coração que não seja o meu, então, se faz apavorante.
O amor, que aqui habita, se faz como um livro, onde poucos foram os que leram algum trecho, e inexistentes foram os que terminaram de ler. Quando sozinho, no silêncio da minha presença, deixo o amor em livro sair. O apanho da estante mais empoeirada da minha livraria e lhe dou a atenção merecida. Pelo menos nas noites em que estamos a sós. O leio em voz alta, para nunca esquecer do que quero sentir, rabisco suas páginas, divido todo o meu eu e, ciente de realmente estar sozinho, choro por somente eu tê-lo lido até o fim. Depois, o coloco no seu lugar, pois, se eu permitir, ele se deixa ser lido por todos. E, infelizmente, eu ainda não sei dividi-lo…






Por Frederico Elboni em: http://www.entendaoshomens.com.br/se-deixar-amar/

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ela já foi



Eu a tinha aqui, deitada no sofá enquanto eu fazia o café, reclamando da programação de domingo de manhã na TV. “Por que parece sempre que não passa nada de bom?”. Porque só a gente acordava naquela hora pra ler jornal e andar com o cachorro, meu bem, o resto do mundo tava chegando em casa. E agora eu chego também.
Eu dizia pra ela umas coisas bobas de que precisava ir embora desse mundo e ela me perguntava por que, se o mundo era outro e a gente era abrigo. Eu explicava com um pouco de raiva, um pouco de falta de paciência, que ela não era meu bunker, porque eu sentia que não era, sentia angústia e mesmo que ela apagasse a luz do corredor as coisas não mudariam. Ela deitava quieta do meu lado, e eu só queria sumir um pouco e ficar sozinho. Agora eu tenho todo o espaço do mundo dentro de mim. E a falta consome.
Eu tentava esconder o tédio que batia quando ela queria assistir “Chicago” de novo e cantarolava a cada dois segundos, sempre caía no sono e nunca via o filme inteiro. Trocava a vista dela pelo celular nos jantares, a companhia dela por qualquer pessoa durante os dias de semana em que tinha tempo livre. Até no dia em que eu troquei o lado dela da cama e quem deitou não me perguntou meu lado preferido. Vesti a roupa e fui embora pra casa. E agora não durmo mais assistindo “Chicago” e sei todas as músicas de cor.
Eu a tinha.
Agora eu sou o cara-que-não-tem-mais. O cara que podia ter ido pra casa e rido dela deitando no meu lado da cama e podia também ter esquecido de fechar a porta pra deixar o cachorro pular nela. Podia ser o cara que sai correndo no meio do banho pra ligar o interruptor porque tomou um susto com a água gelada e com ela se encolhendo toda no canto do box. Podia ser o cara que aproveitou a falta de luz pra ser pego de surpresa com um China In Box à luz de velas e podia ter sido o cara que fingiu que não viu as caixas de yakisoba na área de limpeza. Podia ser o cara que canta All That Jazz, mas preferiu ser o Mr. Cellophane que canta sozinho e olha pro lado procurando cumplicidade pra rir da cena engraçada, mas só encontra o cachorro, que também sente a falta dela. É impressionante como ele também sente que só eu não basto, que falta alguma coisa, que sem ela eu não tenho sido suficiente só pra mim.
Eu dizia. Mas dizia o que não importava, dizia um monte de bobagem e nem ria, dizia que hoje não ia dar pra ir com ela no cinema porque tava com preguiça. E passei a não acordar mais cedo nos domingos e nunca mais fiz café pra ela. Passei a achar mais ainda que ela não fosse meu bunker e uma hora dessas ela acreditou, acreditou que a gente não era mais abrigo.
Agora eu sou o cara que podia ter tido tudo, mas não tem. E ela é a garota que eu sonhei desde que era pequenininho e também é a garota que não acredita em mais nada do que eu digo, nem quando eu deixo um bilhete dizendo que decorei as falas do seu filme preferido porque é tudo o que eu tenho feito, eu tenho preenchido a falta dela com as partes dela que eu ainda posso ter.
E eu? Eu sou o cara que abriu a porta pra ela ir embora. E agora ela já foi.


terça-feira, 7 de abril de 2015

Sobre o amor e o medo

Uma vez você me disse que tava indo embora e que tinha que fugir de mim. Tava tudo bem, eu até entendia a despedida. Mas a fuga? Nunca entendo. Você falava que eu era um desses homens-bomba prestes a explodir alguma coisa dentro de você, prestes a te prender numa emboscada. Se o Molejo tivesse pensando na gente, teria sido amor e também cilada.
Falou debaixo dos Arcos e me empurrou, me mandou pra longe enquanto todo mundo via o circo que era a gente. Só faltaram os aplausos, mas juro que a bateria de escola de samba que era o meu peito deu conta dessa falta. Quantas cores você enxerga comigo? Eu vejo muitas, eu vejo várias, eu vejo você refletindo a chuva e brilhando num prisma multicolorido que muda as coisas. Sinto isso quando deito contigo numa cama apertada no meio do litoral, sinto isso quando você me liga embriagada e me manda sumir, me manda ir embora logo antes que eu destrua tudo, antes que a gente se exploda porque você não pode, você não quer isso agora, tá tudo muito certo pra outra bomba. Então você foge.
Foge e não tem sentido nenhum. Certo? Porque você tá fugindo do que te faz bem. Tá fugindo porque “agora não é hora”, “talvez você esteja enganado”, “e se você for embora, como é que eu fico?”, “você não quer o mesmo que eu” e blá, blá, blá. Você é todo um Hades de vozes semiloucas gritando pra não me querer porque, bem, você já quer. E eu te quero tanto. Quero pra caramba. Quero a ponto de implodir sozinho só pra não deixar nenhum caco meu cortar você.
Sou bomba, sim, confesso. Mas é porque eu quero te fazer botar pra fora tudo aquilo que você cala. Exterminar essa coisa quieta e calma que você guarda, essa coisa comedida de viver a vida (que na verdade é medo). Você fala como se tivesse que se desculpar por tudo e pelo mundo, mas não tem, nunca teve. Não tem que se explicar pra ninguém, não tem que pagar a conta do bar pra deixar ninguém feliz. Você precisa seguir essa porcaria desse teu coração, intuição, sentimento, dor de dente ou como você quiser chamar isso que sente. Segue, você vai ver que aponta pra mim porque o teu norte sou eu. E é por isso que eu venho, que eu chego num cronômetro decisivo, sempre mais perto, torcendo pra você não cortar o fio vermelho. Eu só explodo se você deixar. Explodo e mudo o seu mundo inteiro. Você vai ver.
Sou bomba, meu bem, mas não pra te machucar. Eu faço alguma coisa que reverbera aí dentro que te faz perceber que essa praia é mais bonita de noite, que as luzes da Orla deixam a cidade mais romântica e pronta pra gente andar meio bêbados por aí. Te disse noutra noite que eu sou d’um tipo equivocado, que se desculpa o tempo todo, que veio mesmo é pra fazer estrago. Não foi a maconha ou o álcool, não foi influência do amigo de azul que não parava de falar do bosta do Foucalt, mas foi você. Foi você me afastando e correndo como se batesse a meia noite e o pedido se desfizesse. Mas não esquece o sapatinho de cristal e fica. Se esquece inteira e se lembra de mim amanhã mesmo com dor de cabeça e aspirina.
Já pode parar de fugir de mim, porque isso tudo é medo.
Eu posso até me afastar, ir embora, implodir em outro lugar. Respeito se você não me quiser. Mas.
Nunca tem fuga quando a coisa da qual a gente foge mora dentro da gente.
Tic-tac-tic-tac-tic-tac.


terça-feira, 3 de março de 2015

Dessa vez eu não quero ser o héroi









Sempre fui do tipo que gosta de cuidar de alguém quando entra numa relação. Por gostar de ter certeza do terreno onde piso, eu sempre quis representar a pessoa que sabe o que tá fazendo ali. Queria ser a parte concha da conchinha, queria oferecer o peito pra deitar, queria ser o cara que conduz a valsa. E isso sempre refletiu muito nos meus relacionamentos.
Veja bem, não era nenhuma neurose controladora. Eu só gostava de me sentir necessário, de me sentir o porto seguro de quem tava comigo. Até que meu primeiro namoro longo acabou. Até que a tentativa do segundo foi um fiasco. Até que o último caso mudou muita coisa na forma como me via e foi um aprendizado enorme no início, meio e fim.
Depois do último fim, eu mergulhei num universo que era a minha cara: a loucura workaholic dos projetos e da vida adulta cheia de responsabilidades. Tive alguns bons encontros, mas nada além de encontros, nenhuma troca mais profunda. Eu cortei a coisa pela raíz nesses últimos meses sempre que me via na desagradável situação de nunca ter tempo pra cuidar de quem poderia vir pela frente. Num ato conformado de me convencer disso, eu abandonava a causa e me despedia. Melhor assim, não vou ter que como cuidar de você, eu disse (mais de uma vez).
Até ontem.
Até que eu cheguei em casa depois de virar duas noites trabalhando, com uma gripe insuportável, com as dores de cabeça de tudo o que eu tinha que fazer e entregar. Pensei no estresse e na falta de companhia, mas tudo bem, me falta tempo e eu vou ter que conviver com esse dilema: ao mesmo tempo em que quero cuidar de alguém, eu não tenho como fazer isso. Eu não tenho como me doar e me dedicar a alguém agora, eu não tenho como abrir mão dos meus horários encaixados para passar no cinema no meio da semana pra te ver, eu não consigo dar conta disso porque eu tô soterrado.
Uma lâmpada queimou no quarto. Tive um clique aqui dentro.
O problema real não é que eu não consiga me doar pra alguém porque eu não vou conseguir cuidar de quem quer que seja. O problema é que eu nego o tempo todo que eu também preciso de cuidado, eu delego sempre essa função a mim, mas só porque eu não baixo a guarda. Eu quero ser o herói de todo e qualquer relacionamento, mas poxa, isso cansa. Cansa porque ninguém é o Superman – e mesmo que seja, existe Kriptonita aos montes por aí. Cansa porque falta um abraço, falta um ombro pra deitar a cabeça e dormir no meio do filme, falta alguém que ligue no fim do dia e pergunte se tá tudo bem. E foi ontem, só ontem, que eu percebi pela primeira vez que eu também quero ser cuidado.
A gente tem que parar de negar e começar a admitir que quer fazer parte da vida de alguém, sim, e que não tem problema nenhum nisso. Não tem problema em querer ser a parte de dentro da conchinha, não tem problema em confessar que precisa de ajuda. Isso não faz da gente mais fraco ou mais forte, isso só mostra que todo mundo é vulnerável.
E foi no escuro forçado do meu quarto que eu percebi que dessa vez eu não quero ser seu herói. Eu quero, eu preciso de alguém que me salve. Alguém que me salve hoje e na próxima é a minha vez, a gente vai trocando. Uma vez é meu peito, na outra é seu ombro. E eu prometo que paro de mentir dizendo que me falta tempo, que me falta vontade, que me falta um monte de coisa porque só me falta mesmo alguém que me desarme. Alguém que me abrace quando descobrir que eu morro de medo do escuro.

Sobre a vida



Sem orgulho, sorriso ou brilho nos olhos. Sem vigor ou vontade de assumir. Sem mais delongas, protelamentos, procrastinações ou renegações: sou pessimista. Ainda que os sonhos me alcancem, me sinto como um maratonista fujão, que ao invés de chegar à linha, anda em círculos e vive de sonhos. Fúteis expectativas.

Talvez metade de mim chamasse esse meu jeito de autossabotagem. Quando os sonhos cometem aborto, com medo de se esvaírem. Algo como pré-conceito. Uma forma de podar as esperanças, arrancar as sementes antes que se fixem como raízes. Antes dos caules. Antes que a árvore seja alta, grande e corpulenta demais para ser arrancada sem a ajuda de um motosserra de verdades e nãos ouvidos na cara.

Acho que o destino de quem já deu topadas demais, recebeu pés na bunda, ou, sei lá, foi feito de trouxa, fantoche e boneca de pano, é essa incredulidade. Esse, digamos de um jeito eufêmico, ceticismo. 

Todos os dias, qualquer um que você seja capaz de imaginar, entre primeiro de janeiro e os infindáveis outros sábados e domingos, sonho. Durmo para descansar disso. Durmo para, digamos assim, dar um tempo nessa de imaginar, querer, desejar, almejar, pensar, sempre, em, querer, mais, em, querer, por favor, ir, além.

Quando a noite me vence, e o sono é mais pesado que os anseios e medos, todos misturados em insônia, é aí que eu não sonho. Não que eu não veja o mundo colorido de olhos fechados, mas, simplesmente e objetivamente, não me lembro dos meus sonhos. E, justamente quando todos sonham, eu só durmo. Sou uma espécie de ser humano às avessas. Não preciso do sono para sonhar. O faço com destreza, de olhos bem abertos. 

Na verdade, acho feio culpar os outros, sempre eles, por tudo que passamos. Por tudo que nos fizeram passar. Cada um recebe talvez, segundo um tal dito popular, o que merece. Quem sabe, em um universo paralelo, eu tenha plantado, e só agora venho colhendo esses frutos. Ora doces. Ora azedos. Ora estragados. Ora, só, hora. Tempo. 

Ainda que os sonhos me alcancem, me sinto como um maratonista. Alguém que vive se preparando para correr com todo o gás, em busca de um pódio. Em busca de um primeiro lugar. Em busca de deixar de lado uma vida de pessimismos, incredulidades e segundos, terceiros, décimos, quartos lugares. 

Só, rio.

Ainda vou chegar lá. Eu sei. A gente sabe. É que às vezes o mundo pesa tanto. Tudo parece tão escuro, difícil e inalcançável. As pernas, os braços parecem curtos. Curtas. Sonhos. Filmes que ficam passando na mente. No silêncio dos meus inquietos pensamentos.

Deixa pra lá. Hoje, ou só por hoje, vou fazer de conta que sim, que está tudo bem, tudo certo, tudo, ok. Fúteis expectativas. Coisas que enchem a gente de verde. De esperança. De querer, querer. Coisas que nos obrigam ou fazem acordar, todos os santos dias, para enfrentar mais uma (segunda-terça-quarta-quinta-sexta)-feira e batalhar por essa menina dos olhos chamada comumente de Felicidade.













Adaptação do texto "Beatitudinem, do latim", escrito por Matheus Rocha em: http://www.neologismo.com.br/2015/03/beatitudinem-do-latim.html

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Ninguém pediu amor


  Amor não correspondido é como uma batida de carro: dois corpos em colisão e o que vai determinar a intensidade é a velocidade e a força com que eles se chocam. Um deles vai bater mais forte e o outro vai sair mais ferido. Na nossa breve visão da situação, aposto que você pensaria em culpar quem rejeita e colocar o rejeitado – ainda mais se for você – num pedestal. Mas não, não deveria ser assim. 
  Eu demorei pra perceber isso. Vou contradizer muitos textos meus, mas a verdade é essa: Você deu e ele não quis. Engula o choro e pare de amaldiçoar o coitado: ele não pediu seu amor. Você embrulhou numa caixa de presentes e mandou junto com flores e bombons à moda antiga. Ela disse que não poderia aceitar porque não sente o mesmo. Engula a raiva e pare de maldizer a guria: ela não pediu o seu amor.
  Não sei se você percebe o lado deles, mas amar alguém que ama a gente pode ser um fardo ou uma dádiva. É uma dádiva quando nasce de dentro, quando vem uma coisa bonita e arrebata a gente – porque amor correspondido é arrebatador, transformador, expõe um lado que a gente não conhecia. E pode ser um fardo quando ele é carregado sozinho e entregue pra gente como se fosse obrigação nossa aceitar. Não, não é.
  Amor não correspondido é uma bosta, eu sei. Eu sempre me sentia um fracasso quando tentava, persistia, usava de todas as artimanhas e de todo o charme (que eu achava que tinha) pra tentar conquistar alguém. Não dava certo, caía fora de cabeça baixa, coração pesado e boca cheia. Reunia os amigos e contava a minha versão – é sempre a nossa versão dos fatos, nunca a verdade -, e dá-lhe encontrar motivos pra culpar o outro. Muitos sinais emitidos, muitas gentilezas trocadas, muitos convites aceitos e meu amor que é bom nada.
  Caro leitor, amor não é questão de mérito, nunca foi. Não importa quanto esforço você faça, não importa quão legal você seja: amor não é recompensa e nem prêmio de consolação. Você não vai encontrar amor como prêmio da Mega da Virada, nem na Tele Sena. Não vai pedir delivery num domingo à noite quando bater carência nem vai pedir num menu de algum restaurante descolado do Mirante Gourmet.
  Então pegue a caixa na qual você guarda esse amor todo e tenha plena consciência de que pode oferecê-la pra quem quiser. A recusa não é grosseira e é uma possibilidade recorrente. Não é falta de delicadeza, muito menos atestado de babaquice. É só alguém dizendo que não rolou, que aquela chavezinha que roda aqui dentro quando se ama, quando se quer por perto, não rodou. Não rodou por você, obrigado e volte sempre.
  Antes de maldizer o mundo, os fundos e a falta de amor, pense duas vezes. Por você e por quem recusou a oferta. Um dia você é recusado, no outro recusa. O lado bom disso é que a gente não precisa fazer recall do produto (e nem encarar uma fila de espera de 40 minutos a 1 hora pra entrega, como se fosse pizza). Se você encarar dessa forma, as chances de se sentir machucado são bem menores. Até porque o mundo não se divide em vítimas e agressores. Num acidente de carro, por exemplo, o motorista não tem culpa se você se jogar contra o carro dele numa avenida movimentada. O estrago é por conta e risco seu. Todo seu.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"Ele quer alguém"



            Nem ele acredita mais, mas é claro que ele quer.
Pergunte a qualquer um de nós o que queríamos ser quando crianças, ninguém vai dizer: “Eu sonhava em ser um cara bonzinho”. Homens, quando criança, querem ser corajosos, valentes, usar sua força por alguma causa, desejam viver uma aventura. Não é a toa que as brincadeiras giram em torno de competições e lutinhas - “Quem é o mais forte? Quem é o mais corajoso dentre os meninos da rua?”
Mas parece que essas coisas não importam mais hoje em dia. Diariamente homens são bombardeados e domesticados com textos do tipo: “O que o homem perfeito precisa ter”, “10 qualidades de um homem pra casar”, “Fique com um homem que...”. Vê? Cadê sua força? Sua coragem? E esse é o problema: Ninguém mostra para ele que ser apenas o que esses textos falam, faria dele o cara mais sem graça do planeta. E ele não é sem graça. Um relacionamento que ele entraria, mas acha que não existe mais, não precisa só de bondade, mas de coragem, de força e, com certeza, de aventura.
Por isso não surpreende que ele troca a aventura a dois pela aventura sozinho. É mais fácil. Ele não quer perceber que se abriu para alguém, e quis alguém pra valer, mas não tinha o necessário. Que só cumpria 7 das 10 qualidades necessárias. Que não era o cara perfeito para ela. Mas será que não era?
Então ele continua, como diria a música, de copo sempre cheio e coração vazio. Afinal é mais fácil agradar o dono do bar. Ele quer alguém, claro que ele quer, mas acima de tudo, ele quer ser quem ele é - e não só bonzinho.





Por Celio Heitor Sordi em: https://www.facebook.com/acopy.me?fref=ts


"O que aconteceu com os relacionamentos leves?"


O status do whatsapp dela diz: “Ou você soma, ou você some” e na capa do grupo das amigas a foto do abdômen mais trincado que pode existir. Logo pela manhã ela leu as “10 coisas que um homem para casar precisa ter”, já ele, enquanto perambula pelo “adote um cara”, resolveu mandar uma piada sobre ex-namoradas no grupo dos amigos. Ela é interessante, ele também é, não é a toa que combinaram um jantar. Mas quando seencontram, nada flui. Claramente algo está errado.
Eles não perceberam ainda, mas a era dos relacionamentos leves está acabando.
É complexo. Dê uma flor hoje em dia e você está sendo afobado, queira pagar pelo jantar e temos um machista retrógrado. Todos desconfiam de tudo. Estamos nesse campo de batalha chamado “você não presta”, armados até os dentes de “esse filme eu já vi”. É como se todos tivessem criado o dom de identificar facilmente os canalhas e as fúteis, mas não se aproximaram nenhum passo sequer da maturidade emocional. Ninguém de fato está preocupado em ser melhor, ou em criar consciência. Todos só têm argumentos.
Minha geração é a menos paciente, flexível e amorosa de todas. Não confia, ou se apaixona cegamente mais, não antes de vasculhar os amigos em comum. A geração especialista em achar pelo em ovo anseia pelas agulhas do palheiro, mas quando as encontra, não tem nada para costurar.
Eu me pergunto se as pessoas deveriam ser tão entendidas assim sobre o que julgam não querer. Talvez a menina das “10 coisas que o homem pra casar precisa ter” jamais as encontre em alguém, mas, caso se permitisse, encontraria outras 100 qualidades ou mais. Na mutação dos gostos, sentimentos e opiniões, não correr atrás do que parece perfeito, mas do que faz bem, é quase um ato de heroísmo. Mas para isso, no “soma ou some” da vida, a soma ainda precisa ser uma operação entre dois.







Por Celio Heitor Sordi em: https://www.facebook.com/acopy.me?fref=ts

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Se eu pudesse voltar





Se eu pudesse voltar nossa história eu deixaria em câmera lenta a hora em que você se aproximou pra me dar o primeiro beijo ali debaixo da cascata daquela piscina. Se eu pudesse voltar, eu te faria sorrir mais. Se eu pudesse voltar, eu ia te ver todo dia. Se eu pudesse voltar, eu te levaria mais vezes no cinema, eu passaria mais tardes de domingo ao seu lado, eu te faria mais massagens. Se eu pudesse voltar, eu não deixaria brechas pra você não me querer mais, eu faria quase tudo diferente. Se eu pudesse voltar, eu não teria chorado na sua frente depois do beijo de despedida, pois ele nem existiria. Se eu pudesse voltar eu não morreria de saudades afogado nas lembranças das nossas noites de amor. Eu não teria feito as besteiras que fiz tentando te reconquistar, nem teria te odiado com o boato que espalharam. Se eu pudesse voltar, esse texto seria uma página em branco.
Espero que você tenha alcançado suas tão sonhadas independência e estabilidade financeira. Espero que tenha colocado uma rede na sua varanda. Espero que tenha, finalmente, comprado um sofá. Espero que tenha consigo colocar uma TV na parede do quarto. Espero que não tenha endireitado aquele seu dente torto super sexy. Espero que tenha ajustado sua tatuagem, ou até feito outras. Espero que não tenha mudado aquele seu creme anti acne que deixa o cheiro no apartamento todo. Espero mesmo que esteja feliz. Sabe, tenho tanta coisa nova pra contar. Muitas músicas novas pra te apresentar, muitos filmes novos que você iria gostar, novas piadas das quais só você iria rir, novos lugares que eu gostaria que você visitasse comigo. E, apesar de não querer, espero que você tenha encontrado alguém que consiga fazer tudo o que eu não fiz, alguém que não acabe escrevendo um texto sobre querer poder voltar no tempo.