terça-feira, 7 de abril de 2015

Sobre o amor e o medo

Uma vez você me disse que tava indo embora e que tinha que fugir de mim. Tava tudo bem, eu até entendia a despedida. Mas a fuga? Nunca entendo. Você falava que eu era um desses homens-bomba prestes a explodir alguma coisa dentro de você, prestes a te prender numa emboscada. Se o Molejo tivesse pensando na gente, teria sido amor e também cilada.
Falou debaixo dos Arcos e me empurrou, me mandou pra longe enquanto todo mundo via o circo que era a gente. Só faltaram os aplausos, mas juro que a bateria de escola de samba que era o meu peito deu conta dessa falta. Quantas cores você enxerga comigo? Eu vejo muitas, eu vejo várias, eu vejo você refletindo a chuva e brilhando num prisma multicolorido que muda as coisas. Sinto isso quando deito contigo numa cama apertada no meio do litoral, sinto isso quando você me liga embriagada e me manda sumir, me manda ir embora logo antes que eu destrua tudo, antes que a gente se exploda porque você não pode, você não quer isso agora, tá tudo muito certo pra outra bomba. Então você foge.
Foge e não tem sentido nenhum. Certo? Porque você tá fugindo do que te faz bem. Tá fugindo porque “agora não é hora”, “talvez você esteja enganado”, “e se você for embora, como é que eu fico?”, “você não quer o mesmo que eu” e blá, blá, blá. Você é todo um Hades de vozes semiloucas gritando pra não me querer porque, bem, você já quer. E eu te quero tanto. Quero pra caramba. Quero a ponto de implodir sozinho só pra não deixar nenhum caco meu cortar você.
Sou bomba, sim, confesso. Mas é porque eu quero te fazer botar pra fora tudo aquilo que você cala. Exterminar essa coisa quieta e calma que você guarda, essa coisa comedida de viver a vida (que na verdade é medo). Você fala como se tivesse que se desculpar por tudo e pelo mundo, mas não tem, nunca teve. Não tem que se explicar pra ninguém, não tem que pagar a conta do bar pra deixar ninguém feliz. Você precisa seguir essa porcaria desse teu coração, intuição, sentimento, dor de dente ou como você quiser chamar isso que sente. Segue, você vai ver que aponta pra mim porque o teu norte sou eu. E é por isso que eu venho, que eu chego num cronômetro decisivo, sempre mais perto, torcendo pra você não cortar o fio vermelho. Eu só explodo se você deixar. Explodo e mudo o seu mundo inteiro. Você vai ver.
Sou bomba, meu bem, mas não pra te machucar. Eu faço alguma coisa que reverbera aí dentro que te faz perceber que essa praia é mais bonita de noite, que as luzes da Orla deixam a cidade mais romântica e pronta pra gente andar meio bêbados por aí. Te disse noutra noite que eu sou d’um tipo equivocado, que se desculpa o tempo todo, que veio mesmo é pra fazer estrago. Não foi a maconha ou o álcool, não foi influência do amigo de azul que não parava de falar do bosta do Foucalt, mas foi você. Foi você me afastando e correndo como se batesse a meia noite e o pedido se desfizesse. Mas não esquece o sapatinho de cristal e fica. Se esquece inteira e se lembra de mim amanhã mesmo com dor de cabeça e aspirina.
Já pode parar de fugir de mim, porque isso tudo é medo.
Eu posso até me afastar, ir embora, implodir em outro lugar. Respeito se você não me quiser. Mas.
Nunca tem fuga quando a coisa da qual a gente foge mora dentro da gente.
Tic-tac-tic-tac-tic-tac.


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