domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre o Heroísmo Invisível



Não pratico o Bem para aparecer ou ser uma pessoa melhor. Faço as coisas longe dos olhos da vaidade porque a partir do momento que seja uma obrigação ser alguém bondoso, educado, heróico ou qualquer coisa do gênero, não serei mais eu quem o faz, mas apenas mais um produto do meio em que vivo. E, sejamos francos, não tem sido uma convivência pacífica.

Diante de tantos heróis de TV, de periódicos, os verdadeiros heróis, anônimos, são invisíveis. Apenas faço a minha parte (mesmo com todos os meus defeitos, claro!). Ao escrever isso, por desabafo, não pretendo fazer parte dos conhecidos, mas alertar aos invisíveis, como eu, que estamos juntos, fazendo o Bem acima de tudo, porque haverá sempre alguém que merece. Talvez esse alguém ainda não tenha nem nascido, mas poderá vir a um mundo um pouco mudado, preparado pelas nossas esperanças. E "esperança" não é uma espera sem sentido. É uma "pausa nos sentidos”, para que possamos agir na hora certa.

Agi. De coração tranquilo. E, mais uma vez, invisível, não fui notado. Quer saber? Eu quase me angustiei. Quase fiz o contrário do que preguei. Mas, parei. Pensei. E aqui estou. Disposto a fazer tudo de novo. Agradecido por não ter me corrompido pela ilusão da vaidade. Do gritar para os quatro cantos, quase me justificando pelo que foi feito, numa publicidade desnecessária. E me perder, mais uma vez, nas luzes de algo distorcido, mas rotulado de fama. Não apenas trevas cegam os incautos. Assim também fazem as luzes, se mal utilizadas. Que o digam motoristas, em noites de chuva forte, enfrentando os desafiantes (e irresponsáveis) faróis altos dos outros autos...

Será que só podemos fazer algo de bom para quem vale a pena? E o que é valer a pena? É não ter defeitos? Não ter vícios? Só fazer o Bem? E as pessoas que não sabem que podem valer a pena? Será que estão no mundo apenas para atrapalhar? Fazer o Mal? Lutarem contra “nossas” verdades? Reflitamos. É para isso que serve o período de fim de ano e não apenas para gastarmos bônus de férias e décimos terceiros salários. É muito mais do que consumismo. É muito mais do que já fizemos até esse momento.

Temos a chance de mudar. De sermos nós mesmos, sem ferir o outro. De sermos contra algo, mas saber explicar tal opinião. De convencer o outro sem ameaças, nem intimidação. De querer a mesma coisa, mas de forma diferente, no final das contas. Porque todo mundo só quer ser feliz. E felicidade é ficar bem, mesmo que a felicidade seja do outro. Precisamos ter paciência para que esse sentimento chegue logo, com esforço e dedicação. Porque até a chuva precisa de outros estímulos para cair. Ela simplesmente não cai do céu porque a terra merece. Se assim fosse, não haveria tanta seca em nosso país. Se fosse assim, ninguém valorizaria o que faz. E ninguém seria exemplo para ninguém. Ninguém se importaria com ninguém.

Reflita. Se isso for difícil para você, pelo menos comece preocupando-se por si mesmo. E o faça bem. Bem feito. Quem sabe, assim, as coisas melhorem, de forma invisível, tão mágico quanto um nascer do sol ou um crepúsculo (porque nem todos presenciam esse espetáculo). Veja a natureza, bem mais insistente que todos nós juntos. E somos bilhões. Seis bilhões de motivos para ela desistir. Mas ela não o faz e continua. Como cada um de nós também pode fazer. Apesar das adversidades; apesar das agressões contra ela; até pela ausência de ações a seu favor. Se o objetivo é melhorar, vamos nos empenhar. Porque se você quer, você consegue. De uma forma ou de outra. Mas é preciso acreditar. Ninguém nunca vai fazer isso por você. Cada um terá sempre algo (melhor) para fazer. Por si. E assim, segue a vida, gira o mundo, dia a dia, sem parar. E assim, sigo eu, passo a passo, lentamente, para não me cansar.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Sobre como anda minha vida (inútil) sem você



Ligaram hoje mais cedo de alguma seguradora qualquer e perguntaram por você. Me reviraram inteiro ao pronunciar o seu nome com todas as letras e com a invasão típica de quem não sabe o que aconteceu:  ''Ela está?''. Está. Ela sempre esteve aqui, até mesmo quando não estava mais. Infelizmente, você não pode falar com ela. Não vai conseguir encontrá-la em outro horário qualquer e isso já faz algum tempo. Eu também me pego pensando se ela deu uma saída e vai voltar mais tarde. Mas nem é balela de quem quer dispensar o telemarketing persistentemente chato. É só que ela. Ela. Você não está.
Eu continuo trocando os sacos de lixo religiosamente às seis. Só cortei o cabelo porque a sua mãe passou aqui na semana passada e praticamente me obrigou a reagir. Ando comendo bem também e até comprei umas frutas pra colocar na fruteira da sala. Não espero que alguém venha me visitar, mas você queria a casa sempre aberta e apresentável. Acho que entendem a minha dor como arrogância. Como se eu nunca tivesse tido o direito de sentar um pouco, trancar os cadeados daqui de casa e ficar sozinho no escuro, sem som nenhum, até a dor ceder, até adormecer. Eles confundem a necessidade de digerir tudo com solidão. Antes fosse só solidão e umas pílulas pra dormir. Antes fosse só insônia das brabas e umas sessões de terapia pra resolver. O que eu perdi não criou trauma, nem sequela aparente. É que não dá pra fingir que nada aconteceu ou que, pior, passou. Eu não passei, meu bem.


Eu convivo com a falta. Os meus demônios me deixaram aqui depois que você me deixou aqui também. As coisas quase pararam depois daquela terça-feira ensolarada. O dia tava ótimo e dava pra gente ter pegado uma praia, matar o trabalho, fugir dos celulares e tudo o mais que a gente costumava fazer. Mas não deu. Era uma terça-feira diferente num corredor estreito com o coração mais estreito ainda na mão. Quase precisei de um desfibrilador quando os médicos vieram. A visão apagou, a audição acompanhava um ritmo constante de quem tinha acabado de desligar o que me mantinha vivo. Deitei no chão e só acordei quando já tinham tirado você de mim. Se você fosse, lembra que eu não iria aguentar ficar aqui também?
Continuo assistindo aos mesmos programas e evitando dar de cara com as suas tomografias espalhadas pelos armários da casa. Não mudei nada de lugar e nem quero jogar nada fora. O que você foi, fica. Eu não quero esquecer, eu não quero tratar de seguir em frente. Porque eu tenho certeza de que eu seria uma pessoa pior pra mim – e pra você – se eu jogasse tudo fora, pintasse as portas, limpasse as botas… Sem você a falta cresceria mais ainda e me devoraria. Me engoliria a seco. De uma vez só. Sem nem respeitar a minha dor como os outros, que pisam em ovos quando falam do seu nome. Eles não gostam de me revirar. Só querem mesmo é me expulsar de você por alguma razão benéfica que a minha razão desconhece.
É só que, por favor, não me deixa aqui sozinho. Eu prometo não pular o muro do vizinho e prometo me comportar bem. Eu paro com as piadas de mau gosto, aceito me mudar pra alguma cidadezinha de campo e tiro a barba se você quiser. Eu paro de roncar, começo a beber menos cerveja e até assisto as novelas do seu lado. Te levo pra jantar naquele cachorro-quente que você queria conhecer, te empurro de supetão na piscina e faço a massagem de todas as noites por mais tempo. Eu vou me agarrar a cada parte de você e você vai até enjoar da minha cara, ou vai rir de como eu sou bobo, ou vai bater alguma foto espontânea da gente caindo no sofá, ou vai me dar um filho e a gente vai escrever um livro muito bonito sobre como tudo isso passou e a gente passou também e… A gente não passou, meu bem.
-Posso falar com ela só um pouco?
- Pode, mas não demora. 
-Ela precisa descansar? 
-Ela não vai conseguir falar muito.
- Mas ela pode me ouvir? 
-Pode, mas não demora. 
E eu continuo me lembrando de quando o médico me deixou sozinho com você. Foram as últimas três palavras que você conseguiu pronunciar antes de arfar um pouco e da enfermeira recomendar que eu te deixasse sozinha por conta dos sedativos. Foi o último beijo na testa e a última vez em que a falta não se fazia presente. E, depois da ligação de hoje e de terem me revirado por inteiro, eu vi que do avesso eu sou inteiramente você. E que a falta é o meu choro escondido vendo algum canto perdido na cidade. Tudo ainda é sobre você. Até mesmo essa minha vida, que era pra ter sido menos ordinária se você ainda estivesse aqui.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sobre quem prefere ser racional



Foi se esconder dele. Deu uma volta pelo mundo, conheceu mais do que queria e muito menos do que devia. Pegou sereno numas noites parisienses e torrou em temperaturas descomunais nas praias da Nova Zelândia, ambas as situações agravaram a alergia dela. Ficou de cama. Leu alguns livros. Aprendeu a falar chinês e fez um retiro de alguns meses. Ficou mais leve e bordou nomes inteiros em toalhas durante sua estadia em casa de campo. Correu sem camisa na chuva e foi repreendida. Nadou nua num lago qualquer e foi admirada secretamente por estrangeiros que não falavam a sua língua. Provou línguas que não eram as que tinha provado de costume. Se encantou com sabores – da culinária e do suor salgado de outros caras. Beijou algumas mulheres e descobriu que os toques femininos possuem uma maciez sem igual. Se espantou com o primeiro orgasmo dado por mãos gentis e menores que as suas. Pulou carnaval fora de época e resolveu tirar a fantasia pra viver quem era de verdade. Pintou o nariz de palhaço e outros o pintaram para ela sem que tivesse pedido. Andou em cordas bambas. Se desequilibrou tantas vezes e em outras tantas foi chamada de louca mesmo que tivesse conseguido se manter em pé. Cavou buracos, algumas covas e enterrou fantasmas. Chamou seus demônios interiores prum papo num café. Acabou levando alguns deles pra cama e outros pra ver um filme no sofá por falta de companhia.
Lembrou que tinha medo do escuro e quis ligar pra ele.
Acordou com a água batendo no nariz e sufocou. Aprendeu a nadar e pensou ter encontrado algum tesouro no fundo do mar só pra justificar a aventura dessa vez. Secou os cabelos quando saiu do banho e largou a toalha molhada em cima da cama. Gostava da desordem dele. Calçou os dois pés errados e descobriu que ser bobo tem seu lado bom e ruim nessa vida. Jogou algumas roupas fora depois de uns dias de corrida. Parou de encolher a barriga e conheceu a família de alguns homens bons. Não parou com nenhum deles porque nenhum deles a fazia parar. Continuou correndo. Dessa vez, não sabia pra onde. Girava o mundo e o mundo parecia fazê-la parar sempre no mesmo ponto de partida. Renovou o visto e podia ter ficado em qualquer lugar do mundo que quisesse.


Do bigode sujo e da tampa levantada. Dos assuntos monótonos e da inteligência recatada. Da barriguinha conservada de chope e do jeito que a carregava no carona da bicicleta. Da negação dele em usar carros pra salvar o meio ambiente. Gostava até dos defeitos que a fizeram ir embora e bater a porta e atravessar a rua e desligar o telefone e pegar um carro e cair no mundo e se encantar com fotografias e dar um adeus sem despedida. Gostava mais dele do que das reticências que tinha estipulado pra sua vida. Fugia porque gostava dele e de todas as coisas que havia sobre ele. E em cada lugar que ia, guardava um pouco do que ela tinha sido pra não se esquecer de quem ele era. E conseguiu esquecer-se dele. Quando se deu conta disso, entendeu o porquê de fugir tanto assim.
Ele a amava. E ela, depois de conhecer o mundo e ver de tudo e de todos, sabia que faltava algo nela. Era ele. Mas ela decidiu deixar pra lá, como fazia em todos os fins de tarde. Mesmo que isso arrancasse dela um pedaço seu todos os dias, preferiu ser ''racional'', vestiu a armadura do orgulho e seguiu sua viagem pelo mundo.
Para quem não sabe: Em tudo, tudo, tem que haver equilíbrio. Até o bem e o mal devem existir na mesma medida.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Minha Última Carta de Natal.







Dá uma olhada por trás do ombro e dá meia volta, por favor. Ô, meu bem, desde quando o orgulho vedou seus olhos? Deixa que eu te ajudo a arrumar a árvore desse ano e dos outros. Deixa que eu embalo os presentes e te embalo num abraço apertado, daqueles com começo, meio e nenhum fim. Deixa que eu brinco de ser seu amor secreto, revelado, escondido ou o que quer que seja desde que eu seja o seu amor. É só você deixar.

Deixa que eu me comporto à mesa e escolho os talheres, os destinos, as viagens e as palavras corretas. Prometo surpreender você e qualquer um que duvidar que eu possa ser capaz de tratar a sua felicidade como se fosse minha.  Deixa que eu paro de insistir e implicar com você, com as caretas, com as canetas sem tampas e com os filmes que você escolhe pro cinema. Deixa que se for pra me descompletar, eu faço isso sozinho. Com você eu sou quebra-cabeças sem solução porque venho simplificado numa peça que só você entende.

Deixa que eu não limpo as bochechas e deixo o seu beijo por lá, que é pra marcar território e levar de lembrança por onde eu for. Deixa que eu deixo a marca de alguma aliança nos dedos pra poder contar repetidas vezes a nossa história a algum conhecido que pergunte. Deixa que eu não vou mais pra longe que é pra não morrer nem matar de saudades. Deixa que eu fico pra sempre – ou venho sempre que você quiser.  Deixa que eu largo um presente de surpresa pra você abrir quando acordar. Que eu quero ver a sua carinha se encher de alegria quando vir que alguém lembrou de você na manhã de Natal.


Deixa que eu vou ser um bom menino na frente dos seus pais e quando você precisar também. Que eu ocultarei a parte ruim pra você desconhecer meus monstros, apesar de desconfiar que eles se escondem debaixo da nossa cama. Deixa que eu me mostro quando você pedir por um pouco mais de sensibilidade. Deixa que eu te dou um beijo embaixo de um visco que é pra espantar o mau olhado e conquistar você de vez. Deixa que dessa vez eu me desculpo por ter deixado você me escapar. Deixa que dessa vez o meu pedido é sincero e se reproduz nos outros trezentos e sessenta e quatro dias. Deixa que eu só vou escrever mais essa carta pra você – e espero que dessa vez você leia, e não descarte como as outras mil.
Deixa que eu resgato as tradições de todos os anos, mesmo que confunda o bom velhinho com o coelho da páscoa ou com a fada do dente. O meu pedido aqui é sempre você. Desde que algum deles te traga pra perto, eu não me importo com as superstições.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mulher-Folhetim




O desespero é comum no meu dia a dia com ela. Ela vira de costas, e eu sei que promete a si mesma nunca mais voltar e nunca mais girar a maçaneta a meu favor. Os arranhões abertos no meu braço são a prova da visceralidade dela. Tão intensificada que não cabe na própria história e resolve invadir a minha – com pólvora, saliva e um pouco de dor. Ela não respeita a privacidade das portas fechadas. Desliza pelo banheiro como se ninguém existisse ali – nem ela mesma. Acho que ela despreza a sua própria presença e odeia a sua companhia. Mas, pra não ser mesquinha, finge conviver bem com os fantasmas da sua cabeça. É uma dessas mulheres que não cabem em si mesmas, tem manias comportadas e desejos íntimos que representam perigo a qualquer um que esteja num raio de distância inferior à raiva dela. Ninguém nunca sabe o que ela sente  e, se sente, o motivo de tanta amargura e de tanta compaixão quando mistura lágrimas ao sangue das tentativas frustradas de ir embora de vez. Se eu me corto sem querer com a lâmina de barbear, ela se corta pra conseguir algum torpor animalesco. Não sabe lidar com a falta, e muito menos com a minha ausência.Ela só se encontra nos frascos sem receituário que consegue de maneiras ilícitas. Para além dos frascos, um outro mundo de pequenas doses de sossego. Respira fundo,rasga a pele, fecha os olhos e vê o mundo que conhece se deslocar prum lugar muito distante do que ela está acostumada. É o seu jeito de encarar as coisas e de admitir que não tem solução. 
Meu bem, eu tento te proteger de você mesma. Você é uma dessas bombas-relógio prontas para explodir a qualquer momento. E eu tento, em vão, te desarmar. Tento cortar os seus fios vermelhos antes que você nos exploda por aí e acabe de vez com o que resta de duas almas saturadas pelo tempo e por essa coisa que a gente explica como obsessão. E, num ímpeto de loucura, ela some. Alguns diriam que é a parte mais consciente e coerente dela. Eu procuro em todo canto, todas as vezes, nas mesmas ruas e nos mesmos becos movimentados. As luzes da cidade se apagavam, mas eu tinha a certeza de que os olhos dela não se fechavam. Eu imaginava coisas. O escuro só representa perigo pra quem tem alguma dívida com as vozes da cabeça. Acho que nós dois somos sempre pegos na armadilha das suas fugas. Eu, entorpecido, me desoriento por aí gargalhando em altos tons e desconhecendo você em rostos e saltos e cores de batons que não são seus. As caras borradas que me olham parecem ter medo de mim. Será que você também se sente assim durante a nossa obsessão? Achei beijos que não eram seus e não pertenciam a outras mulheres-folhetins. Só que eu sempre te encontro, parada exatamente no ponto de largada, esperando colo, algumas palavras e o sono conjunto que vem pra trazer o nosso tormento de volta. No fundo, eu e você sabemos que eu não te tenho. E nem você mesma é dona de si. Você é uma dessas mulheres-folhetins do Chico. No pior sentido do termo. No extremo mais perigoso da coisa. Você nunca foi feita de estar, você é feita de ir.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Para o amor da minha vida




De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista. E se já comecei pensando assim, boa coisa não vai sair dessa minha carta. O fato é que eu ando meio desacreditado, achando que toda a minha vida amorosa e essas coisas que a gente pode englobar nela são todas uma fraude. Eu sou uma fraude, pra ser exato. Escrevo sobre amor, faço os outros acreditarem e nem eu mesmo acredito numa única palavra que sai da minha boca. Mas hoje eu estava pensando e cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinho, pelo menos. Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que você tenha cabelos pretos, ruivos, castanhos ou que tenha cabelos loiros, olhos verdes e lábios rosados, como a moça que apareceu pra mim num sonho estranho hoje de manhã. Que eu perceba cada detalhe seu. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a recepcionista daquele restaurante que eu gosto, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe. Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu não sei dançar, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu adoro o cheiro de queijo ralado, de grama recém cortada e do mar. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, nas transas, aos minutos de ligações intermináveis. Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você. Que eu possa te levar café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça. Que você não desista de mim. Ou até desista, mas depois volte atrás. Que você entenda que posso te dar o mundo, mas que você precisará vez ou outra me mostrar que também quer me dar. Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando subir no altar.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa te ajudar a realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz e os seus sinais. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida.

Um sonho misterioso

Eu não sou uma pessoa que sonha muito. Não quando estou dormindo. E sempre que sonho eu sonho que eu sou o mar. Sonho que entro no mar e me torno parte dele. Mas hoje tive um sonho diferente, um sonho misterioso. Eu estava de frente pro mar, como o habitual. Mas antes que eu entrasse um homem me chamou. Eu não via o rosto dele, mas consigo lembrar da voz. Ele tinha vestes brancas e uma áurea brilhante. Não sei se era um anjo, não sei se era uma mensagem de deus me cobrando por eu estar andando tão sem fé. Simplesmente não sei. Ele me disse que tinha morrido hoje de manhã e que estava livre de todas as dores. Ele me disse que logo estaria em um lugar de paz eterna, trabalhando como médico dos espíritos sofredores, mas que precisava me mostrar algumas coisas. A praia estava deserta, como sempre. Mas quando nos viramos um mundo de coisas estava acontecendo. Dois cavalos correndo na areia, dezenas de livros espalhados no chão, um divã preto, uma meia dúzia de tijolos, uma mesa de café da manhã, pássaros voando próximos aos cavalos... uma música tocava...tento lembrar qual era mas não consigo...e do meio de tudo saiu uma moça. Essa moça era quase da minha altura. Lembro dos cabelos loiros, dos olhos verdes e dos lábios dela. Ficaram bem guardados na minha mente. Mas não lembro do rosto. Apenas lembro que todo aquele movimento na praia parou por alguns segundos enquanto eu fitava os olhos dela. Como num filme, tudo voltou a se movimentar normalmente, como se nada tivesse acontecido. Ela veio em minha direção. E então o homem me falou: daqui há alguns anos os caminhos de vocês irão se cruzar. Vocês sofrerão muito até lá, irão crescer, irão aprender. Mas tudo isso levará o caminho dela até o seu e o seu até o dela. Ela então sorriu, montou em um dos cavalos e sumiu no horizonte. O homem então apoiou a mão em meu ombro e me falou que eu teria que me preparar para os anos seguintes. Que eu fosse forte, que eu não perdesse minha essência, que eu encontraria o que estava destinado pra mim. E assim, com um simples lampejo, o homem sumiu junto com todas as outras coisas. E lá estava eu novamente entrando no mar e me tornando mar, como sempre.

Sobre a realidade envolvendo mulheres e ''caras legais''



Eu sempre admirei muito aquelas garotas que davam foras diretos, do tipo que você não teria mais dúvidas do que elas sentem por você. Mas, como sortudo que sou, sempre me deparei com o tipo de garota que resolvia exaltar a pior qualidade que eu tinha em meus tempos infanto-juvenis, e talvez ainda tenha: ser um cara legal.
“Caras legais” é a raça poodle pra toda mulher. É o cara que vai ajudá-la naquela prova de álgebra linear em que ela não sabe nem somar, vai levá-la pra ver aquele filme que ninguém quis ver com ela, vai fingir que gosta de ouvir o que ela fala só porque está interessado ou, na pior das hipóteses, porque gosta dela. No final das contas, ela vai passar a mão na cabeça, deixar de lado e partir pra outra.
Parece equivocado o que eu estou dizendo, que é lógico que não é bem assim, afinal de contas, que mulher recusaria aquele cara que faz tão bem à ela desta forma? A minha resposta é: todas. Todas as mulheres vêem na espécie de cara legal um tipo de porto seguro. E nenhum porto seguro serve como primeira opção de embarque de alguém. Uma mulher necessita daquela movimentação num relacionamento, seja por necessidade de emoção, por fuga, por querer se sentir em perigo ou por puro capricho. A verdade é que ninguém quer se ancorar naquela categoria estereotipada como certinho, como previsível, como perfeito demais pra ela.
E é por isso que a maioria das garotas acaba se apaixonando por aquele sujeito todo errado da vida. Porque ele oferece exatamente o que ela precisa, em tese, num relacionamento: a sensação de imprevisibilidade. Mas, enquanto está explicado o lado feminino da questão, o “cara legal” fica parado com cara de babaca enquanto a guria dispara para ele todos os adjetivos que ela tem a seu respeito. “Mas você é especial demais para mim, eu não quero ter nada com você pra não estragar isso.” “Mas você é foda, você é perfeito pra mim, não quero que seja assim…”
E por aí, o “cara legal” se desaponta e se questiona o porquê de ser legal. Ele se questiona se há algo de errado em querer alguém bem, em não pensar em ter algo com ela e nunca mais dar as caras ou fingir que não a conhece. O grande problema da frustração do “cara legal” é que a garota deixa uma espécie de expectativa. E eu juro que vejo que algumas delas não fazem por mal. Mas sabe aquela história que eu contei sobre ele ser um porto seguro? Então, é bem isso. Se nada der certo, ela se ancora nele antes que a tempestade faça o barco naufragar. Se nada der certo, ele é o contentamento dela com uma situação que ela não pôde mudar. Se nada der certo, ele é seu plano Z.
E não as culpo por ter essa visão do “cara legal” como raça menosprezada. Não mesmo. Só acho engraçado esse longo ciclo vicioso. Porque o “cara legal”, caso resolva atender às necessidades dela se tornando um grande filho da puta, acaba por sair da categoria poodle e chega à categoria Rottweiler: perigoso demais e babaca demais pra ela. Ele se torna exatamente o oposto do que ela queria. E o guri continua achando que o problema era com ele… Coitado de quem for pagar a conta do analista mais tarde.
As mulheres, em sua maioria, são hipócritas e têm prioridades muito banais num relacionamento, ou para poder iniciar um relacionamento. A grande moral da história é que aquela máxima do clichê “Não trate como prioridade quem te trata como opção” representa um grande beco sem saída pro poodleman.  Enquanto ele fica naquela dicotomia entre não saber o que fazer e não querer perder tudo de uma vez, a garota brinca de passear com ele no bosque e depois sai pra se exibir com o Pastor Alemão do vizinho. E ela só vai saber que o cachorrinho que a acompanhava fielmente era quem realmente importava no momento em que o barco naufragar e o porto seguro não for mais seu.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre sonhos e medos.




Eu tenho medo de deixar passar o tempo e não me ver nele. Tnho medo de olhar muito pra frente, ou muito pra trás, ou muito pra qualquer direção e  acabar esquecendo de me olhar no espelho, de reparar nas marcas do rosto, na espinha vermelha que não é tão aparente assim, nos contornos do nariz que vão se modificando ano após ano. Tenho um grande receio de me perder ao não saber mais dizer a cor dos meus olhos – ou pior: de não saber mais se eles ainda brilham por alguma coisa apaixonante. Sem contar com o medo de não ter rugas no coração.
As nossas motivações diárias acabam se tornando mecânicas, a gente vira script rodado de blockbuster da sessão da tarde. Somos iludidos pela premissa de que as rédeas da nossa vida são nossas de verdade. Se eu te perguntasse agora qual era a cor do céu de ontem à tarde, você não saberia me responder, mesmo que tivesse andado pela cidade o dia inteiro. Os edifícios cor de cinza ultrapassam o campo de visão, agora nós é que somos cinzas. Deveres e responsabilidades tiram o lugar especial que os sonhos tinham. E a fantasia que proporciona catarse e dá alguma razão à vida se torna um vazio sem esperança. A gente vive pra quê?
Uma das minhas grandes frustrações dos dias corridos: não vou mais a festas infantis como antes. Aquele colorido constante e as correrias de crianças foram extintos. As vozes minúsculas agora nos tiram a paciência, irritam pela inconveniência. E o que eles dizem não importa porque nós alegamos que eles não sabem o que dizem. Aquele nosso olhar marcado encara os pequeninos com superioridade. E quem me dera que essa superioridade fosse apenas por causa da diferença de altura. Mas nós acabamos por nos tornar tudo aquilo que negávamos ser: descrentes no que realmente queremos viver. E me assusta que nossos sonhos sejam tão descartáveis quanto os copos plásticos ou a decoração da mesa dessas mesmas festas infantis que paramos de frequentar.
Nós negamos a nós mesmos o direito de acreditar e aproveitar a diversão por ela mesma. A espontaneidade infantil é perda de tempo pra nós. Corredores que somos, acabamos esquecendo qual é a corrida que vale a pena. Mesmo que a corrida exija que paremos um pouco pra respirar ou que mudemos de via no meio do caminho. Meu receio é de que estejamos postergando os nossos sonhos – aqueles elementos do imaginário que são associados diretamente a nossa felicidade – e colocando ações mecânicas sem sentimento nenhum no lugar deles. A gente se esconde atrás das obrigações sociais e as utiliza como desculpas pra depois. São os nossos 5 minutinhos diários a mais. Parecem inofensivos, mas têm efeito retardado: somam-se às obrigações e fazem desaparecer as nossas vontades mais inofensivas e espontâneas. E, com isso, a tal da felicidade também vai embora.
Lembro ainda que, quando criança, eu tinha um medo danado do escuro. Era só fechar os olhos que a imaginação me fazia ver um mundo de possibilidades que variava de monstros a seres especiais de outras dimensões. Mas agora os medos se foram. E junto com o escuro, a imaginação também se foi. Sonhos não mudam, caro leitor. O que muda é a cabeça do sonhador. Aos 10, aos 20, aos 35 e aos 50. E a gente parece se esquecer disso e continuar com o campo de visão limitado num ângulo pouco menor que 90 graus. Minha dor é não conseguir mais ver além dos meus olhos – coisa que já tem acontecido há algum tempo. E nesse meio tempo, eu tenho medo de me perder dos sonhos encaixotados, da infância risonha, da espontaneidade diária e de tudo aquilo que foi feito pra fazer girar a vida. E você, meu amigo leitor, tem medo do quê?



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Sobre a vingança




Imagine uma pessoa que fala pelas costas, engana os outros e é desleal com você. Sua primeira atitude diante da descoberta do mau caratismo dessa pessoa é tentar revidar, mostrar o quão injusto ela foi e em alguns casos passar anos remoendo aquela história numa tentativa de reaver sua paz de espírito. Honestamente, não consigo ver a utilidade em ficar brigando mentalmente com alguém que me fez mal, ainda que eu saiba que essa é a estratégia típica de nossa mente preguiçosa. Sim, preguiçosa, pois o ódio é a maneira mais preguiçosa de lidar com um mal feito sobre nós. O ressentimento é um certo estado de covardia mascarada de justiça em que nos engajamos numa luta imaginária contra um inimigo sem alma. Qual o resultado disso? Anos gastos planejando vinganças que nunca se cumprirão, ou seja, energia emocional gasta de forma inútil quando poderia estar sendo usada para amar, brincar, se divertir e seguir em frente. Toda a criatividade que você gasta no ranço psicológico “contra” aquela pessoa é como se tentasse matar alguém tomando você mesmo o veneno. A forma mais inteligente de sair de uma agressão recebida é: saia por baixo, deixe que a pessoa se sinta vitoriosa e deseje que ela saia de “sucesso” em “sucesso” afastando todas as pessoas ao redor dela. O próprio veneno emocional que ela carrega em si dará conta de fazê-la permanecer distraida do essencial da vida que é ser feliz.
Se você que recebeu algo ruim ainda ficar anos à fio engajado numa tentativa vã de retratação ou sair por cima (mostrando o quão errada e desonesta aquela pessoa foi) nada mais vai conseguir do que se ocupar de lixo mental.
Se você realmente acha que foi prejudicado não se permita perpetuar mais azedume dentro de você, se desligue dessa história e gaste toda sua energia em construir novas relações positivas. Já muita gente de coração bom se deixar envenenar e se tornar gente mesquinha e amargurada por ter alimentado um sentimento de injustiça pessoal. Com o tempo se tornaram tão destrutivas e tóxicas quanto aquela pessoa que acusavam. O amor une, mas o ódio congela você e seu agressor. Não deixe isso acontecer com você, siga em frente e só volte a olhar para trás quando já estiver suficientemente forte e feliz para isso. Com certeza irá olhar tudo aquilo com novos olhos e vai tirar belas lições sobre você mesmo. perceberá que não foi uma vítima indefesa ou tão ingênua quanto imaginou. Quanto a aquela pessoa que lhe casou mal? Deixe-a consigo mesma, o resto não é com você, mas sua própria vida sim.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sobre a ingratidão


O meu maior defeito é esperar retribuição. Desculpe, mas eu precisava me abrir com você. Eu espero sim que o outro reconheça o que faço, sou humano. Acho que na vida tudo vai e vem, são duas mãos. Eu faço, você (teoricamente) faz e assim a gente se ajuda e tenta viver melhor. Mas nem sempre é assim.  Não gosto de ingratidão. Honestamente, não quero um presente bem embrulhado com fita prateada. Não quero flores nem chocolates, não quero tapete vermelho nem puxação de saco, não quero um cartão cheio de traquitanas. Só quero que você agradeça de coração aberto e sinceridade brilhando nos olhos, mais nada. Duvido que uma pessoa faça, faça e faça sem esperar pelo menos um ''obrigado''. Não estou levantando a bandeira do ''faça-e-espere-um-agradecimento'', estou apenas contando para você como me sinto. Fico bem chateado quando alguém pede a minha ajuda e age como se aquilo fosse a minha obrigação. Da mesma forma que fico bem sentido quando me ofereço para ajudar, me viro em mil, me desdobro e a pessoa nem liga. Ser grato é tão bonito, faz tão bem. Ingratidão é algo tão chato quanto uma mentira. Faço as coisas porque quero, essa é a minha verdade. Faço de coração, sim, mas tenho sangue correndo nas veias, tenho sentimento e espero que a pessoa valorize o que fiz por ela, da mesma forma que valorizo o que fazem por mim. Não esqueço de quem me estende a mão, minha memória não é curta. Apesar de eu esquecer algumas coisas que eu preciso fazer durante o dia, jamais deixo passar batido o que fazem por mim. Porque aprendi que ajudar o outro é bonito, mas ser grato é mais bonito ainda.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sereno


Eu nunca vou ser perfeito, e sei disso. Mas quer saber? Sou tranquilo, e só quero estar em paz comigo mesmo. Só quero estar em paz com minhas imperfeições, pois elas também têm seu charme, e seduzem. Mas a primeira pessoa que você tem que seduzir é você mesma. Por isso é tão importante a gente se respeitar e saber exatamente o que quer, e o que não quer. O que espera do outro, o que espera da gente mesmo. Qual o nosso limite. O que a gente aceita e o que não tolera de forma alguma. E saber que ninguém tem tudo. Mas se a gente quer mesmo uma coisa, precisa arregaçar as mangas e batalhar por ela. Sem fechar os olhos para as belezas da vida. Porque tem muita coisa bonita por aí, mas é preciso saber enxergar.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sempre Ele




Ele me mudou tanto. Não consigo entender exatamente onde as mudanças começaram, mas foram muitas. E acho que foi devagar., pois se fosse rápido eu teria sentido e, talvez, teria pisado forte no freio. Ninguém gosta de mudança, já que toda mudança implica uma perda. Quando a gente muda acaba saindo da zona de conforto, e a zona de conforto é, como o próprio nome diz, confortável, segura, boa. Ele me deixou mais forte. A gente nunca percebe a força que tem até acontecer algo. E quando esse algo acontece, surge aquela força absurda e a gente se surpreende com as reações, pensamentos, sensações... Ele me levou algumas pessoas. Poxa, eu lamento dizer isso, mas ninguém é eterno. E sabe aquele seu amigo muito amigo? Ele vai te deixar chateado. E sabe aquela pessoa incrível com quem você contava? Ela vai te decepcionar. E sabe aquela colega que almoçava todas as quartas junto com você? Ela vai passar a almoçar com outra pessoa depois que uma de vocês mudar de emprego. A vida é assim: traz algumas pessoas e afasta outras. Ele me mostrou o que é um sentimento. É que nem sempre a gente sabe. Às vezes é necessário um empurrãozinho, um beliscão, uma queda ou um peteleco na orelha. A coisa está ali, ao seu lado, e nem sempre os seus olhos estão bem abertos para enxergar. Ele me ensinou que os dias nem sempre são ensolarados e que a chuva tem a sua beleza e o cinza também. E que nada é eterno, e que ninguém ganha sempre, e que esse é o grande barato de tudo, essa inconstância, essa incerteza, essa interrogação. Ele me fez ver que a beleza vai além de um belo par de seios, uma grande bunda, barriguinha definida, pernas grossas ou um rostinho bonito. E que dinheiro não compra caráter e que educação não está em nenhuma prateleira do supermercado. Ele me fez acreditar que tudo passa, que nenhuma dor é para sempre, que nenhuma alegria dura 365 dias, que a gente vive numa gangorra e que o ditado “um dia é da caça, o outro do caçador” é a coisa mais verdadeira que existe. Ele me deixou enciumado. É que todo mundo sabe quem ele é, todo mundo já sentiu os efeitos que ele traz, todo mundo já provou o seu sabor e já se jogou em seus braços.

Ele, O tempo.




segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sobre a Inconstância da vida




Eu queria alguma coisa que pudesse me trazer aquela certeza que acalma. Acho que, no fundo, é isso que todo mundo quer. certo? É por isso que tanta gente consulta os búzios, as cartas, os orixás, a astrologia. É por isso que a gente busca alguma fé na religião ou em algum grupo de apoio. É disso que o peito precisa: apoio. E uma certa compreensão silenciosa.

O coração não bate direito quando a angústia toma conta. Fica aquela interrogação fazendo tocaia na esquina, a dúvida vai subindo degraus cada vez mais altos até sumir de vista. Por que precisamos ter a (falsa) ideia de que está tudo sob controle? Por que tentamos a todo custo manter a vida em rédeas curtas?

Não entendo essa necessidade louca de querer saber. A vida é um não saber. É não saber dia após dia. É não saber o que vai acontecer no próximo minuto. É tentar equilibrar os pratos, a cabeça e o corpo a todo instante. Então, por que tanto sofrimento com a dúvida? Por que as incertezas, tão comuns como o simples ato de respirar, nos sacodem forte como furacão? Por que perdemos o sono com os pontos de interrogação que ficam andando em círculos na nossa mente?

Uma das grandes características da vida é a inconstância. Dias bons misturados com não tão bons e com os dias ruins, e com os dias muito ruins também. Saúde ao lado da doença. Alegria ao lado da tristeza. Vida ao lado da morte. Doce ao lado do azedo. Gangorra de sentimentos. Mescla de emoções. E assim vamos vivendo. Sem saber o que nos aguarda, mas com uma esperança que nunca nos abandona.

domingo, 18 de novembro de 2012

Sobre a Desistência


Eu desisto da garota bipolar por quem me apaixonei
E daquelas outras duas interesseiras também
Eu desisto da dieta
Desisto da academia
E de tentar ser bronzeado
Eu desisto dos sonhos
Desisto dos planos
Eu desisto de escrever (veja só que texto merda eu estou escrevendo e todos que escrevi antes dele)
Eu desisto de falar
Eu desisto de tantos amigos inúteis
Desisto dessa gente falsa
Desisto desse curso chato da faculdade
Eu desisto de você, que ainda não parou de ler essa droga de texto
Desisto das pessoas que me cercam
Desisto desse lugar que mais parece um Feudo e um Ovo de codorna
Desisto do mundo
Desisto da vida
Eu desisto de desistir
Eu desisto!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Sobre estar pronto



A vida é mesmo feita de encontros. E que bom que as coisas são assim. É preciso ter paciência, pois nada acontece pra ontem. O amanhã é cheio de surpresas, basta a gente estar com o coração aberto. Muita gente se questiona: "por que eu não encontro o amor?". Mas quer saber uma verdade? É o amor que nos encontra. Só que é preciso estar preparado, maduro, seguro. E isso não acontece do dia para a noite. É necessário ter uma espécie de preparação para o que virá. Mesmo porque o amor não é uma dança com passos firmes, ele às vezes é uma vertigem. Outras tantas é calmaria, depende de como a gente se comporta e o recebe.  A maturidade é essencial, senão ele chega ao nosso lado e nem nos damos conta. É preciso estar atento - e ao mesmo tempo sossegado - para ter o encontro com o sentimento mais bonito que existe nesse mundo .

domingo, 11 de novembro de 2012

Esperando (sereno e sozinho) o fim do mundo.




Você, caro leitor, já parou pra pensar no provável fim do mundo? Com todos os boatos, depoimentos de cientistas, calendário maia, os filmes, 21 de dezembro de 2012 e tudo mais, fica difícil não pensar. Bem, em outra época eu desejaria que o mundo não acabasse, eu teria mais vontade de viver, teria mais anseio por cumprir as missões que me foram dadas pela vida ou por mim mesmo. Em outra época eu estaria revoltado pelo possível fim do mundo, mas hoje eu aceito a chegada do apocalipse sem fazer careta. Ontem parei pra pensar na minha vida e vi que nos últimos, sei lá, 3 anos, eu não ganhei nada, não conquistei nada, todos os planos falharam, um atrás do outro. Sou o maior colecionador de derrotas que eu já conheci. O mundo falhou comigo, mas eu falhei muito mais comigo e com tudo e todos que me cercam, por isso não sinto mais um peso ou um medo do fim. Outro dia desses eu assisti um filme com um nome bem interessante: ‘’Procura-se um amigo para o fim do mundo’’. Eu me identifiquei muito com os protagonistas: Eles não construíram nada durante a vida inteira, nada que valesse a pena. Eles tinham parentes, mas esses parentes não sentiam tanto a falta deles ou não os completavam. Eles tinham companheiros, mas, quando o fim se aproximou, eles ficaram sozinhos. Eles apenas procuravam uma maneira menos dolorosa de enfrentar o fim do mundo. Embora eu me ache tão parecido com tais personagens, eu os invejo. Sim, no fim de tudo, eles tinham um ao outro, eles encontraram alguém, uma companhia para o fim do mundo. Já eu... Eu vou pro juízo final sem ninguém, vou assistir os terremotos, os tsunamis e as chuvas de meteoro totalmente sozinho.  Eu poderia sair por aí e tentar corrigir meus erros do passado, fazer coisas que eu queria fazer mas não fiz, dizer coisas que eu queria dizer mas não disse. Mas isso serviria pra quê? Pra eu morrer em paz comigo e com o mundo? Isso seria, em minha opinião, tentar viver de verdade quando já não há mais tempo pra isso. Se eu passei a vida errando e perdendo tempo, agora o melhor a fazer é deixar tudo como está e esperar o que tiver que ser. E antes que você me pergunte ‘’e se o mundo não acabar agora?’’ eu digo : Sempre há um plano ‘’B’’.





quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Quando você foi embora





A insistência pode ser mais dolorosa do que o fato em si, sabia? Porque eu, ah, eu tenho dessa coisa minha, só minha mesmo, de me apegar a cada rejeição e criar como se fosse semente no algodão. Com afeto e com todo cuidado doentio de quem não consegue se desprender dum mundo-nada-ideal em que você não me contou nada, e eu finjo saber em silêncio. Finjo saber que você vai embora daqui a pouco, finjo saber que você vai sentar comigo numa praça movimentada às oito da noite duma terça-feira friorenta pra cravar sete graus Celsius de despejo no peito. Finjo que sei prever o futuro e pode ser que eu esteja certo e que isso vá acontecer, mas o fato da previsão ser duvidosa, ainda que numa margem de erro pequena, me conforta. Me conforta porque você ainda não bateu o martelo, não me chamou pra falar, não decretou alforria sentimental e nem se desprendeu de mim. E enquanto eu tenho isso, eu finjo, finjo, finjo e suplico pra mim mesmo que tá tudo bem.
E chega um dia em que você me conta que conheceu alguém novo.


Nesse dia não teve porta destrancada e eu nem me lembrei de acender a luz do corredor. Nesse dia bateram lá em casa pra ver se tinha alguém e já não tinha. Apaguei a luz pra ver se você caía no meio do caminho tentando me achar, pra ver se você se machucava ou se cortava no chapisco da varanda, pra te causar alguma dor física que compensasse. Ah, porque a gente quer sempre machucar o outro de alguma forma quando a gente sente dor sozinho e quando nem tem como remediar direito. Quer que o outro se sinta mal e se sinta mesmo, sem dó nem piedade. A gente quer deslocar o lugar de vítima pra outra pessoa que não seja a gente porque a gente não se basta mais de tanta angústia que já cabe aqui dentro.


Eu rego minhas mágoas diariamente. Só que essa tem lugar especial. Como num ritual pré-estabelecido, despejo água salgada direto da fonte sobre ela. Que se alimente de mim e de você e de toda essa dor comprimida que não dá pra engolir. Despejo o vidro de remédios no ralo da pia e desço com eles pra viver nessa condição-placebo que me obriga a te acusar. E te despejo de acusações. Te acuso de ainda estar bem. Acuso e recuo e queria que você sentisse o gume pontiagudo espetando, raspando a ferida pra não infeccionar, pra deixar os pontos abertos, expostos pra drenar você. Recuso a cura. Me recuso a aceitar que você tenha passado por isso como se nunca tivesse visto metade do que eu vi de sofrimento e solidão. Abuso e peço pena de tortura – porque o que eu sinto não pode pegar prisão perpétua e o corredor da morte pra gente carece de pânico e de dor pra você. Exijo tortura em histeria. Numa histeria tão silenciosa quanto a dor de ver quem você amou indo embora de mãos dadas com alguém, sem nem sentir o peso da sua perda. Numa histeria que observa o calendário e confessa que os meses de janeiro a dezembro tiveram carinho, conforto e passaram sem marcas pra você enquanto eu via cortes cada vez mais fundos numa pele inchada e marcada por malas nunca desfeitas debaixo dos olhos.



sábado, 3 de novembro de 2012

Conclusões pela madrugada...



Só deseja um amor saudável quem já viveu uma paixão dilacerante. Porque a paixão corroía tudo por dentro até tirar o fôlego, mas até a dor parecia bonita: aquele único instante de felicidade com o Outro compensava os trezentos outros de infelicidade. Só deseja ter um dia tranquilo, sossegado, quem tem a intensidade à flor da pele, quem acorda suspirando a vida, devorando o dia, se lambuzando de tudo sem conseguir tocar nas coisas com a ponta dos dedos. Só deseja constantemente a companhia das palavras quem escreve. Para estes, o silêncio nunca é mudo, é sempre uma possibilidade. Só consegue vislumbrar a paz quem se investiga, quem tem Consciência do que deseja e pode ou não obter, quem aprendeu a lidar com o imediatismo.
 A escrita ensina a esperar, a escutar a letra da música e depois a melodia, juntas e separadas, ensina a escutar a história do Outro sem fazer intervenções antes da conclusão, ensina a compreender que os espertinhos são aqueles que sempre vão terminar levando uma rasteira da própria ingenuidade, porque perderam a inocência. Só consegue acordar para a vida quem viveu solitário, e insone dentro de uma noite interminável e caminhou sonolento pelo resto do dia, quem perdeu o sol. Só consegue apreciar a nudez quem não é vulgar, quem percebe com naturalidade que um corpo é como uma árvore, que o seu ambiente é extensão do meio ambiente e que, juntos, ambos são um ambiente inteiro. Só julga acidamente os Outros o tempo todo quem é recalcado, quem se aprisionou na ideia do que é ridículo e não consegue suportar um ser autêntico. Só consegue ser irônico quem é inteligente. Só consegue ser doce quem já foi ferido e curado pela espiritualidade. Só consegue o que quer os que têm desejos justos e acreditam e lutam por eles.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sobre querer ser menos.



Eu preciso aprender a ser menos. Menos dramático, menos intenso, menos exagerado, menos sincero, menos leal, menos iludido. Alguém já desejou isso na vida? ser menos? Pois é, é estranho. Mas eu precisoNesse minuto, nesse segundo, alguém, por favor, me bloqueie o coração, me cale o pensamento, me dê uma droga forte para tranquilizar a alma, pois eu preciso, e preciso muito.Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o volume, andar na velocidade permitida, não atropelar quem chega, não tropeçar nos meus próprios pés. Eu preciso respirar. Me aperte o pause, me deixe em stand by, eu não dou conta do meu coração que quer muito. Eu preciso desatar o nó, eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos, sofrer menos ainda. Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase? Confesso: eu não consigo. Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é pouco, não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama. E eu vou... Com o coração exposto, a poesia na mão, o sorriso e a dúvida, a coragem e o medo, mas vou. Não digo: "estou indo" ou  "daqui a pouco", nada tem hora a não ser agora. Ainda assim, só queria saber: Existe aí algum remedinho para não sentir? Existe alguma terapia, acupuntura, pedras orientais, cores ou aromas para me calar a alma e deixar mudo o pensamento?  Existe uma fórmula mágica que me deixe duro feito uma pedra? 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sobre a derrota.



Eu preciso falar, pois certa vez me disseram que falar salva. Mas e tudo que já foi deixado para dizer mais tarde? Como eu organizo essa bagunça sem derrubar as estantes? Como é que se coloca em palavras um sentimento que se acumulou tanto que não há nada para ser dito? Vou dizer que eu estou infeliz? Que, pior do que isso, tenho sido infeliz? Que, quando acabam as piadas, há um ser humano se sentindo terrivelmente sozinho aqui? Que estou inconsolável, sem ver motivo em nenhum dos meus movimentos?


Mas por trás desse ''piadista'' há um ser humano esgotado de tanta frieza. Um ser humano que oferece tudo o que tem sempre que pode, e até quando não tem, e até quando não pode, e de volta espera um pouco de paz, ou um sorriso sincero, ou um abra
ço forte, mas não encontra. As minhas feridas estão todas abertas e ninguém tem o menor pudor ao passar os dedos sujos nessas fendas, ou o menor trabalho de me ajudar a estancar o meu sangue: sou eu, mordendo o travesseiro, molhando o pano com álcool, desinfetando os cortes, gritando sozinho no chão do banheiro.

Eu agora tenho que aprender a viver com o que sobrou de mim: perdi a guerra. O perdedor nunca merece nenhum auxílio. O perdedor não merece sequer um olhar de pena (nem pena, o pior dos sentimentos!), sequer uma mão estendida. O perdedor tem apenas de pagar a conta, apagar a luz e fechar a porta atrás de si, fingindo que sobreviveu. E agora? O que eu faço? Continuo esperando? Ou apenas escrevo milhares de palavras sem nexo? Sem nexo e sem cor, apenas crendo que talvez escrever também salve. Pelo menos jamais poderão prender minha mão como me amordaçaram a boca, para não me ver gritando, cuspindo ódio, fogo e veneno.

Ela se apaixonou por outro alguém.




Juro que tentei escrever um texto, mas faltaram palavras, faltou força, faltou ar...faltou tudo, exceto algumas lágrimas sofridas e aquele aperto no coração.









Obs: Los Hermanos sempre tem uma música( ou duas, ou mais) que se encaixa em algum momento da minha vida, é esse um dos motivos de eu ser tão fã dessa banda.

sábado, 27 de outubro de 2012

Uma Pitada De Egoismo.

Certas coisas me deixam triste. E louco. Como pode a gente gostar de uma pessoa, ver que ela está chateada e ficar de braços cruzados? Como pode você perceber que o outro está te tratando diferente e ficar indiferente? Como pode a gente só olhar para o próprio umbigo e para as necessidades pessoais? Como pode a gente só pedir apoio, calma, paciência e compreensão e não dar nada em troca? Como pode a gente não se dar por inteiro, mas esperar que a outra pessoa esteja inteira? Hoje em dia é muito fácil querer, exigir, fazer questão que o outro nos enxergue. Difícil mesmo é se colocar no lugar do outro, tentar se ver de longe e analisar onde está o nosso erro. 

É muito fácil pedir, pedir, pedir. Difícil é se doar. Porque normalmente as pessoas têm a triste mania de jogar na cara: ''Fiz tal coisa por você''. Daí vira aquela agressão gratuita, aquela lavagem de roupa suja, aquela coisa feia e antipática que não combina com sentimento. Mas então eu me pergunto: será que tudo combina com sentimento? Claro que não. A gente não consegue ser bom o tempo inteiro. A gente não consegue deixar de lado as mágoas e seguir em frente. Tem coisa que alfineta, cutuca, aperta. E é preciso gritar, tirar, sair desse círculo vicioso e ruim.

Não é fácil. Mas também não é tão complicado assim. Basta querer. Basta sair daquele pedestal. Basta realmente se importar com o que faz. A gente pensa que é muito bacana e que faz o melhor que pode. Que bobagem. Nem sempre lutamos com força e com fé. Às vezes, a gente só deixa a vida nos levar, como se fosse um rio que leva pedaços de árvores e lixo. 

O ser humano é egoísta demais. Se preocupa com a própria vida e finge que se importa com os outros. Então eu questiono: será que eu me importo? Será que você se importa? Até onde você é capaz de ir? Que sacrifícios você é capaz de fazer? Você consegue, por algum momento, deixar de lado sua vida para se preocupar com a do outro? Pequenas doses de egoísmo são bem-vindas e essenciais para a sobrevivência. Mas não dá pra se embriagar: tudo que é demais faz mal.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

607 dias sem ela.



Eu preferiria não ter me apaixonado ou então ter quebrado a cara mas ter vivido isso de verdade, mas nada deu certo. Nada nasceu, não nela, nada foi vivido... Foi só ilusão, é só ilusão... Restou-me só imaginar como seria, o que eu faria, onde eu estaria. Já perdi a conta das vezes em que eu decidi esquecer ela e não consegui, as vezes em que eu prometi pra mim mesmo deixar ela de lado, as vezes em que eu matei ela dentro de mim e ela ressuscitou horas depois. Já perdi a conta de quantas mulheres usei pra esquecer aquela moça... Única, tão única. Mas eu não posso mais perder tanta vida por uma vida que não quer fazer parte da minha vida... E lá se vai mais uma promessa embutida numa frase bonita... E lá se vai mais um dia... Eu só não sei ate quando...






terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os idiotas são mais felizes.





Idiotice é vital para a felicidade. Gente chata essa que só quer ser séria, profunda, visceral.  A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado do Schopenhauer? Deixe a pungência para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota. Ria dos próprios defeitos, tire sarro de suas inabilidades. Ignore o que o boçal do seu chefe proferiu. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, objetivos claramente traçados mas não consegue rir quando tropeça? Que sabe resolver uma crise familiar mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Sim, porque é bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Em suma: desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. A realidade já é dura; piora se for densa. Dura e densa, ruim. Brincar, legal. Entendeu?

Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não se descontrolar, não demonstrar o que sente. É muito não. Dá pra ser feliz com tanto não? Pagar as contas, ser bem-sucedido, amar, ter filhos - tarefa brava. Piora, muito, com o peso de todos aqueles nãos. Tenha fé em uma coisa: dá certo ser adulto e idiota. Aliás, tudo fica bem mais fácil ser for regado a idiotice, bom humor. Manuel Bandeira foi um grande homem e um grande poeta. Disse certa vez: "E por que essa condenação da piada, como se a vida fosse só feita de momentos graves ou só nesses houvesse teor poético?" Estava certo. 
Adultos podem (e devem) contar piadas, ir ao fliperama, beliscar a bunda da mulher, sair pelados pela cozinha. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" aceitável.

Teste a teoria, uma semaninha, pra começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que são: passageiras. A briga, a dívida, a dor, a raiva, tudinho vai passar, então pra que tanta gravidade? Já fez tudo o que podia para resolver o problema? Parou, chorou, pediu arrego? Ótimo, hora da idiotice: entre na Internet, jogue pebolim, coma um churrasco grego. Tá numas de empinar pipa no sábado? Vá. Quer conversar com sua namorada imitando o Pato Donald mas acha muito boçal? E é, mas e daí? Você realmente acha que ela vai gostar menos de você por isso? Ela não vai, tenha certeza. Só vai gostar mais, porque é delicioso estarmos com quem sorri e ri de si mesmo.

Eu fico chateado por não ser tão idiota quanto gostaria; tenho uma mania horrível de, sem querer, recair na seriedade. Então o mundo fica cinza e cada lágrima ganha o peso de uma bigorna. Nessas horas não preciso de testas franzidas de preocupação. Nessas horas tudo de que preciso é uma bela, grande e impagável idiotice. Como sair pra jogar paintball, ou conversar besteiras com uma pessoa idiota, tomar 2 litros de sorvete de flocos sozinho enquanto assisto os velhos episódios de ''chaves'' ou, melhor ainda, me olhar fixamente no espelho até notar como fico feio com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo, como fico ridículo quando esqueço que tudo passa