segunda-feira, 26 de maio de 2014

Foi amor





Amor foi aquele primeiro beijo embaixo da cascata da piscina. Amor foi quando você baixou as mãos no nosso segundo encontro e encostou timidamente seus dedos nos meus. Foi a forma como você se inclinou pra direita pra fazer caber o meu braço em volta do teu quadril, rodando o corpo um pouco pra se encaixar em mim na saída do cinema. Foi quando você me levou num píer abandonado pertinho da praia num dia nada bonito e eu não sabia bem o que esperar, só sabia que você já tinha ido ali com outra pessoa e isso me incomodava um pouco, sabe? Me incomodava que alguém pudesse ter sentido o que eu senti, pudesse ter feito o que eu fiz ou até mais, me incomodava saber dos seus fantasmas. Amor foi quando eu senti tudo isso e você me mostrou o céu enquanto encostava no meu peito, no píer, com as mãos na água como se prometesse baixinho que eu poderia ficar por ali uma vida inteira.





Amor foi aquela nossa ida ao farol no fim de setembro e todas as selfies que a gente tirou no meio do caminho, entre corais e ouriços. Foi a almofada que você me deu quando eu bati a cabeça na porta do seu carro e nunca mais consegui dormir direito sem quase quebrar o pescoço.  Foi o porta-retratos na minha mesa do trabalho e o elogio do chefe de ''como, puxa, você é um cara de sorte e os olhos dela te fazem um bem danado, hein?''.  Faziam um bem danado, abertos ou fechados, desde que eu pudesse atravessá-los até chegar em você. E me lembro bem que foi amor quando eu remei, nadei, até aprendi a fazer umas acrobacias subquáticas pra te pedir desculpas por tudo. Amor era você me chamando carinhosamente de ''namoradinho''. Amor era você me chamando por primeiro e segundo nome quando eu fazia algo errado. Amor foi aquele cartão borrado e cheio dos meus garranchos que te dei quando não tinha flores.
Amor foi aquele ''jantar'' de aniversário de namoro a base de empadas.  E a dieta da proteína da outra semana, a ortomolecular da próxima e todas as segundas que a gente passou de cara feia um pro outro sem saber que era fome. Foi o saco de lixo com uns papéis importantes que você botou pra fora, porra, cê podia ter perguntado se eu ia precisar de alguma coisa dali, né? Eu precisava e não adiantaria de nada você ter perguntado porque eu nunca reparo nos detalhes. Teria visto a pilha em cima da mesa e despachado, assim como eu vi as coisas todas e deixei de lado, em algum canto do meu quarto desarrumado, nem fiz questão de botar pra baixo do tapete. E amor foi quando você trancou a porta do quarto porque eu disse que não ia voltar naquela noite. Nem na outra, nem na próxima noite e em semana alguma. Foi quando você tentou desmarcar uns compromissos enquanto eu mantinha a agenda fechada e dizia '' não posso hoje, desculpa, vamos tentar na semana que vem?'' Amor foi quando você continuou ligando e até me comprou presente de aniversário quando a gente finalmente se sentou pra discutir. Foi quando você pediu pro garçom não trazer gelo – porque eu tava doente – e me entregou um casaco pra me aquecer – porque já passava das 22h e eu não precisei dizer um pio pra você descobrir minha gripe. Foi quando você me contou o que tava fazendo e riu de como me conhecia nos detalhes, quando confessou que sabia que tinha algo de errado e que eu não era mais o mesmo, foi quando você podia ter me deixado, mas me deixou na porta de casa e disse que esperava que eu ficasse bem.
E eu só vi isso tudo quando você foi embora. Porque aquilo também foi amor.





domingo, 18 de maio de 2014

''Antes de você eu já sorria''




É então, foi isso.
Nem chegou a começar e eu já tenho que lidar com o fim.
Mas isso não é novidade pra mim, e também não falo isso pra me fazer de vítima.
É que a gente vai criando uma casca e poucas coisas impressionam tanto.
E isso é algo que tem um lado bom e um ruim:
- o bom é que nos protegemos
- o ruim é que nos protegemos tanto que deixamos de nos permitir.
Mas eu tenho consciência dessas coisas, não é bem por aí comigo.
E ter consciência tem um lado bom e ruim:
- o bom é que eu sei que devo me permitir
- o ruim e que eu sei que deveria me permitir menos às vezes. (mas só às vezes).
É isso.
Tenho que te ver indo embora e não há nada que eu posso fazer pra voltar.
Eu nunca te obrigaria a viver algo que não gostaria. Nunca te falaria coisas que eu não gostaria de ouvir. E eu já fiz tudo, apesar de tão pouco tempo juntos.
Tem coisas que a gente precisar admitir antes de querer arrumar. Então eu já entendi que essa foi só mais uma vez que não deu certo pra mim. E no momento quero aproveitar o meu direito de pouco me importar com aquela história de que “deu certo enquanto houve história”, pra mim, por enquanto, não deu certo merda nenhuma. Ver indo embora uma pessoa que você gosta não significa dar certo em nada. Apesar de ser verdade, vou levar um tempo pra concordar que foi bom enquanto durou, por enquanto só repito pra mim mesmo o quanto me frustra aceitar que terminou.
Engraçado que eu me dediquei.
Mais uma vez eu me dediquei e tentei ser uma pessoa boa. E acho até que consegui.
Só que nem todo mundo está pronto para a pessoa que somos.
As fases precisam coincidir para que algo a mais possa existir e resistir.
É aquela história: às vezes somos a pessoa certa na hora errada, às vezes somos o contrário.
Gostaria, porém, que nunca duvidasse das coisas que já te disse.
Se não quiser guardar minhas mensagens, guarde minha verdade. É que eu sempre fui real em cada coisa que te falei ou te escrevi.
Lembra quando eu disse que gostava do jeito que mexia no cabelo? É então, eu gostava mesmo, não era conversinha fiada pra te levar pra cama. Lembra quando eu te disse que sentia saudade mesmo tendo acabado de sair da sua casa? É então, eu sentia mesmo, não falava isso pra você me achar bonitinho e fofo. Lembra quando eu disse que poucas vezes me senti com alguém igual me sentia com você? É então, poucas mesmo, talvez nunca. Era bom me sentir bem do seu lado. Lembra quando eu disse não me importar em você sair com seus amigos e aproveitar seu tempo? É, eu não me importava mesmo. Não fazia charme ciumento pra você se tocar e ficar comigo. Sempre pensei que precisava viver as coisas que gosta. Eu apareci na sua vida pra somar não pra subtrair. Lembra quando falei que podia comer metade da minha barra de chocolate? Então, podia mesmo. (só não podia comer a barra toda.)
Eu até que fico feliz.
Apesar de ainda não saber lidar muito bem com esse fim – quem sabe lidar com algum fim? – eu fico feliz ao lembrar que fiz minha parte para que nunca me esqueça. Tem que começar uma história fazendo história. E eu tenho certeza que nunca vai me esquecer. Isso é algo que estranhamente me faz bem.
Sei lá, esse gostinho de “missão cumprida”, de que marquei uma outra vida com parte da minha, é algo que faz bem.
Digo isso por ter certeza que você vai se lembrar de mim em vários momentos da sua vida. Pra sempre.
Você vai lembrar das minhas manias, vai lembrar do jeito que a gente ria. E capaz que lembrará disso após a próxima boca que beijar.
E nem que demore pra acontecer, nós ainda vamos nos encontrar nas lembranças dessa cidade. Talvez nos relógios das avenidas ou nas calçadas largas; talvez nas sorveterias ou talvez na fumaça da caneca em uma noite de frio. Não quero amaldiçoar seu futuro com o nosso passado, mas de mim você vai lembrar e essa é uma verdade que você deve aprender a lidar.
Bem, é isso então.
Pareço estranhamente conformado ao falar desse modo?
Até eu me assusto com essa minha tranquilidade toda.
Mas dá pra explicar: eu já me apaixonei por tantos beijos que me deixaram pra trás, já incluí tantas pessoas nos meus sonhos que depois não quiseram mais, já comentei pra minha família sobre tantas pessoas que depois foram embora, que não me estranha aceitar que mais uma vez aconteceu assim. É uma pena porque eu estava até que gostando dessa coisa de conversar sempre, de contar detalhes do dia e perguntar sobre a família, sabe? Essa coisa toda de dividir a própria vida com outra. Mas eu não te quero obrigada à viver comigo. Tentei te mostrar que tínhamos uma bonita história pra viver e mais do que ficar mal por não ter dado certo, eu fico bem por ter certeza de que fui pra você quem eu gostaria que fossem pra mim.
Está tudo bem e tudo vai ficar ainda melhor, afinal, antes de você eu já sorria.

Por Márcio Rodrigues em: http://umtravesseiroparadois.wordpress.com/2014/05/15/antes-de-voce-eu-ja-sorria/

Conta pra ele


Conta pra ele que na terça-feira passada eu não dormi por sua causa.
Conta que eu deitei de jeans, subi na cama de sapatos e me prendi em você. Que tava com seu cheiro nas mãos, no ombro, na camiseta e queria que ele se propagasse pelo quarto. Que pedi o nome do perfume pra comprar e deixar na cabeceira, pra tentar sanar minha gana de sentir você no mesmo espaço que eu.
Eu só me lembro que era noite já, tava frio, a fila da boate tava insuportável e você apareceu na porta no exato momento em que eu pedi três doses de tequila e a música começou a tocar. Você tava com ele, passou por perto com ele, subiu as escadas com ele – e manteve o olhar em mim. Por que você era dele e não minha? Porque as coisas não funcionam assim e cada um tem o seu paraíso particular, jurei pra mim. Jurei que não tava perdido, que tava tudo bem, que essas coisas que balançam a gente geralmente se prolongam e não ia ser aquele seu vestido florido ou o modo como você me descobria que iria mudar as coisas.
Conta pra ele que duas semanas depois você me diria – trancado num quarto mal iluminado e deitada no meu peito – que eu era a sua maior história de amor interrompida. E eu pensava, não falava, segurava o nó na garganta pra não te sujar com a minha instabilidade, pra não te dizer que eu tava me apaixonando, que as coisas já tinham desandado, que agora eu te levava pra passear comigo numa montanha-russa sentimental e que as travas da cadeira não tavam funcionando direito. Não te diria que eu reparo no jeito que o cabelo cai nos seus olhos e em como você tem o abraço mais regulável do mundo, que não se importa se eu visto M ou G, que não liga pra minha falta de memória, que acorda todo dia com um bom dia meu.
E conta pra ele que a playlist do meu iPod segue uma lógica pouco seletiva de canções que têm você como ritmo, ditando todo aquele ressoar pomposo que o meu peito faz quando cê tá por perto. Conta e tenta explicar aquela coisa dos teus lábios curvados num sorriso de lado, a expressão de surpresa, a sua cara de reprovação e a cabeça baixa deitada no meu ombro enquanto canta baixinho ''o tempo'' e não deixa mesmo, me segura entre os dedos porque eu tenho uma mania feia e fácil de escapar.
Conta pra ele que você conheceu alguém novo e que alguma coisa aconteceu às 5h30 da manhã de uma quarta-feira, mesmo você não tendo encostado a sua boca em mim, mesmo a gente tendo sobrevivido de abraços, boa noite e dorme bem. Explica como fica pausada-a-sua-respiração-em-fragmentos-detectíveis-e-como-todo-mundo-em-todo-lugar-repara-na-gente-junto. Conta que eu escrevo sobre você, que me lembro de você em cada curva que faço ou em cada estação de rádio que o carona do meu carro deixa parar. Conta que eu ando sonhando em como vai ser daqui pra frente porque a minha cabeça tá fudida, meu coração tá pesando, eu não sei o que eu tô fazendo, mas só sei que isso é bom. E como pode ser tão errado se você me faz feliz desde o dia em que sorriu pra mim?
Conta pra ele, baixinho, diz algo assim: “amor, eu não sei o que aconteceu, eu nem sei direito o que eu tô sentindo, mas ele me empurrou de um precípicio e agora eu tô caindo em queda livre junto dele”. Diz que encontrou alguém novo, que precisa ir embora e que a culpa não é dele. Se despede de cabeça baixa e não surta, me liga se for dia ou se for chuva, me manda um recado pra ir te buscar e te dizer que eu tenho certeza de nada ou que vou finalmente sumir e te deixar livre de mim. Mas antes disso, conta pra ele que me ama. Ou acaba com isso logo e conta pra mim.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Se cuida


Vê se não esquece de tomar seu remédio duas vezes por dia. Não cancela os alarmes que programei, que senão você nunca mais lembra, cê sabe. Tenta não esquecer de fazer refeições mais saudáveis – o médico pediu para você maneirar se quiser se ver livre da gastrite nervosa. Coloca salada no prato, pelo amor de Deus. Ou por amor a si. Ou pelo amor que você já teve por mim. Não importa, só tô pedindo para você deixar um pouco o bacon de lado e tentar descobrir as vantagens do alface. Tô só te pedindo isso: nem que seja forçada, se cuida.

Tenta dormir umas 8 horas por dia. Esquece essa mania insana de querer abraçar o mundo com esses braços curtos que cê tem. Você é nova, não precisa querer fazer tudo de uma vez. Eu sei que a vida passa rápido, que o tempo corre, que ontem você era uma criança e amanhã já vai ter quase quarenta, mas quem se importa? Ficar nessa neura de querer realizar tudo – agora! – ainda vai acabar te matando.

Eu sei que você sempre amou essa coisa maluca da cidade grande, mas pisa no freio de vez em quando. Pega a estrada e vai pro mar. Visita aquela praia que a gente costumava frequentar. Ou procura outro pra não acabar esbarrando comigo pelos lugares em que a gente foi feliz. Visita sua cidadezinha do interior. Mas procura um lugar em que você lembre o que é estar calma. Lembra que você precisa disso uma vez ou outra.

Liga para sua mãe se precisar chorar. Ou pro seu irmão. Ou para aquela amiga de infância. Agora que eu não estarei aí, não hesite em pedir ajuda. Ou, se não tiver quem procurar, me liga. Não tem problema, pode me ligar. Eu te amei um dia (e, de algum jeito estranho e escondido, ainda te amo), não vou desligar na sua cara. Só não segura tudo isso. Não segura todas as dores. Nem fica achando que você precisa seguir o estereótipo de mulher feliz e jovem e alegre que a publicidade vende nos comerciais de margarina. E nem por um segundo pense que, só porque a gente não tá mais junto, eu deixei de me importar.

 Olha para os dois lados antes de atravessar a rua. Avisa aos outros pra onde você tá indo. E começa a ligar pras pessoas só pra lembrar que você tá viva. Tenha mais cuidado ao se jogar de cabeça em todas as relações que encontra e acredite mais nos olhos da pessoa amada do que em pessoas de fora da relação. E poupa um pouco seu coração pra ver se você acha, finalmente, um cara que te mereça e que você queira, de verdade, com todas as suas forças, corresponder. E vê se se cuida, amor. Que é desesperador pensar que eu, logo eu, não vou mais cuidar.