sábado, 26 de janeiro de 2013

A Famosa e Inexistente Lei de Murphy




Às vezes tudo dá errado
E você acha que não pode ser pior
Que é só um dia ruim
E que no outro dia se desfaz o nó

Às vezes você erra em tudo o que faz
 E jura que é só uma maré de azar
Que é porque quando acordou abriu um olho e depois o outro,
Pisou no chão primeiro com o pé esquerdo
Quebrou o espelho e se admirou nele
Passou embaixo da escada
Sentiu coçar a mão direita
Viu voar uma borboleta preta
Viu um gato preto no meio da rua
E, quando ia dormir, viu no telhado uma coruja

Às vezes você quer ser mais livre, quer ter uma vida mais sua
Quer falar o que pensa, sair e chegar na hora que quiser
Ter a profissão dos seus sonhos
E você jura que tudo se resolve com o tempo, que não pode ficar pior
Mas você vive num ‘’quartel’’, preso pelo mesmo destino que te deu a vida,
Onde você e sua palavra valem menos que a merda do cavalo do bandido

Às vezes Eu, e acho que você também, só queria acreditar que tudo é culpa minha, que os erros são meus, ou que eu sou o erro, e que não existe sorte ou azar
Ao invés disso, eu culpo o mundo, as pessoas, meus olhos, meu pé esquerdo
Os espelhos, as escadas, as coceiras na minha mão direita, as borboletas pretas, os gatos pretos e as corujas
E ainda coloco toda a culpa no coitado do Murphy 


domingo, 20 de janeiro de 2013

Pra você gostar de mim



Eu arranho as cordas vocais de um jeito desafinado só pra te irritar. Eu canto sobre a gente num karaokê e brindo a você num copo pequeno daqueles de bar. Eu deixo de esconder a minha timidez por trás das lentes grandes dos meus óculos e deixo tudo ficar embaçado só pra sentir a sua respiração mais de perto. Eu tiro esse aviso bem grande de “por favor, me ignore” de frente da minha camiseta – e eu só uso isso por medo de tropeçar ou gaguejar caso você resolva vir falar comigo qualquer dia desses. Pra você gostar de mim eu imito Cazuza e crio uma ideologia pra gente viver a dois. Que solidão que nada, eu quero é que um dia desses nasça logo pra gente ser feliz.
Pra você gostar de mim eu confundo o tempo, faço o nublado virar chuvoso e uso a desculpa pra te aquecer. Ligo o ar-condicionado no máximo e digo que não tem cobertor, mas tem pipoca, um filme qualquer e eu pra te fazer companhia. Eu deixo você me usar como segunda pele, que é pra eu te sentir mais minha. Ah, e brinco de gangorra com você lá no alto. Prometo ser legal e não te deixar suspensa por muito tempo, que é pra te tirar de evidência quando as suas bochechas corarem e você já não quiser mais brincar. Compro chocolate belga e te sujo toda de brigadeiro de panela pra gente rir junto depois. Pra você gostar de mim eu paro até de combinar vermelho e verde pra dar alguma tranquilidade no nosso tom.


Eu apronto uma serenata, uma passeata ou alguma forma nada discreta de me declarar. Monto palco, estudo cena após cena e dispenso o curso pra me mostrar pra você. Sinto e o que eu sinto não precisa de interpretação – nem minha, nem das palavras que eu jogo por aqui e por ali. Vomito espontaneidade porque duvido que alguém goste tanto de você assim, exageradamente verdadeiro como eu. Se achar nojenta demais a metáfora, eu não retiro o que disse. Mas pego um pano pra limpar as bordas, os excessos e deixo com você só o que você for capaz de carregar. Eu aguento a carga por mim e por você, desde que você não considere um fardo durante o tempo, desde que você fique porque gostou do que viu e porque sentiu no peito aquela angústia chata que pede pra ficar, e fica martelando sem parar na cabeça. Eu mostro que a gente não foi feito um pro outro – e por isso mesmo é que eu antecipo a fala pra te acalmar. Eu prometo que vai ficar tudo bem – na maioria das vezes. Pra você gostar de mim eu dispenso o ''felizes para sempre'' e tento fazer com você o ''felizes por agora''.
Pra você gostar de mim eu tiro a máscara, me desnudo sem pudores na sua frente. me mostro cru e com todos os defeitos do mundo que podem ser encontrados em alguém. Deixo você me conhecer melhor e nem precisa fazer tempo de experiência. Pulo as primeiras impressões e jogo com as segundas, as terças  quartas e assim por diante. Estendo a semana e estendo também as minhas desculpas pelo exagero da declaração. Eu te deixo ver meu lado mais sensível, meu lado menos ogro e mais doce. Pra conquistar os sorrisos que você me der e permitir que você entenda que homem também chora e só chora se tiver um colo de mulher pra descansar a cabeça nos dias difíceis. Compenso a falta de alguma coisa com mais atenção e com mais carinho. Pra você gostar de mim eu mostro que caras como eu existem aos montes por aí e você só não vê direito porque tá com pressa ou porque não olha além das calças meio largas demais ou do cabelo bagunçado deles. Alguns mais tímidos que outros, outros mais enrolados que alguns poucos. E pra você ficar por mim eu escrevo essa carta, mal pontuada e meio atrapalhada,que é pra você já entender o meu jeito e os meus modos desavisados, que é pra te dar algum motivo pra ficar comigo – caso eu consiga roubar algum riso abafado ou sorriso de lado antes de chegar ao ponto final.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sobre o passado e a personalidade


Quando alguém descobre que sou estudante de psicologia surge um certo receio (que acho compreensível) quase como se eu tivesse um poder paranormal de ler mentes [imagina só quando eu for um psicólogo de verdade (se eu chegar a ser)]. Depois que as pessoas se sentem confortáveis e percebem que não vou ficar fazendo análise a cada espirro tudo alivia, mas então surge um tipo de questionamento que acho curioso: você acha que o meu problema tem ligação com o que aconteceu em minha infância? Devo descobrir o que aconteceu no meu passado para melhorar?

Acho que essa questão é muito delicada. Quase se popularizou a ideia de que tudo está explicado, encerrado e aprisionado na infância. Acho que levaram muito à sério a frase ''Freud explica''.
A ideia de que até os 10 anos de idade todo o destino de uma pessoa está determinado por acontecimentos agradáveis ou traumáticos vem sendo disseminada há pelo menos 100 anos nos círculos psicológicos e médicos. O cérebro e a personalidade estariam moldados por fatores puramente orgânicos e familiares e explicariam qualquer comportamento admirável ou anômalo de toda pessoa. Se ela é agressiva é porque teve um pai violento, se é mimada porque teve pais super protetores, se é grudenta teve uma mãe fria, se está acima do peso teve pais permissivos. Precisamos diferenciar duas coisas: origem e causa.
Origem é onde um comportamento surgiu pela primeira vez. Causa é quando um evento cria outro. A origem de muitos comportamentos pode ter sido na infância porque tiveram a primeira aparição por influência de pais, mestres, amigos e inimigos. Como um condicionamento adquirido, copiamos hábitos destrutivos ou reagimos mal à certas circunstâncias e nos distanciamos da bondade fundamental que cada um carrega dentro de si. No entanto, a causa para esses comportamentos está no exato momento presente, aqui-e-agora, nem mais nem menos. O motor de cada ação está no próprio momento da ação, nem antes e nem depois. A cada minuto decidimos se queremos ceder aos condicionamentos ou se resistimos a eles. Alguns condicionamentos podem ser tão poderosos que soam como mãos invisíveis direcionando nossas ações para aquele ato egocêntrico e maldoso, mas ainda assim somos livres para não praticarmos uma ação e favor de outra melhor.
Seu pai bateu em você a ponto de espancamento? Pena para ele, mas pior para você se continuar justificando sua grosseria e temperamento impulsivo nas ações do seu pai. O que costuma acontecer é que nos identificamos tão fortemente ao comportamento do passado de nossos pais que simplesmente reproduzimos uma versão tão ou mais doentia do que eles fizeram. Alguns tentam ser diferentes, mas são tão radicais que acabam sendo a versão chata e oposta aos pais. Justificar comportamentos abusivos em relacionamentos amorosos atuais por conta de ter sofrido no passado segue na mesma linha. Se você não sabe diferenciar o jornaleiro grosseiro que te maltratou de manhã da vendedora de flores da hora do almoço você tem um grave problema de pasteurização mental. Será que basta ser homem para você agir do mesmo jeito com todos?
“Fiquei machucada com meu ex e agora acho que todos os homens são iguais e trato todos eles com frieza”. Desculpa, vamos corrigir o raciocínio: o passado não pode se impor à sua vontade e criar um comportamento tóxico desses. Ele localiza quando ao começou, mas a cada novo minuto quem decide como tratar alguém é você e não seu ex-qualquer-coisa. Se você seguir por esse raciocínio do trauma tudo está justificado, explicado e aceito. Depois de alguns anos em que a direção da sua vida está menos sujeita aos condicionamentos da infância se você persiste nesse tipo de pensamento para explicar tudo você entendeu tudo errado.
Vou reescrever o que entendo da frase acima:
“Fiquei machucada com meu ex (porque fechei os olhos para muito dos meus comportamentos) e agora acho que todos os homens são iguais e trato todos eles com frieza (porque quero e vi que é bem mais confortável ser narcisista como ele foi do que ser generoso e aberto para a vida)!”. Lembre-se, o passado não te condena à nada. Então, não se apoie nele para sentir menos responsabilidade por cada ação no seu cotidiano. O que você é e o que você pode vir a ser só depende de você, do que você faz agora, no presente, pra mudar.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sobre dar e receber carinho



MUITAS pessoas tem sérias dificuldades em dar e receber carinho. Quando a pauta é sobre dar carinho dão desculpas bobas do tipo “não acho necessário”, “basta o que eu faço e é suficiente”, “tenho dificuldade”. Assim como ao receber carinho falam: “não preciso receber”, “me incomoda gente me tocando”, “não gosto de gente melosa ou grudenta”. 
A quantidade de gente que tem esse bloqueio é enorme. E isso corrói sua vida de maneira silenciosa, no trabalho, na família e principalmente no relacionamento amoroso. Carinho é todo tipo de afago, seja ele verbal num elogio, comportamental num momento que oferece algo de valor pessoal ou um gesto de cafuné. As motivações são as mesmas: orgulho em forma de medo. É quase um ultraje pedir carinho em tempos em que é proibido expressar afeto sob pretexto de não se submeter ou ser feito de bobo. Todo mundo quer ser independente e livre de compromissos e adora dizer que não precisa de ninguém. Criou-se uma cultura do “eu me basto”. O que eu noto é que as pessoas estão mais tristes e isoladas, morrendo de medo de gostar do carinho de alguém e depois se ver no cais do porto dando adeus em lágrimas. Preferem nem entrar na brincadeira para não sofrer depois. Vivem tudo pela metade e se privando do brinquedo achando que ele irá quebrar ou ser roubado. Resultado catastrófico, a nossa pele precisa de contato. Estudos já comprovaram que pessoas deprimidas se beneficiam do toque humano e pacientes acamados se recuperam mais rápido sob o toque corporal. Dar carinho também é um tormento para muitos como uma tarefa hercúlea, parece que se sentem tão superiores que oferecer algo de si provoca pena do outro e até gostam de ficar fazendo joguinhos e manipulações do tipo “eu tenho, você não tem”. É algo meio miserável, não gostam de criar dependência e por medo de ter alguém rastejando aos seus pés negam qualquer tipo de conforto. Algumas se sentem bobas fazendo cafuné, outras são tão endurecidas que nem conseguem sair de sua mágoa para ir ao encontro dos outros.
Depois de tanto alegar falta de carinho ou dificuldade em fazer carinho resolvi ser bem prático. Mesmo que no começo fosse difícil fazer carinho e não fosse 100% honesto e verdadeiro eu fazia. Parecia que estava alisando um sofá, mas insisti, com o tempo senti  a reação positiva das pessoas e comecei a me alimentar daquilo. Notei que um elogio bem colocado era melhor do que dez críticas para fazer uma pessoa caminhar. Para receber também quebrei o impasse pedindo “faz cafuné”, pondo a cabeça no colo que nem cachorro mesmo, sem hesitação. Ainda que parecesse estranho e a outra pessoa achasse bobo eu me submetia que passava a fazer parte da rotina. Ninguém nasce sabendo e pode até ter sido educado a ser frio, mas isso não é desculpa para nada se você realmente tiver vontade de mudar.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sobre a teimosia



Existe um consenso quase coletivo na hora das pessoas se autodefinirem, e parece que a teimosia está sempre na lista de traços de personalidade. Acho estranho que alguns até falam isso com orgulho como se fosse uma virtude. “Sou teimoso” afirmam como quem fala '' sou feliz''. A teimosia, não é uma virtude, como muitos pensam, não é a capacidade de resistir aos problemas e seguir em frente oferecendo novas soluções, isso é resiliência. Teimosia é a habilidade de persistir em algumas atitudes mesmo quando todos os fatores se mostram desfavoráveis.

Quando vi o filme “Buscando a felicidade”, pensei ''que cara teimoso'', depois eu mesmo me discordei, resiliente, ele estava buscando algo e trabalhava duro para aquilo e tinha pequenos resultados imperceptíveis no caminho dele. Não foi uma fé às cegas. O teimoso tem uma limitação na percepção e nega certos sinais básicos ao redor dele. Está fechado para rever seus conceitos, ouvir as pessoas e revisitar os fatos do passado.
Pessoas teimosas não são felizes. Acho que a teimosia é atributo de quem tem muito pouco a oferecer e fica como um cão faminto defendendo o osso velho. Quem tem uma vida abundante não perde tempo com objetivos inúteis ou tóxicos, segue em frente produzindo vida plena.

O teimoso sofre de uma avareza emocional (http://northonferreira.blogspot.com.br/2013/01/sobre-avareza-emocional.html) que o impede de olhar além das possibilidades atuais. Ele não é otimista ou esperançoso como se pode pensar, é escasso. Ele só conta com aquilo que fantasia que existe e se apega numa visão de mundo limitada. Ele não muda de opinião, simplesmente porque é a sua, não porque parece lógica. O teimoso nem percebe que a vida é movimento e que ele próprio vai discordar da sua própria visão com o passar do tempo. O que ele defende é seu orgulho pessoal e não a ideia. Portanto, se você é teimoso, não se orgulhe disso e pare de brigar pelo osso velho.

Sobre a avareza emocional


Você já deve ter se perguntado em algum momento da vida se ''aquilo'' valia a pena. Se essa pergunta está sempre na sua cabeça é provável que você seja um belo candidato à avareza emocional.
O avarento emocional é aquele que está sempre calculando seus passos e verificando cada manobra que vai realizar de forma meticulosa para evitar o mínimo de riscos possíveis. Ele alega medo de sofrer ou de perder aquilo que possui. Considera tudo precioso demais para colocar no meio na fogueira. Cada ação é posta sob avaliação: “será que devo fazer isso? Por que razão? Quem vai? Que horas volto?” É uma pessoa cheia de reservas, movimentos milimetrados, regrados, polidos, calculados e minguados. O avarento é uma pessoa minguada…
Sua maneira de amar é um tormento, pois só oferece se tem a garantia de receber. Alega trauma, mas no fundo é egoísta, quer tudo para si. Quando termina um relacionamento tem uma lista de motivos e exigências não cumpridas pelo parceiro. Sempre acha que deu demais. Atrás de sua aparente segurança uma tristeza avassaladora o impede de se render a escolhas espontâneas e cheias de vida. Não dança, não tropeça, não fala ou geme alto. ''Tudo sob controle'' é seu lema. Se queixa que tudo está fora do lugar. A reclamação é sua aliada de todas as horas. Seus relacionamentos são resultado de uma sequência de exames clínicos bem apurados, pior que os concursos de magistratura ou fuzileiros navais americanos. Não goza, não ri de si mesmo e se leva demasiadamente a sério. Não gosta de folia, se inquieta com barulho e coisas fora do lugar. Quer deixar as coisas como estão apesar de tentar convencer a si mesmo que é descolado e quer curtir a vida. Suas viagens tem um roteiro certo e jamais passa um sinal vermelho dentro de si. Moralista camuflado está sempre apontando, criticando, maldizendo, praguejando a corrupção do mundo e as desventuras de seu pais. Os vizinhos são seu prato preferido, afinal ele se acha ponderado, sensato e cheio de verdade. Adora as verdades. Seu partido político é o melhor, o time é o vitorioso e sua religião possui a salvação definitiva. Questionamento é para os fracos, acredita. Seu destino? A solidão de quem pode ter mil pessoas ao seu redor, mas o incrível abismo que sua “retidão” de caráter impõe a ele. Ao ler esse texto irá respirar fundo e dizer, esse não sou, mas se você leu esse texto até o fim, pode ter certeza que é um belo candidato.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Saia de cima do muro



Detesto couve-flor, lugar cheio, tropeçar num passo de dança, frio sem agasalho, calor insuportável, trânsito agarrado, passarinho quando cai do ninho. Detesto mentira, atrasos, dieta na segunda, pizza sem ketchup, cachorro abandonado, finzinho de domingo. Eu tenho horror a um bocado de coisas, mas pânico mesmo, desses de arrepiar até o último fio de cabelo, eu tenho é de gente mal resolvida. Que não sabe se casa ou compra uma bicicleta, se vai ou se fica, se ama ou odeia, se vem ou não vem. Gente que faz da dúvida um adorno, da interrogação o término de uma sentença perfeita, da acomodação uma filosofia de vida. Gente incapaz de assumir seus saltos, mergulhos, erros e – por que não? – seus afáveis acertos. Sentar em cima do muro para muitos virou hábito e caiu no abismo insuperável da normalidade.
De fato a vida seria muito mais simples se nossas escolhas se resumissem apenas a qual sorvete tomar naquela tarde morna de verão – limão ou chocolate? Mas quando se trata de relacionamentos, projetos e estilo de vida, a toca do coelho de Alice é muito mais profunda do que o próprio país das maravilhas. Às vezes a gente prolonga uma situação, um status, um sofrimento, uma aparente felicidade, por puro e simples medo de mudar o rumo. A vista em cima do muro pode ser bem agradável para alguns, afinal de contas, de lá é possível apreciar os dois lados da história sem precisar arcar com os riscos de optar por um dos sentidos. Seria bem cômodo, até divertido, se no meio dessa indecisão toda não tivesse um monte de sentimento mal resolvido e uma porção de gente lá embaixo ansiando pelo salto ou pela queda e, de certa forma, dependendo da sua escolha.
Pior do que ser marionete dos nossos próprios receios é ser brinquedo da indecisão do outro. Porque se ele namora você e fica com dez outras garotas, ele decidiu faltar ao respeito com a relação que vocês construíram em prol de um prazer momentâneo de horas vagas. Se ela optou por sair com as amigas ao invés de jantar com você após a décima tentativa do mês, seja por cu doce ou por simples falta de vontade, ela escolheu correr o risco de não haver um próximo convite no fim de semana. Se ambos decidiram não ligar na noite posterior ao encontro, esperando um singelo movimento que fosse da parte do outro, os dois optaram pelo risco do interesse se perder em meio a um turbilhão de pensamentos desencontrados e equivocados sobre os momentos que passaram juntos. A similaridade entre todas estas situações é que todo mundo fez uma escolha, menos a real pessoa que deveria ter controle sobre seus desejos e vontades – ou seja, você mesmo.
No anseio por uma dica de qual caminho seguir, da direção do próximo passo, na boa e velha expectativa de correspondência, a gente espera. Espera porque acha que dessa vez é diferente, que tudo vai mudar, que uma boa noite de sono vai ser capaz de nos trazer uma resposta. Contrariamente ou não, a gente espera do outro um comportamento que só a gente é capaz de assumir. A gente espera que a indecisão do outro resolva a nossa vida. E aí não tem porre, melhor amigo, choro no travesseiro ou pote de sorvete que dê jeito no espinho que a gente mesmo plantou naquele jardim tão florido. Persistir em uma determinada travessia e sujeitar-se ao amor ou desamor que aquela encruzilhada impõe é, invariavelmente, estagnação e vontade nossa. Decidir quem você é e o que você quer para o resto da sua vida é o primeiro passo de um processo de transposição bem sucedido.
Escolher dói. Mas ficar em cima do muro pode machucar muito mais. No fim, se a gente não souber decidir por aquilo que é melhor para os nossos sonhos, nossos encantos e desencantos, nossa vida fica fundamentada na maioria das vezes na não tão boa vontade de alguém que cruzou nosso caminho por simples destino, acaso ou sorte. Aliás, sorte mesmo é ter alternativas e, melhor ainda, poder utilizar o bem mais poderoso que existe no universo em prol da nossa felicidade: o livre arbítrio.
Não adianta ter a faca e o queijo se faltar a fome. Gritar aos quatro cantos que busca a felicidade, um cantinho pra dormir, um par de pés pra descansar e outro pra viver por aí só é válido se esta eterna procura for feita de corpo, alma, coração e convicções, porque de gente perdida em cima do muro o “meio do caminho” tá cheio. Se deliciar com as oportunidades, se lambuzar com os acasos, degustar cada pontinha daquela adrenalina gostosa que bate no fundo do peito cada vez que a gente decide ir por ali ao invés de acolá. Toda vez que o amanhã trouxer de bandeja um menu de degustação novinho em folha, lembre-se de que cabe a você decidir a hora em que será servida a sobremesa. Porque não existe nada mais libertador na vida do que saber que a fome é sua e de mais ninguém.

Sobre rótulos



Por favor, não me rotula. Não diz que sou assim ou assado. Eu não sou sempre constante, não tenho sempre os mesmos atos. Posso até manter um certo padrão de comportamento, mas acho que todos nós somos assim. Por favor, não faz isso comigo, não faz isso com você. Me surpreendo com minhas próprias novidades a cada dia, por isso acho que não mereço uma faixa colada na cabeça com uma ou duas palavras. O rótulo é como uma cruz que a gente carrega. É como uma pedra no sapato, pois você pode nem ser daquele jeito, mas como algum dia alguém disse que você era assim as coisas automaticamente se transformaram naquilo.

Não entendo por qual motivo buscamos uma palavra para tudo. Existem coisas sem nome. Sentimentos, ações, pensamentos. E tudo bem, sabe? Tudo bem mesmo. Nem tudo precisa ser nomeado ou registrado. Se você não sabe o que dizer, não diga nada. Ou então invente uma palavra bem esquisita. Só não vale dizer qualquer palavra pronta que vem na cabeça, pois o que a gente diz às vezes magoa os outros. 

Procuro ter cuidado com o que falo, pois sempre penso que quem fala esquece rapidinho o que disse, já quem ouve, não. Às vezes, as palavras precisam ser estudadas, acarinhadas e depois, sim, ditas. Não é bonito dizer tudo que a gente pensa, pois de vez em quando pensamos coisas bem feias. Por outro lado, tem gente que se protege de escudo e armadura e se prepara para uma luta inexistente. Não precisa ficar sempre na defensiva, sempre achando que fez errado ou que algo vai te atingir. Relaxa. Encara as palavras como elas são, encara as coisas como elas são. Não precisa ver coisa onde não tem, não precisa ter alguma reação mais nervosa ou violenta, não precisa nada disso. Os mal entendidos normalmente ocorrem por dois motivos: uma pessoa não soube se expressar direito ou a outra pessoa não soube ouvir direito. Conflitos ou desentendimentos bobos podem ser evitados se houver um pouco mais de paciência e tolerância, coisa rara hoje em dia. Queremos tudo pra ontem, pra já. E não somos tolerantes com os erros dos outros, apenas com os nossos. Somos egoístas ao extremo. Não damos uma chance para o outro, somente para as nossas tentativas. Mas ninguém vive sozinho. Precisamos das outras pessoas. Por isso, precisamos exercitar a paciência e a tolerância.

Nem todo mundo está na mesma sintonia que você. E isso não é errado, é o jeito de cada um. Não adianta você querer fazer tudo ou querer que o outro queira o que você quer. Ninguém pode ser forçado a nada. Seja a ler um livro, concordar com uma ideia ou mudar. A gente muda quando (e se) quiser. Você não pode querer que as outras pessoas sintam como você, sejam como você, que as coisas tenham a mesma importância para os outros que têm para você. Esse é o grande desafio da vida. Boa sorte.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sobre a felicidade



Vejo uma nova-velha moda hoje em dia: as pessoas querem ser felizes. Outro dia perguntei para uma pessoa que expressou esse desejo: “mas o que é ser feliz para você?” e ela respondeu “Ah, sei lá, não quero mais ficar triste!”. Resposta profunda como um pires. Fiz um esforço genuíno para tentar imaginar a felicidade como ausência de tristeza. O máximo que consegui pensar foi num robô. Ouvindo as pessoas cheguei a sete tipos de definição de felicidade:


1 – Sinônimo de alegria
O problema desse significado é que a tristeza passa a ser um inimigo constante a ser combatido. Acho que aquela frustração frente a um contratempo não mata ninguém. Se minha felicidade depender da ausência de tristeza, nunca serei feliz.
2 – Ausência de conflitos
O conflito é resultado de um desencontro de desinteresses entre eu e alguma outra coisa, pessoa ou situação. O problema é que estamos sempre nos desencontrando de alguma coisa. Nosso desejo é volúvel. Assim, estarei condenado também.
3 – Conjunto de bons momentos
E como mede isso?  Estatística? Opinião pública? Retrospectiva do ano? Não sei dizer, na dúvida ainda continuo infeliz…
4 – Estado de perfeição
Essa é a mais difícil de dizer. O que faz da vida de uma pessoa perfeita? Quando tudo se encaixa no seu devido lugar? Então desisto de vez! Lembra aquele joguinho Tetris? Vejo a busca da perfeição como aquele jogo, nem tudo encaixa e jamais acaba.
5 – Quando meus desejos são atendidos
“Quando estou curtindo a vida sou feliz!” É mesmo? Como faz para curtir a vida? Entusiasmo, festa e cervejada full time?
''Quando eu tiver dinheiro aos milhões, o amor da minha vida, a família construída (incluindo netos e bisnetos), o trabalho ideal e tempo livre para curtir cada segundo''. Nem em filme esse cenário se realiza. O problema dessa ideia é que você fica refém do dinheiro, da família e do amor do outro.
6 – Quando faço os outros felizes
E se os outros não ficarem felizes? E se eu não conseguir agradar ninguém? E se as pessoas estiverem tristes à minha volta? Definitivamente, essa não é uma boa perspectiva, porque minha felicidade depende que alguém esteja infeliz para EU torná-la feliz.
7 – Só depois da morte
Para esses não resta mais nada a não ser esperar pelo “outro mundo”. Quanto o sujeito tiver com um câncer terminal vai estar com um sorriso no rosto de ponta a ponta. Certo? Errado, vai estar tão aflito quanto qualquer outro. Essa visão tem o objetivo de tirar o brilho da vida comum em favor de um reino celeste de puro êxtase, paraíso ou nirvana. Furada.


Minha solução foi perceber que qualquer visão dessas que apresentei é vaga por duas razões: dependem de uma condição externa e ideal e que necessariamente favoreça meus desejos.

Então, que felicidade eu busco?
Acho que a felicidade que busco não tem um objetivo final e nem um método. Não tem destino e nem caminho, mas apenas abertura.
Como um olho que tudo vê – e se ajusta à quantidade de luz que entra – essa felicidade pode conviver com qualquer emoção de múltiplas intensidades sem se desfigurar.
Se eu estiver aberto para as experiências que vivencio momento a momento sem oferecer barreiras ou obstáculos, desejos ou condições, talvez haja alguma chance.
Permitir que o toque da vida paire sobre mim sem tentar me proteger de seu aparente peso. A felicidade passa a ser uma condição de vida e não um resultado quando deixo de me projetar em outro mundo ou realidade que não a minha.

Sobre o tempo...


Quando alguém fala que o tempo cura todos os males acho isso um pouco ingênuo. É como se o tempo existisse concretamente em nossas vidas e o passar dos ponteiros num relógio criasse uma mágica em nossa mente. 

O envelhecimento não cria pessoas necessariamente mais sábias, felizes, menos egoístas ou maldosas. A aparente sensação de fraqueza física não muda o caráter e a personalidade de ninguém. O que muda é a maneira que os conflitos se manifestam, canalhas também envelhecem. A diferença é que a fraqueza orgânica os impede de aplicar golpes tão engenhosos quanto na juventude.


O passar do tempo também não faz esquecer nada, apenas distrai a aparente sensação de proximidade de um estímulo que antes era recente. Não é do tempo do calendário que estou falando. Quando o tempo de fato “cura” alguma coisa o que as pessoas dizem sem o saber é que a perspectiva de algo mudou, ou seja, é a mente da pessoa que se reposicionou de tal forma que por uma nova atitude houve uma verdadeira reabilitação.

Então, o que muda com o passar das horas? Nada, se você assim deixar. Você pode piorar as coisas com o passar do tempo. Colocar mais caraminhola na sua cabeça, adotar visões radicais e deterministas das situações. Com o passar do tempo pode se endurecer ainda mais e afirmar coisas do tipo: “já vi muito nessa vida e não confio em mais ninguém”. Onde o tempo curou? Em nada, ele só deu mais chance da pessoa formular teorias distorcidas e criar mais mecanismos de defesa emocionais em torno de algo. A memória é fantástica exatamente porque registra o que nossa emoção elege deixar marcado. O passar das horas pode criar uma reafirmação infinita que torna algo crônico. O que cura é a mudança de perspectiva, o “eureca!” que pode acontecer em 1 minuto e em 30 anos. Para a mudança de perspectiva acontecer são necessárias posturas complementares: abertura, desprendimento e humildade.

Abertura para o novo. Isso pode acontecer com a perda das forças físicas com certeza, novos valores podem ser disponibilizados para uma pessoa. Pense num homem que depositava toda sua autoestima na capacidade sexual e se vê impotente por conta de um câncer ou diabetes. Ele pode simplesmente se fechar amargurado e cheio de revolta, mas também pode repensar sua vida e tentar descobrir que ele está além do seu pênis. Esse aprendizado estava disponível a ele na primeira broxada com 15 anos de idade. Não foi o tempo, foi sua resistência a olhar o obvio diante do nariz. Ele era muito prepotente para estar aberto, mas podia não estar, independente da idade.

Desprendimento de certezas absolutas e assuntos fechados associada à abertura produz os milagres que atribuímos ao tempo. O novo se abriu, mas se eu não me dispus a abandonar o velho continuará empacado, marcado pela ignorância e rebatendo qualquer ideia que venha abrir meus olhos para uma verdade inevitável: nada nos pertence em definitivo. As pessoas mudam, os desejos oscilam, as vontades se alternam, as coisas emboloram e a vida cessa. Nenhuma ideia pode resistir a isso, se apegar na permanência infinita de qualquer coisa é um fator causador de sofrimento. O sofrimento é sinal de apego à ideia de que nada pode perecer ou se afastar de nós, principalmente aquelas que elegemos como nossas favoritas.


Por ultimo é a humildade de reconhecer que as coisas são o que sao independentes de nosso controle que nos amplia os recursos do coração para aceitar aquilo que é doloroso aceitar. Você não é perfeito, as pessoas se enganam, se perdem, se iludem, se precipitam e tudo isso pode criar desconfortos que não tenham volta. Goste ou não terá que aceitar isso. É no centro de nossa vontade mais genuína de permitir que as coisas sigam em frente que algo realmente muda. Em essência é a postura de rendição à beleza da vida (as vezes amarga para o nosso ego mimado) que cura. Quem dera fosse o tempo, e todos esperaríamos no banco da praça para curar qualquer coisa...

sábado, 12 de janeiro de 2013

''Interjeição''

''Você não vai amar como eu. Não vai sentir a minha maneira. Você não sabe de meus sentidos. Nem mesmo seria capaz de soletrar o que lhe dei em frases inteiras, sem separações silábicas, sem períodos quebrados. 

Você se aglutinou em mim, enquanto eu ia sendo sempre a justaposição do outro lado do travessão. Eu lhe dei amor em tritongos, superlativos. Você me rasgou em hiatos longos e consecutivos. Como duraram, como doeram, como machucaram minhas interjeições. 

Não lhe cabe mais entre meus versos, você não é sequer o refrão. Fez tanto para ser só um trecho solto que agora nem sei onde encaixar. Não é você o quarteto do soneto. Não é você a primeira, a segunda e a terceira linha de meu haikai. Não é mais. Não é. Você é só um cala-frio que me dá às vezes, quando vem à tona e me faz lembrar que não soube de mim, como ainda sei de suas avenidas, becos, sarjetas, já que agora eu nem te reconheço mais, nem sei mesmo por onde andar. ''


Eu precisava compartilhar esse texto (
http://apenasumafresta.blogspot.com.br/2013/01/interjeicao.html) da grande escritora Glória Damasceno [que, juntamente com Gabito Nunes (gabitonunes.com.br), é fonte de inspiração pra mim] porque é um texto que fala algo que eu queria falar ou escrever mas não consegui. Uma coisa intrigante, e irritante, é que, se você parar pra pensar, a pessoa a quem o texto se refere (subjetivamente falando) continua nos versos, estrofes, linhas e entrelinhas da autora e dos textos em que eu já falei algo parecido ou nos pensamentos furtivos meus, seus ou de Glória. Quando você ama, a pessoa sempre continuará viva em você, e não só como um cala-frio.


sábado, 5 de janeiro de 2013

Sobre o que uma mulher tem que ter





Já dizia o poeta:  ''uma mulher não pode ser lá só fruto de uma sexualidade etiquetada por nós e pelo resto da humanidade''. Ah, não. Ele dizia que uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza, alguma coisa de triste pra a gente ter certeza de que elas são de verdade. Que é pra nós, homens, sentirmos aquele gostinho salgado das lágrimas se misturando ao sabor do batom delas quando a gente for lambuzar a boca num pedido de desculpas. Que é pra gente sentir bem a diferença de um rosto macio passando por uma barba que denuncia uma certa inaptidão para a doçura.
Uma mulher tem que ter algo de fera. Algo a ver com caninos expostos e feições tranquilas que ameacem. Tem que ter essa fantasia perigosa entre uma mordida e outra, que é pra gente sentir as presas – e se sentir preso pelos olhos. Que é pra gente suar junto e fugir junto quando a coisa ficar feia pra gente. Que é pra gente entender que o descontrole feminino causa arrepios, mas a malícia da tranquilidade é mais prejudicial ainda. Que é pra gente temer perdê-las de luz apagada. Então uma mulher tem que ter algo de exibicionista a olho nu.
Uma mulher tem que saber bem sobre caminhos. Ser boa de estrada pra deixar a gente se perder nas curvas – ou na falta delas – e se divertir com a nossa falta de perspicácia à la Teseu. Tem que deixar um pouco seu lado Ariadne e se divertir como faria alguma Afrodite ou Lolita. Tem que ter aquele quê de infernal na forma com que nos despreza e nos aceita de volta. Saborear-se de improvisos e nos deixar sem fala a cada novo script, mas sem tragédia. Já basta a vocês que sejam tristes. Então recomendo que toda mulher tenha um pouco de comédia romântica, que é pra garantir um final mais ou menos feliz e um (des)enrolar de história bem divertido. Que é pra companhia ser amigável e pro tempo voar quando a gente estiver com vocês. Um pouco de teatro romano só pra rir quando Nero incendiar Roma, ou pra botar fogo em Roma e destruir tudo vocês mesmas. Uma mulher deveria ter essa noção de que o poder as pertence e nós… Ah, nós somos apenas humanos indefesos perto delas.
Uma mulher tem que ter um quê de mãe, que é pra avisar quando estamos errados e pra rir quando a gente ultrapassar o conselho e der de cara com alguma chuva de verão inesperada. Tem que ter alguma coisa de frágil, que é pra a gente poder cuidar e mimar, e também pra entrar em contradição com o que eu já disse antes sobre o poder feminino. Também pudera: o que seria de uma mulher sem a contradição específica do seu sexo? Sem os gemidos abafados ou os gritos ensurdecedores das noites bem levadas. Dos orgasmos fingidos, e mais ainda dos orgasmos intensos tidos com a vontade de quem não se importa em mostrar que chegou ao paraíso. Tem que ter um pouco de Colombina pros Arlequins e Pierrôs de plantão disputarem seu amor por entre estrofes, e um pouco de Cleópatra também, que é pra aprender sobre solidão e sobre decisões mais acertadas que a ambição nos tira.
Ah, e uma mulher tem que ter um pouco só dela, senão fica igual a todas as outras. Tem que ter aquela coisa que sirva de identificação ou apelido, que venha dela e se mostre timidamente a quem conseguir devorá-la ou desvendá-la. Tem que ter seu quê de cor de pele ou cor de cabelo. E sem essas outras identificações muito específicas. Porque homem não sabe, e nem vai saber distinguir sua mulher pela cor do esmalte. A gente sabe a mulher que tem – ou que quer ter – pelo cheiro do pescoço, pelo chamego gostoso, pelo jeito com que ela anda de chinelo e moletom na rua. Por chamar de ''morena'', ou ''minha loira'', ou ''ruivinha'', ou ''meu amor''.
Uma mulher tem que ter tudo o que puder. E tudo o que quiser. Porque, cá entre nós, não importa muito o que a gente queira que ela tenha. Quem decide no final é ela mesma. E a gente só acaba tendo uma delas se elas mesmas quiserem nos ter.