Vejo uma nova-velha moda hoje em dia: as pessoas querem ser felizes. Outro dia perguntei para uma pessoa que expressou esse desejo: “mas o que é ser feliz para você?” e ela respondeu “Ah, sei lá, não quero mais ficar triste!”. Resposta profunda como um pires. Fiz um esforço genuíno para tentar imaginar a felicidade como ausência de tristeza. O máximo que consegui pensar foi num robô. Ouvindo as pessoas cheguei a sete tipos de definição de felicidade:
1 – Sinônimo de alegria
O problema desse significado é que a tristeza passa a ser um inimigo constante a ser combatido. Acho que aquela frustração frente a um contratempo não mata ninguém. Se minha felicidade depender da ausência de tristeza, nunca serei feliz.
2 – Ausência de conflitos
O conflito é resultado de um desencontro de desinteresses entre eu e alguma outra coisa, pessoa ou situação. O problema é que estamos sempre nos desencontrando de alguma coisa. Nosso desejo é volúvel. Assim, estarei condenado também.
3 – Conjunto de bons momentos
E como mede isso? Estatística? Opinião pública? Retrospectiva do ano? Não sei dizer, na dúvida ainda continuo infeliz…
4 – Estado de perfeição
Essa é a mais difícil de dizer. O que faz da vida de uma pessoa perfeita? Quando tudo se encaixa no seu devido lugar? Então desisto de vez! Lembra aquele joguinho Tetris? Vejo a busca da perfeição como aquele jogo, nem tudo encaixa e jamais acaba.
5 – Quando meus desejos são atendidos
“Quando estou curtindo a vida sou feliz!” É mesmo? Como faz para curtir a vida? Entusiasmo, festa e cervejada full time?
''Quando eu tiver dinheiro aos milhões, o amor da minha vida, a família construída (incluindo netos e bisnetos), o trabalho ideal e tempo livre para curtir cada segundo''. Nem em filme esse cenário se realiza. O problema dessa ideia é que você fica refém do dinheiro, da família e do amor do outro.
6 – Quando faço os outros felizes
E se os outros não ficarem felizes? E se eu não conseguir agradar ninguém? E se as pessoas estiverem tristes à minha volta? Definitivamente, essa não é uma boa perspectiva, porque minha felicidade depende que alguém esteja infeliz para EU torná-la feliz.
7 – Só depois da morte
Para esses não resta mais nada a não ser esperar pelo “outro mundo”. Quanto o sujeito tiver com um câncer terminal vai estar com um sorriso no rosto de ponta a ponta. Certo? Errado, vai estar tão aflito quanto qualquer outro. Essa visão tem o objetivo de tirar o brilho da vida comum em favor de um reino celeste de puro êxtase, paraíso ou nirvana. Furada.
Minha solução foi perceber que qualquer visão dessas que apresentei é vaga por duas razões: dependem de uma condição externa e ideal e que necessariamente favoreça meus desejos.
Então, que felicidade eu busco?
Acho que a felicidade que busco não tem um objetivo final e nem um método. Não tem destino e nem caminho, mas apenas abertura.
Como um olho que tudo vê – e se ajusta à quantidade de luz que entra – essa felicidade pode conviver com qualquer emoção de múltiplas intensidades sem se desfigurar.
Se eu estiver aberto para as experiências que vivencio momento a momento sem oferecer barreiras ou obstáculos, desejos ou condições, talvez haja alguma chance.
Permitir que o toque da vida paire sobre mim sem tentar me proteger de seu aparente peso. A felicidade passa a ser uma condição de vida e não um resultado quando deixo de me projetar em outro mundo ou realidade que não a minha.
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