segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sobre despedidas






Olha, alguém me disse que você vai embora. Que vai mudar de cidade, de país, de planeta e vem se despedir. Senti um gelo na barriga. Uma vontade de sair correndo, sabe? Um ímpeto de desaparecer e voltar depois, mais tarde, quando você já tiver partido. Não por nada. É que eu não gosto de despedidas.
Não gosto, não. Não gosto mesmo desse negócio. Resisto a tudo. Jiló, muriçoca, bife duro, ar-condicionado quebrado, vizinho barulhento, internet lenta. Tudo! Menos despedida. Quem é que gosta? É, tem sempre um e outro que não se importam. Eu, não. Eu fujo, corro, me escondo. Assumo minha total e absoluta covardia. Eu sou um covarde de despedidas.
Cá entre nós, eu fico pensando que o mundo tem no mínimo dois tipos de pessoas de quem somos levados a nos despedir: aquelas cuja falta nos doerá e as outras, de quem queremos mesmo distância e não mais vê-las será um alívio. Em qualquer desses casos, o instante de se despedir é sempre difícil. De um lado, ver partir aqueles que amamos é uma coisa chata mesmo, aborrecida de nascença. Do outro, quanto àqueles que não queremos por perto, esses no fundo não merecem sequer um segundo de mesuras finais. Você, claro, é dessa gente difícil de ver partir.
Por isso eu prefiro não me despedir. Isso também acontece quando sou eu aquele que segue seu caminho pela vida. Não me despeço. Porque partir sem dizer adeus é a expressão mais honesta da minha vontade de, quem sabe, voltar! Eu troco fácil, fácil, o “adeus” pelo “até já”. Evitar a despedida é driblar o fim, guardar em nós o gosto bom do encontro e sonhar com a próxima vez.
Quer saber? Eu tenho a impressão de que não suporto esse negócio de adeus por um motivo muito simples: quando nos despedimos, nós morremos um pouco. Vamos embora com quem parte, guardamos conosco quem vai. Essas coisas de que tanto já se falou por aí. Uma despedida é um pedaço de morte, ela mesma, rindo da nossa cara, lembrando descaradamente que, olha, uma hora isso tudo vai acabar, hein! Tudo acaba como acabou a companhia do bom amigo que partiu, como o amor que esfriou, como a festa que findou na saída do último convidado. Então aproveita pra viver que a vida é agora!
Você sabe. Vira e mexe eu penso nas pessoas boas com quem caminhei por aí. De nenhuma delas eu me despedi. Ora porque não tive a chance mesmo, ora porque eu não quis. Umas eu encontrei de novo, de verdade, com abraço e tudo. Outras eu revejo sempre, reencontro-as, mas só quando penso nelas à noite, bêbado de sono e saudade. Essa noite eu vou pensar em você.
Verdade. Vou lembrar sua companhia como lembro das minhas avós no tempo em que ia com elas às procissões religiosas da infância. A gente achava bonito andar todo mundo assim, no meio da rua, no meio da noite. Os carros, as motos e ônibus, caminhões e peruas dormindo nas garagens e terrenos e cantos de calçada, os motores desligados, sonhando estradas tranquilas. O mundo se tornava apenas nós, transeuntes, pedestres tomados por uma fé tranquila, caminhando pé depois do outro na procissão. E era como se todos ali, desconhecidos uns dos outros, os rostos iluminados de velas calmas, nos tornássemos mais íntimos e melhores, mais irmãos, velhos amigos certos de que a vida era mesmo aquilo, um seguir em frente juntos.


Aí vinha o fim do cortejo, o Santo deixava o andor e voltava a seu lugar no altar da Igreja e cada família retornava à sua casa. Nós então seguíamos sem despedidas, e na manhã seguinte seríamos mais do que os mesmos estranhos de sempre.
Eu não me despedi de você e espero que você compreenda. A gente se vê na estrada. É assim a vida. Cheia de idas e vindas. Mal dizemos um “adeus” e o “olá” seguinte se precipita. A vida nos sacode pra cá e pra lá como passageiros de um ônibus sem bancos, descendo uma ladeira esburacada e cheia de curvas, conduzido por um motorista rebelde. De quando em vez, um de nós salta e toma outro rumo.
Dessa vez foi você. Eu sigo aqui, torcendo, feliz por alguém que fez de mim um ser humano diferente, nem melhor e nem pior. Mesmo sem me despedir. Você sabe. Despedir-se é morrer um pouco. E contra isso o melhor remédio é viver. Seguir em frente.
Lá vem você abraçar os que ficam. Eu vou sair de fininho. Vou ali comer um jiló, um bife duro, ser picado por uma muriçoca, desligar o ar-condicionado, dar um alô ao vizinho barulhento. E já volto, depois que você tiver partido. Deixe um abraço para mim e vamos à vida. É nela que a gente se encontra. A gente se encontra na vida.

Por André J. Gomes em: http://www.revistabula.com/3398-despedir-se-e-morrer-um-pouco-vamos-viver/


domingo, 21 de dezembro de 2014

Sobre o poder das palavras


 Sabe, algo que eu prezo muito é a palavra. Sim, a palavra, o verbo, o adjetivo usado, a oração formada, a afirmativa feita. Palavras têm um poder imenso. Elas podem expressar um sentimento, uma descoberta (à la Arquimedes e sua “Eureka!”), podem derrubar torres gêmeas, podem explodir bombas atômicas.
Mas, a meu ver, as palavras precisam ser acompanhadas por ações (e aqui uso toda a licença poética possível). De que adianta falar algo se não é possível praticar o que foi falado? O que quero dizer, senhores e senhoras, é que vejo por aí muitas pessoas que não medem suas palavras, nem tampouco medem as conseqüências de tais palavras nas vidas dos ouvintes/leitores/receptores. Daí a pessoa diz “eu não faria isso” e vai lá e faz. Diz “eu nunca seria assim” e depois recusa-se a olhar no espelho. Diz “vamos aproveitar nosso tempo juntos” e pula da barca na semana seguinte. Diz “nunca te deixarei” e deixa. Diz “sempre te amarei” e pouco tempo depois nem reconhece o outro quando se encontram na rua. Diz “serei fiel” e trai. Acabam sendo “palavras, apenas palavras ao vento”, como diria a poetisa. E o resultado disso, quem vê? Quem sente? Quem arca com as conseqüências das próprias palavras?
É importante, antes de falar algo, antes de prometer, antes de afirmar, antes de projetar algo futuro através de palavras, medir as conseqüências, fazer um cálculo juntando os fatores razão, sentimento e tempo, ou, simplesmente Pensar. Mais que isso, é extremamente importante saber que existe alguém que sofre com essas conseqüências, alguém que acreditou nas palavras que foram ditas, que levou a sério, que confiou no que foi dito. Palavras não têm valor quando as ações não condizem com a ideia que foi passada. Pessoas, por favor, sejam mais honestas. Sejam fiéis ao que falam, não sabem o quão honrado isso é.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Um dia fui ventania.


Eu vejo você e ele atravessando a rua juntos. Eu, de dentro do carro, com a cabeça escorada no banco de carona, peço que o motorista siga. Você, com ele, também segue.
Vejo as coisas que ele deve te dizer e me pergunto qual foi o momento em que eu disse algo de errado, ou se foi a maneira como eu me apresentei. Não foi num café, nem numa festa badalada , nem um esbarrão do lado esquerdo da escada rolante do shopping. Eu nem disse "prazer", nem nada, porque não sabia como seria. Se soubesse, teria dito que seria dor, mas só passei a achar isso quando te vi com ele.
Você e ele sorriem de um jeito que repuxa os lábios e faz a testa enrugar, acho que de um jeito que nunca foi comigo. Você também parece mais jovem, mentira, é a impressão que todo mundo tem quando o outro tá melhor. Mentira de novo, eu não penso nessas coisas, porque eu sinto tanto que bate uma angústia, você já sentiu como se algo te repuxasse o peito em vez do sorriso? Eu deveria estar feliz por você. Não, por que eu estaria? Enquanto você sorri e entrelaça as mãos com ele, eu lembro que não sou mais eu quem te segura. E o teu peito já não é mais porto seguro.
Eu vejo o jeito como ele te olha e nem é muito diferente do meu. Talvez ele tenha um ou dois tiques nervosos que o faz soltar piscadelas rápidas, como se fossem espasmos, mas eu não consigo achar o charme disso. Não consigo entender as coisas que ele tem e eu não tenho porque eu ainda me acho, aqui de baixo, melhor que ele. Ele não vai passar 12 horas numa fila pra comprar seu livro preferido e autografar com o chato do autor só pra te fazer surpresa numa quinta de manhã, nem vai deixar de ir trabalhar pra cuidar da tua febre numa semana em que o chefe tinha ameaçado mandá-lo embora. Ele não vai cozinhar pra você. Nem vai te dar tantas noites de amor e sexo como eu daria. Ele não vai fazer as mesmas coisas que eu, e nem eu vou fazer mais. Talvez seja essa a parte que eu mais odeio, a parte que realmente dói: quando cai a ficha de que ele não sou eu.
Você e ele comem juntos? Porque eu fico imaginando a sua rotina com ele enquanto eu abro mais uma cerveja na balada. Eu te juro, eu te vejo com ele em todo o canto pra onde vou, morro de medo de esbarrar com vocês por aí e ter que fingir que tá tudo certo, que tá tudo bem. Morro de medo de abrir meu Facebook um dia e encontrar alguma coisa que eu não queira saber, data de casamento ou noivado, sei lá. Eu não quero te ver (com ele).
Não vou entender, ninguém entende quando um amor que era nosso passa a ser de outra pessoa assim, do nada. Como se um dia você acordasse e me dissesse “querido, foi bom enquanto durou e durou enquanto tava sendo bom, mas acabou” com a voz do Projota ecoando um rap descolado pro mesmo papo velho de sempre. Será que você sofreu com a troca ou pensou demais antes de me deixar? Será que você cogitou esperar um pouco e tentar outra vez antes de encontrar nele alguma coisa que eu não tenho? Eu me pergunto, pergunto pros seus amigos e pros meus, eu jogo búzios e tarot, até voltei a acreditar em astrologia. Teu signo sou eu, meu bem.
Por enquanto só a previsão do tempo responde: depois da tempestade que você me causou, todos os outros são garoa. Ele é chuva nova, molhada, saudável, de beijo de novela. Hoje eu passo por você e espero que você lembre que um dia eu fui ventania.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Sobre o "Quase"


Foi quase gol. O que não o impediu de chorar pelo time, rebaixado, desmoralizado e humilhado mais uma vez.
Debruçara-se à janela quase a tempo. Mas perdeu a mais intensa chuva de estrelas cadentes dos últimos vinte anos.
Tirara quase sete. E ainda assim, teve que trocar o videogame por boas horas de estudo para a prova de recuperação.
Chegou quase às dezesseis. O que impossibilitou que tomasse o ônibus das quinze e cinquenta e quatro.
Juntou quase um bilhão de reais. O que não foi suficiente para que fizesse parte da lista dos mais ricos do mundo pela Forbes.
Ganhara quase sete quilos. Mas ainda assim, não era gordo o suficiente para entrar na fila da cirurgia bariátrica pelo SUS.
Quase fora diagnosticado com dengue. O que não foi suficiente para que pegasse duas semaninhas de atestado médico.
Quase fora promovido. Porém, como continuara sendo estagiário, não teve condições de pagar a viagem dos sonhos para o pai em estado terminal.
Há algo mais nocivo do que um quase? Do que uma quase conquista? Do que uma quase certeza? Do que um quase amor? Viver na iminência é ter um pé na beira do abismo e não poder se jogar ao mar. É ver o trio elétrico e não poder correr atrás por causa da perna engessada. É esticar os braços para fora da janela e perceber que o trem é tão veloz que sequer os dedos se tocaram. Porque sempre que a gente quase, a gente não foi. Sempre que a gente quase, a gente não é. Sempre que a gente quase, a gente não será.
Pela primeira vez na vida, quase gozara. Mas morreu sem saber o que é ter um orgasmo.






Por Bruna Grotti em: http://www.entendaoshomens.com.br/a-tristeza-de-um-quase/

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Quando termina sempre há um "mais um pouquinho"




O nosso trato tinha sido o fim. Exatamente assim: com direito apenas a um ponto final. Assisti pelo canto dos olhos você catar todas as tuas vírgulas, que estavam ali há tanto tempo dando sentido a uma história. Engoli minhas exclamações. Eu havia perdido o controle do enredo, e agora ele te empurrava pela porta da frente para nunca mais voltar. Quando teus passos viraram a esquina, senti uma lágrima quente escorrendo pelo canto da boca. Tinha gosto de reticências.
O nosso trato tinha sido mesmo o fim? Então diz pra mim: o que o teu sorriso está fazendo dentro da minha gaveta, descansando entre uma meia e uma gravata? Ninguém me avisou que no fim havia tantas metades. E agora, o que faço com os teus pedaços espalhados pela bagunça que a vida ficou? Tua respiração pesada ainda sopra hálito de creme dental de hortelã em meu pescoço toda noite. O a cor dos teus olhos me encurrala em cada aresta da casa. Qualquer perfume que cruza por mim na rua tem o teu cheiro. Quanto tempo demora o fim pra acabar?
Se você souber a resposta, por favor, não recorre àquele franzir de testa que me faz sentir o quanto sou estúpido. É que, pra ser sincero, eu achei que aquela conversa de “não dá mais” era tudo o que bastava...ela devia ter apagado da minha memória o teu riso frouxo enquanto me olhava absorto... Devia ter me feito esquecer como o teu corpo tem sabor de estar em casa, e eu nunca mais saberia o som da sua voz ou o cheiro do seu travesseiro e a travessura exata que conta a história de cada cicatriz que você herdou da infância. No fim, não era pra eu conseguir lembrar a posição da tua escova de dente na prateleira, ou dos teus neologismos em meu vocabulário.
O nosso trato tinha sido mesmo o fim. Mas enfim… não dizem que é depois dele que surge um novo começo? Esquece a coerência, escuta o coração. Se ele ainda bater no mesmo compasso, então muda o teu passo e vem bater no meu endereço. Não aprendi a dançar, mas ainda sei fazer rima. E lembro exatamente a receita que você gosta: vou combinar açúcar e canela e falar mesóclises ao seu ouvido. Não se preocupe, não vou esperar resposta. Quero apenas que você tire o caderno das minhas mãos antes de eu terminar a última estrofe, me abrace forte e me arranque um beijo. Acelera a minha respiração, faz eu me perder no teu labirinto de poros e pelos. Não, não me deixa terminar. Antes, me entrega teus arrepios, saliva e suor. Me cega para o que difere o tesão da coesão. Me fere, carrega pedaços de mim em tuas unhas e me faz esquecer as outras dores. Não espere: venha buscar o último verso em meus lábios e suga-lo do íntimo da minha alma – você conhece o caminho à beça. Não tenha calma. Minha poesia e meu coração têm pressa.








Adaptação/paráfrase do texto  "Quanto tempo leva pra esquecer alguém", de Sâmia Louise, publicado em: http://www.casalsemvergonha.com.br/2014/11/12/quanto-tempo-leva-pra-esquecer-alguem/


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A velocidade da resposta prova o quanto você gosta







A gente sabe bem como levamos a vida. Algumas vezes até podemos não saber o que fazer, mas sempre sabemos o que não fazer. Tolice é negar que não sabe quando está fazendo uma coisa que não gostaria que fizessem com você.
É engraçado pensar que a certeza que hoje você pode ostentar pode se fazer contra você amanhã. Ou seja, a pessoa que corre atrás de você hoje e que você insiste em ignorar é exatamente você amanhã correndo atrás de outro alguém que vai insistir em te ignorar. Por outro lado, não é pra fingir sentir uma coisa quando na verdade sente outra. É só pra se colocar no lugar. O lugar mais difícil do mundo de estar é no lugar do outro. Você sabe quando tem alguém se interessando por você. Dá pra perceber os sinais, dá pra contar na quantidade de exclamações no fim das frases ou na inclusão de um coraçãozinho em ou outro momento da conversa ou até mesmo na sua inserção nos planos de fim de semana desse alguém. E disso pra um apelido carinhoso é um pulo. Você sabe. E outra coisa, você sabe quando está dando abertura para que sejam assim com você, pois como sabemos: pode até não saber o que quer, mas sabe bem o que não ser, então, você sabe o que fazer para cortar esperanças ao invés de cultivar ainda mais.
Talvez não seja tão definitivo dizer que a velocidade da resposta prova o quanto você gosta. Você pode realmente ser uma pessoa desligada e que se perde nos contatos e no que estão te dizendo ou talvez você simplesmente se ocupa muito que não dá tempo de responder depressa. Mas é interessante refletir sobre: 1) como você se comporta quando te respondem rápido 2) como você se comporta quando está esperando uma resposta. E nós sabemos que quando somos nós quem espera os pesos parecem ser diferentes. Em pensar que já achamos gentil que puxassem a cadeira ou que fizessem questão de pagar a conta, hoje a comemoração é com a resposta depois do “visualizada”. E o louco é que as pessoas continuaram as mesmas, sentindo as mesmas coisas, só que com as novas ferramentas, elas meio que se confundiram no modo de ser e se expressar. Presta atenção na velocidade com que te respondem. Presta atenção na velocidade com que gostaria que te respondessem. É naquela conversa despretensiosa que existe um jogo que não tem vencedor. Nem tudo é pela vitória. Há tentativas que são mais prazerosas que realizações. Não tem o que competir, não tem o que calcular, é preciso respeitar a música que diz da importância de saber viver. É preciso pagar pra ver no que vai dar, é preciso tentar antes de lamentar. “Mas eu tenho preguiça, eu cansei” – então você pode escolher qual cemitério dormir à partir de amanhã já que se dá assim por vencido, já que a sua vida não tem mais motivo.
Muitas vezes você se vê reclamando que ninguém te dá atenção, mas você não reconhece quem te dá. Não se trata, porém, de facilitar para quem demonstra que gosta de você. Essas coisas não funcionam assim. Mas é para você enxergar em quem tem tentado te fazer bem um jeito de você fazer o mesmo quando estiver sentindo algo parecido. Você não precisa ficar com quem quer ficar com você, mas seria bonito se você soubesse respeitar. Hoje em dia, nós sabemos, é tão difícil identificar quando a intenção é boa, mas isso não pode afastar as boas pessoas.
Eu sei que já encontrou em alguém do passado algumas coisas que sempre sonhou viver. E que muitas dessas coisas te parecem repetitivas para reviver com um novo alguém. Mas quem pode te garantir isso? Sabemos como chocolate é bom e qual sensação proporciona mas nunca paramos de comer o mesmo chocolate. Esse negócio de planejar o calendário é tão pessimista. Ter a pretensão de querer saber como lidar quando o coração bater é como se quiséssemos escolher o jeito que o dia vai nascer, esquecendo que, tem vezes que a gente gosta de dias de sol, tem vezes que a chuva é que faz bem. Não é pelo sexo, não é pelo tesão, é por algo muito antes disso e talvez até mais valioso: é por atenção.
A velocidade da resposta prova o quanto alguém quer saber da sua opinião; prova o quanto alguém está se esforçando em se fazer interessante pra você; prova o quanto alguém abre mão de outros momentos da vida, de outras respostas respondidas, para ter aquela só pra você; prova que pra esse alguém você é quem mais importa e merece saber. Dá pra ver por essa ótica? Dá pra pelo menos tentar? Dá pra parar de julgar como esse “câncer” chamado “grude”? Dá pra reconhecer que você no lugar desse alguém faz exatamente as mesmas coisas? E vale repetir: não se trata de você ceder e tentar por tentar, se trata de você fazer sua parte pra ver no que vai dar, e ainda que não renda beijos, pode te render outros bons momentos. Não é só de amor que se vive. É da conversa de “Tá melhor que ontem?” de alguém preocupado com você. É da conversa de “Pensei em te chamar pra jantar!” de alguém interessado em ter sua companhia. É da conversa de “Qual o seu maior sonho?” de alguém curioso em saber mais sobre coisas que você sempre quis falar.





Por Márcio Rodrigues em: http://umtravesseiroparadois.wordpress.com/2014/11/05/a-velocidade-da-resposta-prova-o-quanto-voce-gosta/


domingo, 2 de novembro de 2014

Por um amor em que eu não precise mendigar reciprocidade


Eu queria não precisar te pedir pra me amar, não precisar emitir nenhum ganido agudo da noite de domingo pra segunda sabendo que você não vai ouvir. Queria ter um zíper dos pés à cabeça pra mostrar como as coisas funcionam aqui dentro, pra ver se você entende um pouco sobre como eu me sinto. Faz quanto tempo que você foi embora, um mês ou dois, por aí. Então por que você não vai embora de mim também?
Pensei que fosse fácil guardar isso num baú. Foi paixão de primavera, meu doce outubro. Foi uma coisa sem começo e sem final, despretensiosa, como um filme da Sofia Coppola. Poderia ser "Somewhere", mas até no filme a Elle Faning ajuda Stephen Dorff a se achar. Me sinto como naquela cena inicial, sabe? Com o carro dando voltas e mais voltas sem sair do mesmo lugar. Só pra me cansar, gerar algum desgaste, pra ver se dá a hora de ir pra casa e não querer mais brincar de você.
Não é tão fácil assim esquecer um amor. Um amor que tinha tudo pra acontecer, mas você não quis. Se não queria, por que me manteve ali e me fez acreditar que sim, que a gente teria a cena de beijo de despedida no aeroporto, que eu ia passar minhas férias com você, que eu me sentiria um menino correndo na praia de Ipanema no momento exato do pôr-do-sol? Você não fez, foi culpa minha, fui eu que coloquei tudo isso aqui dentro e não consigo mais tirar. Mas olha, você bem que podia. É que. Esquece.
Eu te quero pra caramba. Como eu nunca disse pra alguém que queria. Te quero com sotaque, com selfie no espelho, com essa mania chata de achar que todo mundo é bobo e só você entende das coisas. Te quero, mas machuca muito te pedir amor. Principalmente quando percebo que talvez você não o tenha pra dar. Não pra mim, no caso.
Eu não quero pedir pra ninguém me amar. Por isso mesmo é que não te peço. Te deixo ir morrendo feito o Joel, sou Clementine. Escolhi te apagar, mas não tem método. É tempo e choro, gente e choro, tristeza e choro, até que fique alguma coisa, mas o choro seque. Quando secar, eu te digo que eu tento de novo – não com você. Tento e espero mais amor, mas sem favor algum. Sem pedido e sem vertigem dessa vez.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Feche a porta ao sair.







Eu já entendi que não vai ser como eu gostaria. Entendi que talvez realmente estejamos em fases diferentes da mesma vida e que a nossa poesia não faz mais rima. No começo, confesso, me recusava a acreditar, por um só motivo: eu não gosto de dar adeus as coisas que não cheguei a conhecer como gostaria, feito dias curtos de sol. Fico triste quando o sol sai e eu não estou lá pra vê-lo. Daí essa tristeza vai embora quando lembro que amanhã ele pode aparecer de novo e ficar por mais tempo, além de mais bonito e cheio de energia.
Tenho funcionado assim com você. Bobagem a minha tentar insistir em uma história sozinho. E às vezes a gente ignora alguns sinais que o destino dá, né? Acho que eu fazia questão de ver os dias ruins como algo não tão ruim assim, quando na verdade foi ruim mesmo, não tinha o que amenizar. Acho que no fundo eu não queria acreditar que o pouco que chegamos a construir estava ruindo. Por outro lado, no entanto, eu gosto desse meu jeito. Gosto de enxergar uma possibilidade de sorriso no meio do pranto. Gosto de pagar pra ver se estou errado. Gosto de tentar até que eu não possa mais. Gosto de prestar atenção nas batidas do meu coração pra saber se é razão ou ilusão. Até porque tem vezes que o coração engana. Ou sou eu que penso que ele quer dizer uma coisa quando na verdade diz outra. Olha aqui eu parecendo louco procurando conforto na dor.
Nossa poesia ainda rima, antes era com amor, agora com dor. E isso não é de todo o mal. Quando criança, precisei cair pra aprender como é difícil levantar e como é importante valorizar as quedas. A dificuldade que temos em aceitar os fins nos cega pra enxergar os começos. Todo mundo sabe que o mundo dá voltas, mas pouco mundo lembra que vivemos em voltas diferentes do mesmo mundo. Olha que louca a vida, não é mesmo? Eu deveria estar chorando ao falar da sua partida. Eu deveria estar ligando para amigos para desabar ao te ver indo embora. Eu deveria estar ouvindo os refrões mais tristes para que me traduzam essa despedida. Mas não estou fazendo nenhuma dessas coisas. Eu estou te dando "tchau" pra poder dar um "oi" mais rápido pra quem aparecer. Se eu falar que estou feliz eu vou mentir. Se eu falar que não vou conseguir viver sem você, também vou mentir. Estou nesse mundo pra unir lições que me façam uma pessoa melhor. E durante essa minha fase você estava me ajudando nisso, agora não está mais. Simples assim. Eu já entendi que não vai ser como eu gostaria. Vai ser um erro eu me obrigar a postar frases ou imagens com mensagens pra aparentar superação. As coisas vão passar. Eu preciso te deixar ir embora pra dar espaço pra quem quer ficar. A matemática dos relacionamentos é sempre = coração.
Acho que ainda não quero falar de saudade. Já me ocupa muito a cabeça pensar sobre não ter mais o que já tive um dia. Está tudo bem, você pode ir. Leva com você o que deu tempo de te passar do que já aprendi, leva a certeza da minha dedicação. E eu vou ficar. Vou ficar com o que deu tempo de me ensinar e com a certeza da sua dedicação, nem que só enquanto a gente se beijava. Não comemoro, mas também não choro ao te ver partir. Mas por favor, feche a porta ao sair. Tenho um espaço velho pra alguém novo ocupar.

Por Márcio Rodrigues em: http://umtravesseiroparadois.wordpress.com/2014/10/26/feche-a-porta-ao-sair/

Por que não eu?





Por mais evoluído que eu tente ser, rejeição ainda me machuca muito. Não tenho distinção quando se trata do assunto: me sinto ferido do amor platônico que nunca soube que existia algo ao telefone desligado na minha cara num sábado à noite. Faz com que eu me sinta mal comigo mesmo e admito que tem a ver com o tal problema amoroso, mas com o fato de atingir diretamente meu ego. Touché! É como se espetassem minha autoestima e jogassem lá pra baixo pra eu ficar cantando Leoni no sofá. Por que não eu?
Parei pra pensar um pouco em como ser rejeitado me afetava. Sabe quando você se sente um lixo esquecido na lixeira de um apartamento quando os donos viajam? A sensação é essa, de desamparado e dor, de pouco valor. Você começa a se achar feio, a culpar sua aparência, a questionar seu nível de intelectualidade e até quão interessante você é. O mais incrível é que talvez você nem quisesse tanto a pessoa assim, mas isso te abala.
Noutra semana dessas saí com alguém que queria muito conhecer. Papo bacana, estendemos, sexo incompatível e fim de papo. Nem uma palavra sequer depois do ocorrido. Nem um “não gostei de você, mas podemos ser amigos”, afinal de contas o assunto fluía e a gente conseguia falar sobre uma infinidade de mundos em um minuto. Mas por que eu me importava tanto assim se eu mesmo senti que não era quem eu queria? Por conta do descaso. E eu tenho ânsia de desfechos, aprendi que as reticências dão muita agonia já que nenhum dos três pontinhos encerra coisa alguma.


Pensando nos amores que tive, alguns até me deram bons desfechos. Mas não colava aquela ideia de que simplesmente não combinávamos. Não, quando a gente toma um pé na bunda, a gente quer realmente sentir o pé na bunda e saber a marca do sapato. Acho que é uma maneira que encontramos de justificar, pra fazer com que nos sintamos melhores conosco. Um tipo de “aquilo não tem a ver com o fato de eu gostar de séries e ser sedentário, é por conta de outra coisa”. Só que tem muita coisa que não tem justificativa e não oferece desfecho. Não bateu o santo, a pegada não agradou, o beijo enrolou. E talvez a gente sinta isso e nem queira muito, talvez nós mesmos colocássemos um ponto final na história mais tarde, mas a rejeição bota lenha na fogueira e faz a gente cismar de pés juntos que queria a tal pessoa.
Já me senti horrível porque preferiram algum amigo ou conhecido a mim. Já fiquei mal por dias por me achar um mala já que aquela resposta no celular nunca chegou. Cansei de tentar culpar algo em mim até entender que pessoas vêm e vão naturalmente e que sentimento ou empatia não acontecem por mérito nosso, mas são sentimentos que florescem. A nós cabe a missão de sermos nós mesmos, de alimentarmos nossas paixões ao nosso jeito e torcer pra que a pessoa se identifique, goste e fique. Também tenho tentado trabalhar melhor a mensagem de que não dependia de mim, de que fiz o máximo que podia e que não há nada que eu possa mudar pra conquistar alguém.
Elimino a culpa dos amores que eu não queria que acontecessem, convivo com o incômodo dos que não quiseram acontecer comigo. E é um trabalho árduo isso, confesso. No fim, por mais que eu tente, eu sempre acabo voltando à canção do Leoni e me oferecendo. A diferença é que a oferta é imaginária, e se dissipa bem mais rápido. Não atravessa a noite. Se não tem nada pra depois, também não vai ser eu.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O que dizer desse alguém que mal conheço?


"Por enquanto posso dizer que me faz bem. Que coisa boa ter um nome pra justificar esse meu frio na barriga; ter um nome a quem responsabilizar por essa coisa toda de rir sozinho pro celular. Mudei tanto desde que me conheço por gente e as histórias que já vivi – com todos  os “eu te amo” e os “não quero mais” –  me ajudam a me equilibrar quando sinto que estou começando a me precipitar. Tem horas que eu gostaria de controlar o que sinto, sabe? Tem horas que penso que não devo mandar uma mensagem pra não parecer assim, como dizem, grude. Mas é tanta vontade de mostrar um sentimento bom que acho injusto guardar só pra mim; é egoísta.
Demonstro que gosto não por alguém ou por mim, mas pelo que sinto. Eu ainda nem sei quem é você. “Ah parece que a gente se conhece há mil anos”, que nada, a gente se conhece a mil minutos. E ao mesmo tempo que isso é assustador é excitante. Não saber quem é você me dá medo de saber que você é só mais um alguém pra me machucar, assim como outros que já conheci. Não saber quem é você me dá um frio na barriga em te desvendar um pouco mais a cada “Tudo e você?”. Estou gostando desse negócio de te ouvir dizer como vê o mundo. Acho que essa é uma das melhores partes em conhecer alguém, né?
Um alguém novo é a chance que a vida nos dá de sermos pessoas novas com sentimentos velhos. Sabe, aqueles sentimentos, tipo aquela velha vontade de passar o fim de semana assistindo seriado sem sequer trocar de roupa; aquela velha vontade de trocar o nome no celular por algum apelido pra chamar de nosso. Alguém novo renova a nossa velha vida. Estou gostando de como você está gostando da gente. Porque penso que seja por aí né: é preciso que gostemos do que somos juntos para que possamos ver valor no que estamos vivendo. Eu posso ser uma pessoa maravilhosa, mas nem tão maravilhosa assim com você e vice-versa.
As coisas começam a dar certo quando você começa a não dar atenção. Confesso: já planejei algumas vezes. Tipo, pedi até pra Deus “alguém que preste” na minha vida. Como se eu fosse alguém pra me julgar que oficialmente presto, né? Tive que aprender vivendo que o que penso ser o meu acerto pode ser um erro pra alguém. Eu sei do que sou, mas não posso garantir que todos saberão disso. Então, nessas de pensar nisso tudo percebi que os dias viviam em mim e não eu que vivia os dias.
É necessário viver os dias ao invés dos dias viverem em você. Porque do contrário você acaba vivendo do passado. E passado nenhum mantém felicidade no presente. Já me perguntei o que vai ser da gente. Me perguntei se você gosta mesmo quando te pergunto se está tudo bem ou comento que você deve se cuidar e comer melhor. Me perguntei se eu gosto do seu jeito de demonstrar que gosta; se isso é algo que eu quero pra mim. É natural pensar essas coisas, a gente tem medo de perder tempo. Por isso todo mundo gosta de um horóscopo: nada como saber como vai ser o dia pra saber como se comportar. Só não sei até que ponto isso é positivo. Qual a graça de ver o filme sabendo o fim? E essa nossa vida é um filme que escrevemos a cada dia.
Eu não te amo. Não ainda. Não deu tempo. Nem sei se vai dar. Não sabemos. Eu te quero bem. Dizer isso não é tão bonito quanto amar? Pode ser até mais real porque querer bem é fazer por onde para que a pessoa se sinta bem todos os dias. Tem gente que diz que ama só pra não dizer mais nada. Parece que amor virou aquilo de “É isso que você queria ouvir? Então toma! Agora me deixa em paz!” As músicas da moda e as cenas da novela conjulgam o amor entre um gole e outro ou entre uma lágrima fingida e outra.
Amor é aquilo igual que sentimos de jeitos diferentes. Você não me ama. Não ainda. Não deu tempo. Nem sei se vai dar. Não sabemos. Mas você me faz bem. E é tão bom quanto dizer que ama. Pra mim é especial saber que você tem um jeito diferente por dia de me agradar. Afinal, o que dizer desse alguém que mal conheço? Realmente não sei. E tudo o que sinto sobre você eu já te contei.
É preciso contar para as pessoas o bem que elas nos fazem. Estou regando a minha confiança em você pra colher amor. Se o tempo não ajudar, pode ser que nem chegue a florescer, mas se ajudar, pode ser que seja mais rápido do que eu pudesse imaginar. E isso nem faz tanta diferença no fim.
Eu ainda não te conheço e bem gosto disso. Grande coisa seria concluir que: “pronto, agora conheço 100% de você”. Nunca poderei assegurar uma coisa dessas. Eu quero mesmo é que você mude! E eu também. Quero discordar hoje e mudar de opinião amanhã, entendendo que faz bem eu me rever e voltar atrás. É bobagem a prisão de definir a alguém que: “eu te conheço tão bem, mais do que a mim mesmo”. Conhece nada! Amanhã esse alguém se cansa de você e vai embora. E do que adiantou dizer que conhecia tanto?
Mas você é alguém que mal conheço e já considero um bocado. Bom é viver na velocidade com que o coração bate. Se ele acelerar demais, vou poder dizer mais o que sinto; se de menos, é preciso eu respirar mais entre cada uma das batidas que ele dá. Por enquanto posso dizer que você me faz bem. E isso já é muito pra alguém que mal conheço"

Por Márcio Rodrigues.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Carta pra te dizer que estou feliz






Só escrevi pra te agradecer.
Ao teu lado, sempre me sentia estúpido e desajeitado. Eu costumava policiar meu jeito de comer e de sentar porque, pra você, eu era relaxado demais. Antes de você chegar, eu corria pela casa arrumando as pequenas bagunças que te irritavam, para que teus olhos percorressem o meu corpo ao invés de reparar no casaco largado pela cadeira e nos pratos ainda sujos do almoço. Nunca gostei dessas bandas psicodélicas que você colocou no meu celular. Eu gosto mesmo é de Samba, mas você fez eu me sentir um burro quando eu te contei.
Ao lado dela, eu posso gargalhar alto e andar de pés descalços. A gente até costuma pirraçar um ao outro falando com a boca cheia de Doritos. A última vez que isso aconteceu, eu quase engasguei, pensando no que você diria se me visse daquele jeito. Com ela, entrego-me ao prazer de ser um pouquinho preguiçoso e deixar para amanhã os pratos que sujei hoje. Quando giro a maçaneta, ela está se lixando se o meu sapato está largado pela sala. Ela só quer mesmo me amar depois de um dia cheio e cansado. E só surge uma pequena impaciência nos olhos dela na hora de abrir o fecho do sutiã que eu não sei abrir.
Ao teu lado, eu não era eu. Era a pessoa que você queria que eu fosse. Nada em mim respira aquele menino bem comportada, de fala delicada e que faz um sexo sem graça uma vez por semana. Eu respiro vida, alegria, desejo e diversão – pena que você nunca quis conhecer o meu mundo. Presa na tua bolha de arrogância e mente limitada, nem notou que a cada estupidez gratuita eu me afastava um pouco mais. E mais. E mais. Sabe aqueles dias em que eu te falei que precisava trabalhar até mais tarde? Era só para adiar o momento em que eu teria que encontrar com o teu mau humor.
Ao lado dela, tudo termina em sorvete, chocolate, pizza e massagem. Confesso até uma leve irresponsabilidade: quando ela está deitada no meu peito, esqueço o mundo, esqueço tudo, esqueço a hora do trabalho. Para ela, se eu quebro um copo, está tudo bem, porque é só um copo. Ela só corre mesmo para saber se eu não me machuquei. Depois, abre aquele sorrisão gostoso e brinca com meu desastre, arrancando xingos e risos. E então a única confusão que ela cria é a de misturar pele, suor e pelos.
Foi fácil ficar seduzido com toda gentileza e graça dela, quando o contraste com teus insultos era tão visível. É por isso que eu te agradeço. Talvez, se você tivesse sido um pouco mais paciente, um pouco mais amorosa, um pouco mais humana, eu não notaria os pequenos elogios que ela jogava toda manhã. Se você fosse um tanto menos orgulhosa, um tanto menos insensível, um tanto menos ignorante, eu talvez não tivesse me encantado pelo olhar de paixão e desejo que ela soltava a cada momento que a gente se cruzava.
Mas, aconteceu. Sem saber, você me jogou para o colo dela. Você foi o meu cupido. Você me fez ver as qualidades tão lindas que eu espero de uma pessoa. Você me ensinou tudo o que não esperar de alguém para passar o resto da minha vida.
Só escrevi pra te dizer que estou feliz.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Vão perguntar de você






Minha tia de segundo grau vai perguntar se você foi viajar porque a gravata não combinou com a blusa de baixo. Vai reparar nas mangas curtas e na calça desfiada na bainha. Vai perguntar  "tá tudo bem, meu filho?". Mas nunca tá. Nunca tá, mas eu não mostro.
O porteiro do Márcio vai me perguntar se eu esqueci a garrafa em casa e se mudei de carro quando eu chegar só com as fichas de pôquer e de táxi. Hoje eu não bebo, Seu Mário, o táxi é só precaução pra eu não errar o caminho de casa. Ou pra não pegar meu carro e ir até você.
Vão perguntar da gente nos lugares que a gente foi e nos lugares novos que eu nunca vou poder te levar. Vão analisar os detalhes e vão notar que hoje não tem bolsa em cima da mesa, só debaixo dos olhos. ''Mesa pra dois, senhor?''.  ''Não, ela não vem, ela já foi''. Foi, mas continua me acompanhando por aí quando perguntam sobre você. Vão me perguntar o que deu errado e eu não vou saber responder, vou engolir a seco, vou omitir a resposta e chorar por dentro. Porque pra mim deu tudo certo, todo tempo, era amor.
Lá em casa já perguntaram de você. Os quadros e a cortina que eu odeio, a quina do armário que eu quebrei num dia desses que voltei bêbado, o livro do  Kundera na estante mais baixa que era tua. Todos os cantos perguntam gentilmente de dia. De noite eles gritam por você. Até quando eu durmo um lado da cama sussurra no meu ouvido. O telefone berra, meu amor, você não sabe como berra. E berra ainda mais aqui dentro porque eu palpito, eu tremo, eu já fui do Rivotril à homeopatia pra não surtar quando o telefone toca. E desligo no primeiro ''alô'' quando não é você.
Eles me perguntam, vão me perguntar muito ainda, sempre sobre você. E nenhum deles, nem o Henrique, nem o Seu Mário, nem a Tia ou o taxista. Nenhum deles pergunta de mim. Perguntam sobre você e me exigem resposta com olhos tenros e tristes, todos eles abaixam a cabeça. Eu continuo ali, firme, fraco, desesperado e chorando por dentro. Esperando que um dia não perguntem demais, não perguntem mais, que a gente suma e que eu possa dizer que você foi embora. E que eu, eu não vou bem, mas um dia irei. Um dia eu irei também.

sábado, 11 de outubro de 2014

"Todo o mundo espera alguma coisa de um sábado à noite''


Sábado, 11/10/2014, 22h24min. Sábado. Noite de Sábado. Levei um bolo, fiquei barrado, furaram o compromisso, farraparam comigo. Solidão em plena noite do Sábado. Mais uma vez, meu cachorro é minha única companhia. “Solidão” é uma palavra que se encaixa nessa cena. Mas tem algo antes disso, uma palavrinha chave em qualquer relação humana: Reciprocidade. A correspondência mútua de palavras, atos, sentimentos, serviços, etc... No caso, trata-se da falta dela.
Você se esforça pra estar junto daquela pessoa, desmarca compromissos, decepciona outras pessoas, se atrasa nos trabalhos e estudos, fala coisas que nunca imaginou que fosse falar, faz coisas que nunca imaginou que fosse fazer. Enfim, se entrega. Se entrega como quem quer algo de verdade tem que se entregar, sem medo. E em troca recebe o vácuo, um banho de água gelada sobre suas expectativas e ações, recebe um passe para noites solitárias de netflix e pipoca sem sal.
Daí me questiono: será que vale à pena continuar a insistir? Não seria uma tragédia romântica anunciada? . Se ainda fosse a primeira vez, se eu ainda fosse 100% tolo e inocente, eu insistiria. Mas se já tropecei nessa mesma pedra várias e várias vezes, então não tem como ser idiota o suficiente pra tropeçar mais uma vez. Minha vida não tem mais espaço para moças com amor estilo Clementine Kruczynski ou Summer Finn. Bom, o que estou querendo dizer é que não vale à pena sofrer por casos sem futuro. São coisas vitais em qualquer relação humana do cunho afetivo: Confiança, Diálogo e Reciprocidade. E, obrigatoriamente, para se ter uma relação saudável, essas 3 coisas têm que coexistir.




sábado, 4 de outubro de 2014

Vem!



                                                   

''O que você quer ouvir? Aliás… O que você precisa ouvir? Eu tenho as palavras aqui, é só dizer. Precisa escutar que posso te fazer feliz? Tudo bem: Eu canto e grito a quem quiser ouvir que posso – e, se depender de mim, vou.
Eu não sei por que as coisas aconteceram do jeito que aconteceram com você. Essa explicação, infelizmente, ficarei te devendo. Mas, se você quiser, eu posso te mostrar que há sentimentos maiores e melhores que o medo.
Pode se apaixonar: Sou eu. Vai ficar tudo bem. Deixa eu curar as suas feridas com os meus abraços, afagos, carinhos. Tenho tantos beijos guardados pra você na minha boca… É só você chegar.
E, quando vier, tire tudo. A roupa, a insegurança, o receio, os pensamentos que você enraizou profundo na sua mente de que, logo, algo vai dar errado.  Venha para mim despida e se entregue, não só ao meu corpo, mas à minha vida. À nossa.
Eu vou quebrar o seu ciclo de erros. Confia em mim e acredita que isso é possível. Eu posso tornar real, mas preciso da sua ajuda. Dispensa a descrença no amor e na paixão, porque eu sou diferente.
Sou eu – apaixonado e louco por você. E o que eu tenho é maior que toda a dor que você carrega, eu asseguro. Só segura a minha mão e veja meu sorriso quando nossos dedos se cruzam. Meus olhos vão te convencer que não estou falando da boca pra fora.
Pode vir. Ainda que tímida e devagar. Eu não tenho pressa, mas eu quero você aqui por inteiro. É a minha condição: Ainda que você esteja em pedaços, quero todos. Irei juntá-los e tornar você a minha obra-prima.
Então, sem mais delongas: Vem pra mim. Vem logo. Vem.''


Por   Leca Lichacovski (2014).

terça-feira, 30 de setembro de 2014

A melhor coisa que nunca tive






Você não foi aquele encontro marcado no Shopping Iguatemi que eu liguei pra dizer que iria me atrasar porque, bem, eu nunca precisei ir. Não foi o telefonema ca-ra-de-pau do sábado de noite, de última hora porque meus amigos desmarcaram a balada, pra chamar lá pra casa e dizer que tinha Netflix, Pepsi Twist e carinho, justificando o convite com o frio que eu ainda não sentia por não ter você. Você não foi.
Você não foi quem mudou a estação de música do carro durante a viagem pra Garanhuns, justo na hora em que eu encostei os dedos no botão, senti o choque e ri com os nervos à flor da pele. Nem foi pra você que eu sorri logo em seguida numa estrada escura enquanto o sono batia como se dissesse “fica calma, eu tô aqui por você e vou te manter segura mesmo que eu fique exausto”. Não tive que te levar em casa às sextas (que seria o nosso dia) depois do jantar, e nem era por segurança, eu queria passar mais tempo com você mesmo. Também não tive que fingir azia e reclamar da gastrite quando era o começo do amor. Não precisei sentir.
Não foi você quem me pediu pra nunca te esquecer? No meio daquele cruzamento perto da Fernandes Lima, no meio de um café badalado embora fosse meia noite, quando eu não sabia mais se queria olhar pra sua cara. Foi pra você que eu não mandei as cartas, sim, eu escrevo algumas à mão e guardo, mas elas também não foram. Foi você que sorriu pra mim e disse que eu era fofo, mas fofo? Fofo é meu mundo, dizia você. Mas não disse, não pra mim.
Não precisei te contar sobre os meus amores passados e como aquilo doía. Como quebrar o coração de alguém é ter o seu quebrado pela metade. E não tive que te ouvir chorando num sábado chuvoso, me dizendo que o ex ainda balançava a tua vida. Eu só queria balançar na rede com você e dizer que iria ficar tudo bem. Eu não tive que abaixar a cabeça com receio e coração pesado por ouvir que alguém te habitava. Eu fui atrás e bati na tua porta. Mas não foi você.
Não foi pra você que eu disse que aquele meu medo bobo de ficar sozinho era precaução. Que eu só dizia que não tinha tempo, que era muito trabalho, que eu não conseguiria gostar de ninguém assim pra não confessar que, merda, eu já tava gostando. Já tinha caído, já tava encostando a cabeça no meio fio e confessando que era você. Era você que me via e não dizia nada, mas eu sentia. Sentia uma coisa bonita que há muito não palpitava, sentia uma vertigem diferente, daquelas que não doem, sabe? Sentia como se eu pudesse largar o terno e gravata pra te levar embora daqui e viver o sonho da casa, dois filhos, um cachorro, um gato e muito café. Pra mostrar como o amor é grande.
Foi você até ontem. Quando eu cheguei primeiro, num incrível ato irônico de quem só chega atrasado. Foi você quando chegou perto e jogou o braço no meu ombro, sorriu pra mim. Foi você quando as suas amigas riram baixinho quando eu disse que iria sentir tua falta. Foi você quando eu finalmente me levantei pra ir embora e dei o abraço mais apertado do mundo. E mesmo não tendo sido, não tendo acontecido, mesmo que ontem você tenha fugido e me dito que iria embora de vez, eu ainda acredito que foi você. Por uns dias ou pra sempre. No meu mundo perfeito, tudo isso teria acontecido e você nunca, nunca, nunca teria ido, mas agora você vai e eu tenho a certeza de que você foi a melhor coisa que eu nunca tive.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Sobre amores que deixam marcas


Talvez eu encontre você no final de uma segunda-feira nublada, na volta pra casa, meio cansado e mal-humorado, enquanto tento entender por que a vida não pode ser feita de manhãs de domingos. E talvez você sorria, sincera, porque tudo já vai ter passado, como sempre passa.
Talvez eu não me lembre direito por que você deixou de fazer sentido pra mim. E talvez você, ali, naqueles poucos segundos em que nossos olhares vão se encontrar, se questione por que raios foi que a gente não deu certo. Por que foi que o nosso amor não vingou.
Quem sabe eu fique amigo de uma de suas colegas de trabalho e saiba por ela que você ainda pergunta sobre mim de vez em quando. Porque, apesar de tudo o que foi gritado, você ainda lembra que curtiu muito os dias comigo. E é normal a gente querer saber se quem um dia a gente amou anda feliz, anda bem, se tá vivo. Talvez eu também arranje coragem pra contar pra ela que, entre o ódio e o desprezo que eu senti, sobrou também um tiquinho de carinho.
Pode ser que a gente se esbarre no aeroporto, eu partindo e você chegando. E aí talvez a gente perceba que nosso problema não foi sermos “as pessoas erradas”, foi só falta de timing. Eu tava sempre indo e você já tinha voltado. Eu ainda tava te amando e pra você já tinha acabado.
Talvez bata uma saudade louca no final do seu próximo relacionamento. E talvez eu tenha vontade de te ligar no dia do seu aniversário, como tive ontem. Quem sabe até eu não ligo. Não é pra pedir pra voltar, eu juro. Talvez eu apenas te deseje um futuro feliz.
Pode ser que, entre meia-noite e uma da manhã, você feche os olhos e se lembre de mim. E talvez doa (também dói por aqui) ou talvez você só sorria (é bom saber que a gente viveu tudo aquilo, não é?). Porque, talvez, lembrando de mim como eu me lembrei de você pra escrever isto aqui, a gente descubra que alguns amores marcam e ficam. Ainda que acabem. Como o nosso ficou.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Quase




Juro, tô quase te esquecendo. Tirei tuas fotos dos porta-retratos, guardei tua escova de dentes no armário e joguei fora seu antialérgico. Não compro mais rosas vermelhas, para evitar lembranças. Nunca mais cheguei perto daquele banquinho onde namorávamos, nunca mais fiz cooper  na orla e nem fui mais ao clube aonde íamos aos domingos, aquele mesmo clube que foi cenário do nosso primeiro beijo de amor. Apaguei nossas fotos do celular, deletei nossas conversas. Ainda não consegui doar as tuas roupas que ficaram aqui em casa, mas juro, tô quase te esquecendo.
Se não fossem as músicas que ouvíamos juntos e que ainda continuo ouvindo, aquela camisa azul bebê que você me deu e que é a minha favorita  e o teu cheiro, eu já teria te esquecido. Não te procuro na internet, corto caminho para não passar na frente do teu prédio, evito ir ao cinema nas sextas-feiras e na praia aos domingos. Se não fossem os filmes que assistimos juntos passando na TV pelo menos uma vez por semana e aquele cara ainda vendendo pastel misto na minha esquina, eu já teria te esquecido. Mas juro, tô quase te esquecendo.
Excluí teu telefone da minha agenda e joguei fora os meus textos não entregues pra você. Pedi pra moça que trabalha aqui em casa nunca dizer que eu estou em casa, e pedi pra os vizinhos nunca falarem de mim, e nunca mais fiz beijinho de coco e nem estudei técnicas de massagem. Se não fosse a vontade de tomar aquele drink ''Pajuçara'' na Itynerantys e a necessidade de tomar banho ouvindo música, eu já teria te esquecido. Troquei a roupa de cama, quebrei aquela xícara, joguei fora a roupa que ficou com cheiro do hidratante de maracujá que te dei e você usava pra fazer massagem em mim, mas, juro, tô quase te esquecendo. Se não fosse o curaçau blue e o sorvete de flocos, eu já teria te esquecido. Se não fosse a praia dessa cidade, eu já teria te esquecido.


Comecei a ler pra afastar a insônia, entrei na academia, fui fazer compras no meio da semana, troquei o plano de fundo da minha área de trabalho, fiz uma limpa nas minhas pastas e alterei minhas senhas. Se não fossem as pessoas sempre me perguntando sobre você e aquele coração de argila que você fez pra mim, eu já teria te esquecido. Mas eu juro, tô quase te esquecendo. Cortei o cabelo bem baixinho, deixei a barba ficar alta, no tamanho que você não gostava, comi uma caixa inteira de bis, dancei na frente do espelho até não aguentar mais, dormi no meio da tarde, cheguei atrasado numa entrevista de emprego, quebrei meu cofrinho e planejei uma viagem. Se não fosse o fato de a carteira de estudante que pedi pra você fazer pra mim nunca ter chegado, juro, eu já teria te esquecido.


Se não fosse o fato de que muita coisa ficou sem explicação e fofocas, mentiras e inveja que nos atrapalharam, eu já teria te esquecido. Se não fossem os encontros com seu porteiro Harold toda sexta-feira de manhã no ponto de ônibus, eu já teria te esquecido. Se não fosse meu casaco ainda com o seu cheiro, eu já teria te esquecido. Se não fosse a vontade de te ver todos os dias, eu já teria te esquecido. Se não fosse o supermercado aonde íamos com frequência ainda estar lá, intacto, no mesmo lugar, e com nossos doces nas mesmas prateleiras, eu já teria te esquecido. Se não fosse o vídeo game, eu já teria te esquecido. Se não fosse o twix, eu já teria te esquecido. Se não fossem as lojas que vendem cadeiras e sofás, eu já teria te esquecido. Se não fosse o espelho quebrado, eu já teria te esquecido. Se não fosse a tua voz, eu já teria te esquecido. Se não fosse a tua risada, eu já teria te esquecido. Se não fosse você, eu já teria esquecido. Mas juro, tô quase.