quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Porta aberta

Vou deixar a porta encostada, torcendo

Vou deixar a porta encostada pois sei a semente que plantei

Deixo a porta entreaberta por acreditar nos meus sonhos

Deixo a porta entreaberta por saber que ofereço algo raro em meio a essa modernidade líquida

A porta está aberta pois sei o caos que habita em nós e como o mundo gira, como o mundo capota

A porta está aberta pra que você possa entrar de mansinho e me surpreender querendo ficar

Mantenho a porta aberta tal qual o céu esperando o voo do pássaro

Tal qual a lua sabendo que encontrará o mar toda noite e o mar sabendo que encontrará o sol ao amanhecer

A porta está escancarada pois sei o peso e as consequências da poesia que sai do coração

A porta está escancarada pois não tenho medo, sou paciente e confiante

A porta está aberta, señorita Alarcón, a porta está aberta

 

sábado, 31 de julho de 2021

Señorita Alarcón


        Sinceramente falando, achei que nesta vida eu não conseguiria mais me encantar por alguém. Carreguei essa certeza comigo por quase mil dias e mil noites. Até que conheci a senõrita Alarcón. Sabe as cenas clássicas de cinema em que a personagem é exageradamente bonita e imponente e chama a atenção de todos por onde passa? É EXATAMENTE assim que acontece com a señorita Alarcón!



Ela é uma verdadeira obra de arte dos genes: ela tem um sorriso encantador. Talvez seja o mais bonito que eu já vi. Ela sorri com todo o rosto. Com covinhas na bochecha e quase fechando os olhos; olhos absurdamente bonitos e que dão vontade de ficar olhando profundamente por horas e horas. Daria pra se perder olhando para aqueles olhos... Ela tem um cabelo cacheado perfeito, parece aqueles cacheados de propaganda de Shampoo. Uma voz que parece música. Eu a ouviria chamar meu nome todos os dias sem reclamar. E os lábios? Muito atraentes, uma perfeita simetria...mas não olhe muito ou acabará sonhando com eles! O cheiro dela também é hipnotizante. È um cítrico amadeirado com leves tons florais. É um aroma que pode impregnar facilmente todos os seus neurônios, pode apostar. Você tá lá fazendo uma torrada para comer no café da tarde, mas sente o cheiro dela de forma muito vívida, como se ela tivesse adentrado na sua cozinha naquele instante (mas ela está a 41 km de distância da sua cozinha naquele horário). E o corpo? O corpo dela é um paraíso. Cada curva, cada cor, cada detalhe, cada sinal. Tudo parece ter sido feito com muito zelo e paixão. Uma obra grega. Ela é a poesia mais bonita que eu não escrevi.

Mas não se engane, caro leitor. Não estou falando apenas de uma beleza colossal. A señorita Alarcón encanta principalmente por suas características não físicas. Ela tem garra, bondade, pureza. Ela é a própria perseverança em pessoa. Muito empoderada, socialmente engajada. Tem um senso de humor incrível. Ela é forte, justa, muito sábia, elegante e simpática. Ela é metal, MPB, pop e jazz em uma só pessoa. Ela é intensa, ela é enérgica, ela é doce. Ela é incrível!

Sabe aquela cena do Aladdin falando da princesa Jasmine para o gênio? É exatamente assim que eu fico quando estou falando sobre ela. O meu gato Tom já deve estar de saco cheio de tanto que eu falo dela... e, por falar em princesa, caro leitor, te digo que a señorita Alarcón é um mix de princesas da Disney: ela tem um quê de Ariel e Esmeralda, um pitada de Jane, um pouco de Cinderela...ao mesmo tempo, sua liberdade, inteligência e empoderamento a fazem se parecer muito com a Valente, a Moana ou a Raya.



E é tão bom estar com ela...dá pra conversar sobre política, sobre cultura, sobre religião, sobre a sociedade. Dá pra fofocar, dá pra fazer piada sobre tudo. Dá pra falar do preço do tomate, dá pra falar sobre o passado e sobre o futuro. Dá pra falar sobre sexo, machismo, causas sociais. Dá pra falar  até sobre mim. E eu até tento falar mais grosso, parecer forte, bruto e insensível como os caras que devem atrair ela. Mas quando eu estou com ela eu só consigo ser eu mesmo. Sabe com quantas pessoas eu consigo apenas ser eu mesmo? Só com meu gato. E ele não é uma pessoa, claro. 

O beijo dela é viciante. O sexo com ela é pura cósmica, eletromagnética, é muita química... Acho que encontrei, finalmente, minha mega-sena acumulada. Sabe a mega-sena da virada? É isso. Ela me faz tão bem. Ela me quer também. Minhas risadas têm sido tão felizes e, como um bobo romântico, já vivo fazendo planos futuros com ela, já imagino cenas, momentos e conquistas ao lado dela. Todo dia quero saber mais sobre ela, quero conhecer seus gostos, seus sonhos, suas metas, seus defeitos, seus medos. É como se eu estivesse descobrindo uma nova galáxia. CARALHO, ACHO QUE ESTOU APAIXONADO! Mas será que chegou ao fim a saga do poeta solitário?

                                 



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

quinta-feira, 5 de março de 2020

Adeus, Ariana.


Como uma boa Ariana, ela era dotada de muita honestidade e sensualidade. Tipo a musa do Djonga em “Tipo”. Com um andar bonito e um brilho no olhar, como descreveu Seu Jorge. Amor e caos. Romance e putaria. Muito Banho de Sol, como na música do Baco. Eu gostava tanto de vê-la sorrindo, como o Caetano gosta de ver o Leãozinho. Ela era a Padmé e eu o Anakin. Eram tempos de luz, felicidade e descobertas. Eu sentia que eu era o Cristóvão Colombo, na Millennium Falcon, conhecendo uma nova Galáxia. Eu falava sobre ela para o mundo de uma forma que a Via Láctea parecia algo pequeno e sem graça.
Como em toda relação, houve uma onda de desventuras em série. Eu errei. Ela errou. Mas eu nunca desisti. Lutei, corri mais que a Lola Run, suei, suei, suei. Só Deus sabe quantas vezes morri por aquela morena. Eu dei tudo de mim, porque pensei que ela também daria. Mas, como uma boa Ariana, ela também era dotada de impulsividade e impaciência. Com uma melhor “amiga” bastante cancerígena ao seu lado, o final da história já estava traçado. Me diga, quem termina uma longa relação via Whatsapp? Muita ingratidão, imaturidade, desrespeito. Com certeza, Dostoiévski ou Machado de Assis a aconselhariam melhor. Mas, no fim, quem toma a decisão de ficar ou partir?
Eu implorei, “don´t be cruel”, como fez o Elvis Presley. A resposta foi amarga Qui nem Jiló. Por meses tudo foi difícil e triste. Dava pra ver o tempo ruir, como no Oceano de Djavan. Descobri que havia um alçapão abaixo do fundo do meu poço. Senti na pele um melodrama que só havia visto em filmes cults, no estilo “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Mergulhei numa profunda letargia.
Um branco, um xis, um zero. Não dá pra viver só de lembranças do que foi bom, não dá pra parar o relógio ou voltar no tempo. Me reergui. Me cuidei. Me curei. Meu samba de roda voltou a ter graça. O Flamengo é o campeão da América. Sou mestre, serei doutor. Atenção plena. Estou mais forte, são e lúcido. Atento, sagaz e astuto. Sigo invicto igual àquela do Filipe Ret. Estou pronto para um novo amor. Seguirei sempre sendo aquele que ama. E esse texto cheio de referências difíceis de entender é simplesmente pra dizer: Adeus, Ariana!

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Maturação




Desequilíbrio
Ópio
Sarabulha
Ilusão

Lítio
Ódio
Clausura
Solidão

Atrito
Desbrio
Tristeza
Podridão

Na alma
Um corte
Matura
A DEPRESSÃO.

domingo, 24 de junho de 2018

OHANA



Quando o amor é de verdade a gente enfrenta altos e baixos, perdoa falhas, engole o orgulho, aprende a domar o ego. Quando é de verdade a gente pensa em casar, ter filhos, bodas de prata, netos, bodas de ouro...Quando é de verdade, a gente pode ter tudo, mas falta tudo se o ser amado não está por perto. Quando é de verdade, a gente abdica de muita coisa, de muita gente, para refazer a rota e ajustar o leme. Quando é de verdade a gente muda, fica mudo, a gente se abaixa, às vezes até se rebaixa, pinta o cabelo, corta o cabelo, faz tudo o que estiver ao alcance para buscar agradar o outro e buscar um equilíbrio. Quando é de verdade a gente enfrenta fúrias, terremotos, furacões e cataclismos...a gente enxerga o mundo com outros olhos, a gente vê a vida com outros olhos. Quando é de verdade, a gente cria um mundo único, singular e puro, jurando que ele está fora do alcance dos Thanos e Galactus da vida, uma verdadeira Ohana, um porto seguro aonde podemos voltar sempre que tudo der errado, e que nunca irá nos abandonar, independente do que aconteça. Quando é de verdade, a gente costuma esquecer que do outro lado existe um alguém que pode achar que tudo é  de mentira.

domingo, 27 de maio de 2018

A Lâmina fatídica e maligna da vida humana



Traição. Covardia. Deslealdade. Mentiras. O coração sangra. A alma chora. As cores somem. Os cheiros cessam. Os gostos amargam. As boas lembranças torturam. Porque as pessoas fazem o que fazem? Porque machucam alguém que só deseja o seu bem? Porque falam o que não querem falar? Porque fazem o que não querem fazer? Porque simulam? Porque se vitimam?

Depressão. Cigarros. Envelopes Tarja Preta. Vinho. Lâminas. Suicídio à beira do precipício. A traição é como uma lâmina negra coberta de veneno. Entra nas suas costas acertando em cheio esse músculo pulsante do lado esquerdo do peito. Rasga. Adoece. Apodrece. Enlouquece. Porque as pessoas traem? Porque as pessoas se comportam feito animais? Bárbaros civilizados. Sem dó, sem pena, sem pudor. Massacram o ser amado. Matam sorrisos. Matam os carinhos. Matam os planos. Matam o futuro. Matam o amor.

domingo, 20 de maio de 2018

O que fazer com a saudade?


Absolutamente nada.
Ela irá entrar pela porta da frente, sem convite. Sentar no seu sofá, vestindo suas roupas e com o controle da tevê nas mãos. E, em pouco tempo, será tão familiar que ficará até difícil pedir que se retire. Então você irá observá-la, petulante, enquanto ela cresce bem diante dos seus olhos, como um grande pão sendo fermentado, mesmo que você se recuse a alimentá-la. Saudade se retroalimenta, é autossuficiente como você gostaria de ser.
A saudade é ousada e indiferente, não se importa se você é um péssimo anfitrião, se não oferece um café, se não dispõe um travesseiro para os pés, se tenta – inutilmente – ignorar sua presença. De alguma forma inexplicável, a saudade sabe que você não pode com ela. Você também sabe. E vai deixando ela ficar enquanto torce para que o estrago não seja grande. E ela vai se espalhando pelas paredes, pelos móveis, em todos os cômodos, pelas tubulações de ar, deita na sua cama, toma conta de tudo...
Sufocante, ela te olha bem nos olhos, de forma profunda e penetrante, de forma a não te deixar esconder nada. Nesse momento preciso, vulnerável, você pede que ela se retire. Ela se recusa e se encosta em seu ombro. Você consegue sentir o cheiro dela, um nostálgico perfume de dias felizes, e sabe que precisa fazer algo a respeito, pois não quer chorar. E a saudade tenta te convencer a chorar, porque só então ela poderá te abraçar sem pedir permissão.
Você sabe que essa maldita inescrupulosa conseguiu exatamente o que queria: adormecer em seus braços, de forma pesada, penosa. A saudade sabe que venceu e você tenta enganar a si mesmo diante do espelho dizendo que um novo dia virá e que ela partirá, quem sabe para a casa de alguém que perdeu um familiar ou um ente querido, ou alguém que está longe da pessoa amada, ou uma criança qualquer que perdeu seu brinquedo favorito...
A saudade é onipresente. No dia seguinte você irá acordar e ela estará lá, deitado ao seu lado, e, antes de despertar totalmente, você sentirá suas mãos sujas apertarem seu peito e você berrará de dor – em silêncio – porque, como todos sabemos, a saudade é surda.

#REPOST (POSTAGEM ORIGINAL EM: http://northonferreira.blogspot.com.br/2014/01/o-que-fazer-com-saudade.html)





sábado, 19 de maio de 2018

MINDFULNESS


Atenção plena
Agora vejo quanto tempo foi perdido
Enquanto só pensava no passado e futuro
Enquanto só sentia dor, ódio e pena
Com a mente sã
Focado no agora
Consigo planejar o amanhã
E posso analisar a vida por outra ótica
Semáforos, árvores, prédios, pessoas, animais
Casas, pedras, montanhas, tsunamis, vitrais
Estava tudo aqui antes e eu não percebi
A cabeça a mil, enxurrada de sentimentos, quase esqueci de mim
Respiro, atento, concentro
Escaneio meu corpo
Modifico crenças
Mesmo que pouco a pouco
Revejo valores
E assim
Repenso amores
E lembro de mim.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

ALEXITIMIA



É sentir tudo e não saber expressar. Sentir e não saber como falar, como sorrir, como olhar, como fazer. É como ser adulto e se afogar numa piscina de crianças. É como ter 100 anos e não saber o que é a vida. É perder pessoas. É criar feridas. É como ser um porco-espinho. É perder oportunidades. É ver sonhos se esvaindo. É ganhar a desconfiança de pessoas amadas. É ser visto como um metal frio, rígido, oco, estático, insensível e imutável. É ter a certeza de ter algo e, ao mesmo tempo, não o ter. É sempre se atrasar no relógio da vida e, quando vê, já foi, já era, não tem volta, lá se foi mais uma pessoa, mais uma chance, mais um momento. Dói. Sim, dói. 

La Solitudine


Mais forte que o Popeye depois de uma boa dose de espinafre
Mais perigosa que um tubarão branco faminto
Mais dilacerante que uma espada samurai
Mais dolorosa que bater com o dedinho do pé na quina do criado-mudo
Mais triste que domingo sem praia
Amiga-irmã da depressão
Eis a solidão
A perseguidora dos poetas
Um Dementador de vidas
Assassina de sorrisos
Desafio do dia-a-dia
Eis a solidão
Mãe dos maus pensamentos
Eis a solidão
Mãe dos meus tormentos

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Para o irmão que nunca se foi


Irmão, gostaria de saber por onde você anda. Faz muito frio aí do outro lado? Desde que você se foi a vida perdeu muita graça. Desde que você se foi uma série de perdas o sucederam. Foram muitas desventuras na família e na vida como um todo. Mas também ocorreram muitas vitórias e tanta coisa que eu gostaria de te contar, tanta coisa que eu gostaria que você pudesse ter visto...Sabe, eu tive a impressão de ter te visto tantas vezes nesses tempos...Te vi em vários olhares na rua, em rostos nos ônibus, em filmes, em vozes, em assobios...Mas nunca era você...Você não estava mais aqui. Você não estava mais aqui quando nossa família chorou outras perdas, não estava aqui quando sorrimos em outras vitórias...Mas a sensação de que você estava aqui em todos esses momentos foi intensa. Aliás, ainda é incessante a sensação de que você nunca nos deixou. Você está presente nessa casa, está presente nos momentos ruins, nos momentos bons. Você está aqui sempre que eu penso que está tudo errado. Você está aqui sempre que eu tento ser um pouco parecido com a pessoa boa e pura que você era. Você está aqui sempre que eu busco forças para continuar, sempre que eu procuro uma luz para ajudar nossa família nas batalhas diárias. Você está nas lembranças dos nossos melhores dias, está aqui nos suspiros das manhãs de domingo, está aqui sempre que eu tenho a audácia de imaginar que você não está aqui.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

"Eu vou encontrar outro alguém".


Talvez ela não tenha seu sorriso. Aquele torto e cínico, escondido do lado esquerdo do seu rosto, que só você sabia dar. Mas espero que ela tenha vinte por cento do seu humor – foi muito por causa dele, e de mil outras coisas, que eu me apaixonei. Espero que ela ria até perder o ar, do jeito que você sempre fazia, mas que não perca o riso com o passar do tempo, nem canse de mim, de nós dois, do amor. Espero que ela não  seja outra que diga que vai ficar e, no fim, não ficou.
Se eu pudesse escolher alguma coisa, iria querer que ela tivesse seu olhar carinhoso ao acordar. E aquele ar despretensioso que você tinha ao dormir. Uma vez, te olhando, eu jurei que poderia passar o resto da vida só te vendo ali, sem medo, sonhando. Mas a gente sempre acorda dessas ilusões malucas de que amores duram pra sempre, não acorda? Eu, pelo menos, acordei.
Seu gosto musical insuportável ela não precisa ter. Talvez eu encontre alguém que, finalmente, curta passar a tarde de domingo ouvindo Caetano ao meu lado. Alguém que tope fazer aquela trilha do Costão de Itacoatiara que eu sempre quis fazer e você nunca quis me acompanhar. Já pensou eu encontro alguém que não me ache maluco por querer rodar o mundo em um cruzeiro quando eu tiver setenta anos?
Espero que ela tenha três doses a mais de amor se um dia resolver partir. E aí não parta como você – meu coração inteiro. Quem sabe, olha só, eu não dê a sorte de encontrar alguém que não vá me fazer questionar tudo, cada passo, cada vírgula da história, pra saber se valeu a pena. Vai ver eu ache alguém que me dê menos dúvidas e me encha de certezas.
De verdade? Espero que ela me faça parar de pensar que era você. E que só não era eu. E tudo bem porque a gente tem que aceitar quando não é a gente. Não é? Às vezes, a gente tem que aceitar que a gente tava pronto e o outro não. Mas espero que ela me faça pensar, depois de um tempo, que era ela. Que é ela. E espero, do fundo do coração, que ela seja.
Porque se tem uma coisa em que eu continuo acreditando, é isso: uma hora, vai ser.
Eu vou encontrar outra “você”.

Por Karine Rosa em:  http://www.karinerosa.com/

domingo, 14 de junho de 2015

Mistério


Sou a saudade de um jardim que nunca existiu, de filhos que nem nome têm, de um amor que nunca vivi. Vivo o desafeto de sonhar, sozinho, um amor de cinema. Almejo o inexistente, me digo ser euforia, mas, quando me pergunto se um dia ele virá, transbordo na maldade do tempo.
Estranho dizer, mas a minha melhor parte é aquilo que não sei. Então, antes de vir, não me pergunte quem sou, ou como amo. Sou um mistério para mim. Me desvende, me faça não ter onde me esconder, descubra o amor que há aqui dentro, só não me deixe saber disso. Minta para mim, não me deixe enxergar que estou amando, assim, amo como ninguém.
Fingindo que não sei amar, te digo, não me faça prometer amores certos e responsáveis, me ganhe no silêncio do vivido, se disponha a ver a cidade acender ao meu lado, o vinho se pôr em bocas diferentes e, se possível, me deixar ser eterno por um instante. Não necessito de mais que um instante, pois, preciso te dizer, a eternidade me assusta. O amor me assusta. A assertividade do que sinto me assusta. Me entregar para um coração que não seja o meu, então, se faz apavorante.
O amor, que aqui habita, se faz como um livro, onde poucos foram os que leram algum trecho, e inexistentes foram os que terminaram de ler. Quando sozinho, no silêncio da minha presença, deixo o amor em livro sair. O apanho da estante mais empoeirada da minha livraria e lhe dou a atenção merecida. Pelo menos nas noites em que estamos a sós. O leio em voz alta, para nunca esquecer do que quero sentir, rabisco suas páginas, divido todo o meu eu e, ciente de realmente estar sozinho, choro por somente eu tê-lo lido até o fim. Depois, o coloco no seu lugar, pois, se eu permitir, ele se deixa ser lido por todos. E, infelizmente, eu ainda não sei dividi-lo…






Por Frederico Elboni em: http://www.entendaoshomens.com.br/se-deixar-amar/

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ela já foi



Eu a tinha aqui, deitada no sofá enquanto eu fazia o café, reclamando da programação de domingo de manhã na TV. “Por que parece sempre que não passa nada de bom?”. Porque só a gente acordava naquela hora pra ler jornal e andar com o cachorro, meu bem, o resto do mundo tava chegando em casa. E agora eu chego também.
Eu dizia pra ela umas coisas bobas de que precisava ir embora desse mundo e ela me perguntava por que, se o mundo era outro e a gente era abrigo. Eu explicava com um pouco de raiva, um pouco de falta de paciência, que ela não era meu bunker, porque eu sentia que não era, sentia angústia e mesmo que ela apagasse a luz do corredor as coisas não mudariam. Ela deitava quieta do meu lado, e eu só queria sumir um pouco e ficar sozinho. Agora eu tenho todo o espaço do mundo dentro de mim. E a falta consome.
Eu tentava esconder o tédio que batia quando ela queria assistir “Chicago” de novo e cantarolava a cada dois segundos, sempre caía no sono e nunca via o filme inteiro. Trocava a vista dela pelo celular nos jantares, a companhia dela por qualquer pessoa durante os dias de semana em que tinha tempo livre. Até no dia em que eu troquei o lado dela da cama e quem deitou não me perguntou meu lado preferido. Vesti a roupa e fui embora pra casa. E agora não durmo mais assistindo “Chicago” e sei todas as músicas de cor.
Eu a tinha.
Agora eu sou o cara-que-não-tem-mais. O cara que podia ter ido pra casa e rido dela deitando no meu lado da cama e podia também ter esquecido de fechar a porta pra deixar o cachorro pular nela. Podia ser o cara que sai correndo no meio do banho pra ligar o interruptor porque tomou um susto com a água gelada e com ela se encolhendo toda no canto do box. Podia ser o cara que aproveitou a falta de luz pra ser pego de surpresa com um China In Box à luz de velas e podia ter sido o cara que fingiu que não viu as caixas de yakisoba na área de limpeza. Podia ser o cara que canta All That Jazz, mas preferiu ser o Mr. Cellophane que canta sozinho e olha pro lado procurando cumplicidade pra rir da cena engraçada, mas só encontra o cachorro, que também sente a falta dela. É impressionante como ele também sente que só eu não basto, que falta alguma coisa, que sem ela eu não tenho sido suficiente só pra mim.
Eu dizia. Mas dizia o que não importava, dizia um monte de bobagem e nem ria, dizia que hoje não ia dar pra ir com ela no cinema porque tava com preguiça. E passei a não acordar mais cedo nos domingos e nunca mais fiz café pra ela. Passei a achar mais ainda que ela não fosse meu bunker e uma hora dessas ela acreditou, acreditou que a gente não era mais abrigo.
Agora eu sou o cara que podia ter tido tudo, mas não tem. E ela é a garota que eu sonhei desde que era pequenininho e também é a garota que não acredita em mais nada do que eu digo, nem quando eu deixo um bilhete dizendo que decorei as falas do seu filme preferido porque é tudo o que eu tenho feito, eu tenho preenchido a falta dela com as partes dela que eu ainda posso ter.
E eu? Eu sou o cara que abriu a porta pra ela ir embora. E agora ela já foi.


terça-feira, 7 de abril de 2015

Sobre o amor e o medo

Uma vez você me disse que tava indo embora e que tinha que fugir de mim. Tava tudo bem, eu até entendia a despedida. Mas a fuga? Nunca entendo. Você falava que eu era um desses homens-bomba prestes a explodir alguma coisa dentro de você, prestes a te prender numa emboscada. Se o Molejo tivesse pensando na gente, teria sido amor e também cilada.
Falou debaixo dos Arcos e me empurrou, me mandou pra longe enquanto todo mundo via o circo que era a gente. Só faltaram os aplausos, mas juro que a bateria de escola de samba que era o meu peito deu conta dessa falta. Quantas cores você enxerga comigo? Eu vejo muitas, eu vejo várias, eu vejo você refletindo a chuva e brilhando num prisma multicolorido que muda as coisas. Sinto isso quando deito contigo numa cama apertada no meio do litoral, sinto isso quando você me liga embriagada e me manda sumir, me manda ir embora logo antes que eu destrua tudo, antes que a gente se exploda porque você não pode, você não quer isso agora, tá tudo muito certo pra outra bomba. Então você foge.
Foge e não tem sentido nenhum. Certo? Porque você tá fugindo do que te faz bem. Tá fugindo porque “agora não é hora”, “talvez você esteja enganado”, “e se você for embora, como é que eu fico?”, “você não quer o mesmo que eu” e blá, blá, blá. Você é todo um Hades de vozes semiloucas gritando pra não me querer porque, bem, você já quer. E eu te quero tanto. Quero pra caramba. Quero a ponto de implodir sozinho só pra não deixar nenhum caco meu cortar você.
Sou bomba, sim, confesso. Mas é porque eu quero te fazer botar pra fora tudo aquilo que você cala. Exterminar essa coisa quieta e calma que você guarda, essa coisa comedida de viver a vida (que na verdade é medo). Você fala como se tivesse que se desculpar por tudo e pelo mundo, mas não tem, nunca teve. Não tem que se explicar pra ninguém, não tem que pagar a conta do bar pra deixar ninguém feliz. Você precisa seguir essa porcaria desse teu coração, intuição, sentimento, dor de dente ou como você quiser chamar isso que sente. Segue, você vai ver que aponta pra mim porque o teu norte sou eu. E é por isso que eu venho, que eu chego num cronômetro decisivo, sempre mais perto, torcendo pra você não cortar o fio vermelho. Eu só explodo se você deixar. Explodo e mudo o seu mundo inteiro. Você vai ver.
Sou bomba, meu bem, mas não pra te machucar. Eu faço alguma coisa que reverbera aí dentro que te faz perceber que essa praia é mais bonita de noite, que as luzes da Orla deixam a cidade mais romântica e pronta pra gente andar meio bêbados por aí. Te disse noutra noite que eu sou d’um tipo equivocado, que se desculpa o tempo todo, que veio mesmo é pra fazer estrago. Não foi a maconha ou o álcool, não foi influência do amigo de azul que não parava de falar do bosta do Foucalt, mas foi você. Foi você me afastando e correndo como se batesse a meia noite e o pedido se desfizesse. Mas não esquece o sapatinho de cristal e fica. Se esquece inteira e se lembra de mim amanhã mesmo com dor de cabeça e aspirina.
Já pode parar de fugir de mim, porque isso tudo é medo.
Eu posso até me afastar, ir embora, implodir em outro lugar. Respeito se você não me quiser. Mas.
Nunca tem fuga quando a coisa da qual a gente foge mora dentro da gente.
Tic-tac-tic-tac-tic-tac.


terça-feira, 3 de março de 2015

Dessa vez eu não quero ser o héroi









Sempre fui do tipo que gosta de cuidar de alguém quando entra numa relação. Por gostar de ter certeza do terreno onde piso, eu sempre quis representar a pessoa que sabe o que tá fazendo ali. Queria ser a parte concha da conchinha, queria oferecer o peito pra deitar, queria ser o cara que conduz a valsa. E isso sempre refletiu muito nos meus relacionamentos.
Veja bem, não era nenhuma neurose controladora. Eu só gostava de me sentir necessário, de me sentir o porto seguro de quem tava comigo. Até que meu primeiro namoro longo acabou. Até que a tentativa do segundo foi um fiasco. Até que o último caso mudou muita coisa na forma como me via e foi um aprendizado enorme no início, meio e fim.
Depois do último fim, eu mergulhei num universo que era a minha cara: a loucura workaholic dos projetos e da vida adulta cheia de responsabilidades. Tive alguns bons encontros, mas nada além de encontros, nenhuma troca mais profunda. Eu cortei a coisa pela raíz nesses últimos meses sempre que me via na desagradável situação de nunca ter tempo pra cuidar de quem poderia vir pela frente. Num ato conformado de me convencer disso, eu abandonava a causa e me despedia. Melhor assim, não vou ter que como cuidar de você, eu disse (mais de uma vez).
Até ontem.
Até que eu cheguei em casa depois de virar duas noites trabalhando, com uma gripe insuportável, com as dores de cabeça de tudo o que eu tinha que fazer e entregar. Pensei no estresse e na falta de companhia, mas tudo bem, me falta tempo e eu vou ter que conviver com esse dilema: ao mesmo tempo em que quero cuidar de alguém, eu não tenho como fazer isso. Eu não tenho como me doar e me dedicar a alguém agora, eu não tenho como abrir mão dos meus horários encaixados para passar no cinema no meio da semana pra te ver, eu não consigo dar conta disso porque eu tô soterrado.
Uma lâmpada queimou no quarto. Tive um clique aqui dentro.
O problema real não é que eu não consiga me doar pra alguém porque eu não vou conseguir cuidar de quem quer que seja. O problema é que eu nego o tempo todo que eu também preciso de cuidado, eu delego sempre essa função a mim, mas só porque eu não baixo a guarda. Eu quero ser o herói de todo e qualquer relacionamento, mas poxa, isso cansa. Cansa porque ninguém é o Superman – e mesmo que seja, existe Kriptonita aos montes por aí. Cansa porque falta um abraço, falta um ombro pra deitar a cabeça e dormir no meio do filme, falta alguém que ligue no fim do dia e pergunte se tá tudo bem. E foi ontem, só ontem, que eu percebi pela primeira vez que eu também quero ser cuidado.
A gente tem que parar de negar e começar a admitir que quer fazer parte da vida de alguém, sim, e que não tem problema nenhum nisso. Não tem problema em querer ser a parte de dentro da conchinha, não tem problema em confessar que precisa de ajuda. Isso não faz da gente mais fraco ou mais forte, isso só mostra que todo mundo é vulnerável.
E foi no escuro forçado do meu quarto que eu percebi que dessa vez eu não quero ser seu herói. Eu quero, eu preciso de alguém que me salve. Alguém que me salve hoje e na próxima é a minha vez, a gente vai trocando. Uma vez é meu peito, na outra é seu ombro. E eu prometo que paro de mentir dizendo que me falta tempo, que me falta vontade, que me falta um monte de coisa porque só me falta mesmo alguém que me desarme. Alguém que me abrace quando descobrir que eu morro de medo do escuro.

Sobre a vida



Sem orgulho, sorriso ou brilho nos olhos. Sem vigor ou vontade de assumir. Sem mais delongas, protelamentos, procrastinações ou renegações: sou pessimista. Ainda que os sonhos me alcancem, me sinto como um maratonista fujão, que ao invés de chegar à linha, anda em círculos e vive de sonhos. Fúteis expectativas.

Talvez metade de mim chamasse esse meu jeito de autossabotagem. Quando os sonhos cometem aborto, com medo de se esvaírem. Algo como pré-conceito. Uma forma de podar as esperanças, arrancar as sementes antes que se fixem como raízes. Antes dos caules. Antes que a árvore seja alta, grande e corpulenta demais para ser arrancada sem a ajuda de um motosserra de verdades e nãos ouvidos na cara.

Acho que o destino de quem já deu topadas demais, recebeu pés na bunda, ou, sei lá, foi feito de trouxa, fantoche e boneca de pano, é essa incredulidade. Esse, digamos de um jeito eufêmico, ceticismo. 

Todos os dias, qualquer um que você seja capaz de imaginar, entre primeiro de janeiro e os infindáveis outros sábados e domingos, sonho. Durmo para descansar disso. Durmo para, digamos assim, dar um tempo nessa de imaginar, querer, desejar, almejar, pensar, sempre, em, querer, mais, em, querer, por favor, ir, além.

Quando a noite me vence, e o sono é mais pesado que os anseios e medos, todos misturados em insônia, é aí que eu não sonho. Não que eu não veja o mundo colorido de olhos fechados, mas, simplesmente e objetivamente, não me lembro dos meus sonhos. E, justamente quando todos sonham, eu só durmo. Sou uma espécie de ser humano às avessas. Não preciso do sono para sonhar. O faço com destreza, de olhos bem abertos. 

Na verdade, acho feio culpar os outros, sempre eles, por tudo que passamos. Por tudo que nos fizeram passar. Cada um recebe talvez, segundo um tal dito popular, o que merece. Quem sabe, em um universo paralelo, eu tenha plantado, e só agora venho colhendo esses frutos. Ora doces. Ora azedos. Ora estragados. Ora, só, hora. Tempo. 

Ainda que os sonhos me alcancem, me sinto como um maratonista. Alguém que vive se preparando para correr com todo o gás, em busca de um pódio. Em busca de um primeiro lugar. Em busca de deixar de lado uma vida de pessimismos, incredulidades e segundos, terceiros, décimos, quartos lugares. 

Só, rio.

Ainda vou chegar lá. Eu sei. A gente sabe. É que às vezes o mundo pesa tanto. Tudo parece tão escuro, difícil e inalcançável. As pernas, os braços parecem curtos. Curtas. Sonhos. Filmes que ficam passando na mente. No silêncio dos meus inquietos pensamentos.

Deixa pra lá. Hoje, ou só por hoje, vou fazer de conta que sim, que está tudo bem, tudo certo, tudo, ok. Fúteis expectativas. Coisas que enchem a gente de verde. De esperança. De querer, querer. Coisas que nos obrigam ou fazem acordar, todos os santos dias, para enfrentar mais uma (segunda-terça-quarta-quinta-sexta)-feira e batalhar por essa menina dos olhos chamada comumente de Felicidade.













Adaptação do texto "Beatitudinem, do latim", escrito por Matheus Rocha em: http://www.neologismo.com.br/2015/03/beatitudinem-do-latim.html

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Ninguém pediu amor


  Amor não correspondido é como uma batida de carro: dois corpos em colisão e o que vai determinar a intensidade é a velocidade e a força com que eles se chocam. Um deles vai bater mais forte e o outro vai sair mais ferido. Na nossa breve visão da situação, aposto que você pensaria em culpar quem rejeita e colocar o rejeitado – ainda mais se for você – num pedestal. Mas não, não deveria ser assim. 
  Eu demorei pra perceber isso. Vou contradizer muitos textos meus, mas a verdade é essa: Você deu e ele não quis. Engula o choro e pare de amaldiçoar o coitado: ele não pediu seu amor. Você embrulhou numa caixa de presentes e mandou junto com flores e bombons à moda antiga. Ela disse que não poderia aceitar porque não sente o mesmo. Engula a raiva e pare de maldizer a guria: ela não pediu o seu amor.
  Não sei se você percebe o lado deles, mas amar alguém que ama a gente pode ser um fardo ou uma dádiva. É uma dádiva quando nasce de dentro, quando vem uma coisa bonita e arrebata a gente – porque amor correspondido é arrebatador, transformador, expõe um lado que a gente não conhecia. E pode ser um fardo quando ele é carregado sozinho e entregue pra gente como se fosse obrigação nossa aceitar. Não, não é.
  Amor não correspondido é uma bosta, eu sei. Eu sempre me sentia um fracasso quando tentava, persistia, usava de todas as artimanhas e de todo o charme (que eu achava que tinha) pra tentar conquistar alguém. Não dava certo, caía fora de cabeça baixa, coração pesado e boca cheia. Reunia os amigos e contava a minha versão – é sempre a nossa versão dos fatos, nunca a verdade -, e dá-lhe encontrar motivos pra culpar o outro. Muitos sinais emitidos, muitas gentilezas trocadas, muitos convites aceitos e meu amor que é bom nada.
  Caro leitor, amor não é questão de mérito, nunca foi. Não importa quanto esforço você faça, não importa quão legal você seja: amor não é recompensa e nem prêmio de consolação. Você não vai encontrar amor como prêmio da Mega da Virada, nem na Tele Sena. Não vai pedir delivery num domingo à noite quando bater carência nem vai pedir num menu de algum restaurante descolado do Mirante Gourmet.
  Então pegue a caixa na qual você guarda esse amor todo e tenha plena consciência de que pode oferecê-la pra quem quiser. A recusa não é grosseira e é uma possibilidade recorrente. Não é falta de delicadeza, muito menos atestado de babaquice. É só alguém dizendo que não rolou, que aquela chavezinha que roda aqui dentro quando se ama, quando se quer por perto, não rodou. Não rodou por você, obrigado e volte sempre.
  Antes de maldizer o mundo, os fundos e a falta de amor, pense duas vezes. Por você e por quem recusou a oferta. Um dia você é recusado, no outro recusa. O lado bom disso é que a gente não precisa fazer recall do produto (e nem encarar uma fila de espera de 40 minutos a 1 hora pra entrega, como se fosse pizza). Se você encarar dessa forma, as chances de se sentir machucado são bem menores. Até porque o mundo não se divide em vítimas e agressores. Num acidente de carro, por exemplo, o motorista não tem culpa se você se jogar contra o carro dele numa avenida movimentada. O estrago é por conta e risco seu. Todo seu.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"Ele quer alguém"



            Nem ele acredita mais, mas é claro que ele quer.
Pergunte a qualquer um de nós o que queríamos ser quando crianças, ninguém vai dizer: “Eu sonhava em ser um cara bonzinho”. Homens, quando criança, querem ser corajosos, valentes, usar sua força por alguma causa, desejam viver uma aventura. Não é a toa que as brincadeiras giram em torno de competições e lutinhas - “Quem é o mais forte? Quem é o mais corajoso dentre os meninos da rua?”
Mas parece que essas coisas não importam mais hoje em dia. Diariamente homens são bombardeados e domesticados com textos do tipo: “O que o homem perfeito precisa ter”, “10 qualidades de um homem pra casar”, “Fique com um homem que...”. Vê? Cadê sua força? Sua coragem? E esse é o problema: Ninguém mostra para ele que ser apenas o que esses textos falam, faria dele o cara mais sem graça do planeta. E ele não é sem graça. Um relacionamento que ele entraria, mas acha que não existe mais, não precisa só de bondade, mas de coragem, de força e, com certeza, de aventura.
Por isso não surpreende que ele troca a aventura a dois pela aventura sozinho. É mais fácil. Ele não quer perceber que se abriu para alguém, e quis alguém pra valer, mas não tinha o necessário. Que só cumpria 7 das 10 qualidades necessárias. Que não era o cara perfeito para ela. Mas será que não era?
Então ele continua, como diria a música, de copo sempre cheio e coração vazio. Afinal é mais fácil agradar o dono do bar. Ele quer alguém, claro que ele quer, mas acima de tudo, ele quer ser quem ele é - e não só bonzinho.





Por Celio Heitor Sordi em: https://www.facebook.com/acopy.me?fref=ts


"O que aconteceu com os relacionamentos leves?"


O status do whatsapp dela diz: “Ou você soma, ou você some” e na capa do grupo das amigas a foto do abdômen mais trincado que pode existir. Logo pela manhã ela leu as “10 coisas que um homem para casar precisa ter”, já ele, enquanto perambula pelo “adote um cara”, resolveu mandar uma piada sobre ex-namoradas no grupo dos amigos. Ela é interessante, ele também é, não é a toa que combinaram um jantar. Mas quando seencontram, nada flui. Claramente algo está errado.
Eles não perceberam ainda, mas a era dos relacionamentos leves está acabando.
É complexo. Dê uma flor hoje em dia e você está sendo afobado, queira pagar pelo jantar e temos um machista retrógrado. Todos desconfiam de tudo. Estamos nesse campo de batalha chamado “você não presta”, armados até os dentes de “esse filme eu já vi”. É como se todos tivessem criado o dom de identificar facilmente os canalhas e as fúteis, mas não se aproximaram nenhum passo sequer da maturidade emocional. Ninguém de fato está preocupado em ser melhor, ou em criar consciência. Todos só têm argumentos.
Minha geração é a menos paciente, flexível e amorosa de todas. Não confia, ou se apaixona cegamente mais, não antes de vasculhar os amigos em comum. A geração especialista em achar pelo em ovo anseia pelas agulhas do palheiro, mas quando as encontra, não tem nada para costurar.
Eu me pergunto se as pessoas deveriam ser tão entendidas assim sobre o que julgam não querer. Talvez a menina das “10 coisas que o homem pra casar precisa ter” jamais as encontre em alguém, mas, caso se permitisse, encontraria outras 100 qualidades ou mais. Na mutação dos gostos, sentimentos e opiniões, não correr atrás do que parece perfeito, mas do que faz bem, é quase um ato de heroísmo. Mas para isso, no “soma ou some” da vida, a soma ainda precisa ser uma operação entre dois.







Por Celio Heitor Sordi em: https://www.facebook.com/acopy.me?fref=ts