Absolutamente nada.
Ela irá entrar pela porta da frente, sem
convite. Sentar no seu sofá, vestindo suas roupas e com o controle da tevê nas
mãos. E, em pouco tempo, será tão familiar que ficará até difícil pedir que se
retire. Então você irá observá-la, petulante, enquanto ela cresce bem diante
dos seus olhos, como um grande pão sendo fermentado, mesmo que você se recuse a
alimentá-la. Saudade se retroalimenta, é autossuficiente como você gostaria de
ser.
A saudade é ousada e indiferente, não se
importa se você é um péssimo anfitrião, se não oferece um café, se não dispõe
um travesseiro para os pés, se tenta – inutilmente – ignorar sua presença. De
alguma forma inexplicável, a saudade sabe que você não pode com ela. Você também
sabe. E vai deixando ela ficar enquanto torce para que o estrago não seja
grande. E ela vai se espalhando pelas paredes, pelos móveis, em todos os
cômodos, pelas tubulações de ar, deita na sua cama, toma conta de tudo...
Sufocante, ela te olha bem nos olhos, de
forma profunda e penetrante, de forma a não te deixar esconder nada. Nesse
momento preciso, vulnerável, você pede que ela se retire. Ela se recusa e se
encosta em seu ombro. Você consegue sentir o cheiro dela, um nostálgico perfume
de dias felizes, e sabe que precisa fazer algo a respeito, pois não quer
chorar. E a saudade tenta te convencer a chorar, porque só então ela poderá te
abraçar sem pedir permissão.
Você sabe que essa maldita inescrupulosa conseguiu
exatamente o que queria: adormecer em seus braços, de forma pesada, penosa. A
saudade sabe que venceu e você tenta enganar a si mesmo diante do espelho
dizendo que um novo dia virá e que ela partirá, quem sabe para a casa de alguém
que perdeu um familiar ou um ente querido, ou alguém que está longe da pessoa
amada, ou uma criança qualquer que perdeu seu brinquedo favorito...
A saudade é onipresente. No dia seguinte
você irá acordar e ela estará lá, deitado ao seu lado, e, antes de despertar
totalmente, você sentirá suas mãos sujas apertarem seu peito e você berrará de
dor – em silêncio – porque, como todos sabemos, a saudade é surda.
#REPOST (POSTAGEM ORIGINAL EM: http://northonferreira.blogspot.com.br/2014/01/o-que-fazer-com-saudade.html)
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