segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Estou desistindo de você




Você tá aí, quieta demais, e vem me olhar com essa cara de quem não imaginava, de quem nunca imaginou, que um dia eu iria embora. Tá aí me encarando descrente como sempre fez. Lançando um olhar de reprovação doloroso que duvida de mim. Duvida de mim e duvida de tudo o que eu já fiz, já passei, já corri e já deixei por você. Dessa vez eu bato a porta e apago a luz, dessa vez eu selo a carta e endereço pro lugar certo, dessa vez não tem mais “outra” na frente pra relembrar das segundas chances.
Tô me livrando de você, te desalojando. Te colocando numa caixinha de música velha que vai parar de tocar no exato momento em que eu tirar os olhos de você. Tô te pintando no rosto, meu bem, como listras de guerra. Tô quebrando pratos, deixando a pia mais limpa pra não sujar as tuas mãos. Tô te pintando com laço e de vestido, pra não me esquecer de como você se vestia pro espelho, enquanto arremessava o amor do segundo andar.


Tô te implorando lentamente pra dizer alguma coisa que me pare enquanto eu declaro que tô desistindo de você. Tô levando na mala só o que é meu, e deixo o que era nosso pra você fazer fogueira do passado. Queime os retratos, as correntes, o desprezo e me jogue junto. Talvez assim eu sinta, pelo menos uma vez, alguma coisa que não seja frieza. Tô levando tudo num gerúndio lento, que se arrasta com justificativas pela casa, e a única coisa que você faz é ficar aí me encarando. Marcada, estagnada, calada. Depois da dor toda, você escolheu ficar manchada em mim, feito tatuagem. E nada mais.
Tô desistindo da lembrança de que, talvez você nem lembre, um dia desses a gente se bastava. Do apelo comovido dos presentes de aniversário, dos alarmes silenciados pra me atrasar agarrado em você. Tô desistindo de quem eu amo, cuido, consolo e me fez ver tudo virar passado numa apropriação indevida de nós. Tô desistindo quando não queria mais desistir.
Então usa esse infinitivo pra parar esse gerúndio doído. Me para e grita pra mim que ainda tem lugar pra nós dois aqui antes que eu já tenha desistido. Diz alguma coisa enquanto eu me despedaço e me ponho nas caixas. Diz pra parar a lágrima descendo no meu rosto, diz pra ser clara de vez e me consentir um abrigo renovado. Diz pra mim que muda, por favor, e que muda a minha vida junto. Diz que se lembra de mim e que teus olhos vidrados não são esquecimento. Diz que não me jogou no seu limbo pessoal. Diz e me impede, rápido, de desistir de você.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Sobre as lágrimas de um homem que chora






Chorei sim, quando você disse que era o fim. Chorei porque doeu de verdade, porque sou de verdade. Porque tudo foi de verdade pra mim, ou pareceu ser. Chorei porque não tinha ninguém me controlando, porque era eu e minhas palavras contra você e as palavras e sentimentos de outra pessoa.

Chorei porque perdi você para a maldade alheia. Chorei porque perdi por medo de perder. Chorei na sua frente. E por mais vergonhoso que aquilo pareceu ser, não foi. Não há vergonha em ser sincero, em ser de verdade. Não há vergonha em não ser orgulhoso, o orgulho destrói.

Chorei porque você estava e está perdida e não aceita ajuda. Chorei porque você escuta as pessoas erradas, porque você não sabe diferenciar conselhos e cordas de marionete. Chorei porque estou de mãos atadas. Chorei pela saudade. Chorei por amor. Chorei de dor. Chorei pelo luto após o luto. Chorei porque continuo sendo Eu-atalho .





segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sobre nós




Hoje me deu uma vontade de sussurrar torturas nos teus ouvidos e esperar alguma reação tua. Espero, passo os dias esperando, que você nunca mais saia inerte de mim. Saia marcado por uma sensação boa que pode ser prazer ou afeto contente, numa coisa saudosa que não precisa buscar satisfação no passado (porque eu tô bem aqui).
“Te mandarei flores amanhã”. Deixe que te envio flores noutro dia pra compensar a solidão da hora do trabalho, já que você fica sozinha, nessa relação homem-máquina estranha por 40h/semana. Me manda flores também e me deseja, vai. Me deseja de todas as maneiras, mas me deseja com afeto. Me deseja um bom dia e me tira os dentes da boca, me tira dessa sombra que me esconde quando bate a tristeza e a falta de você, moça.


Prometo diante de uma entidade desconhecida que isso é amor. É amor em cada curva, amor naquele seu sinal, amor espelhado nos olhos que reprovam e eu nem ligo. Nem ligo porque sou teu porto e teu porre. Tua estrutura elástica que se adapta, feito camaleão, no contraste da tua pele.  Tão amor-liquidificador que eu não saio inerte de você, nada sai inerte ou estável dessa minha vontade imensa de te fazer feliz. E tu lembra que já me mandou embora tantas vezes que a tua porta já tem as marcas de batida da minha mão. “Vai embora porque você me tem fácil demais”. Tua cama é moldada a mim, mas você tinha um medo descarado de se sentar à mesa com outro homem. Passou, como tudo passa um dia. Passou por mim e eu disse ''olá''.
E nessa vontade que hoje me bateu, arrebatadora, de te dizer essas coisas todas, eu me lembrei de como eu também sou tão seu. Tão teu nos detalhes cotidianos que se a gente não parar a vida pra olhar devagar, vai parecer que a gente já tava grudado num berçário da vida, Já brincava e ouvia Forfun e Raúl juntos desde pequenos . “Será que a gente pode ir pra outro lugar?”. A gente foi e o tempo existe, e também as coisas mudam, você me diz. As coisas mudam e será mesmo que a gente mudou? Será que teve numerologia, tarot, astrologia, runas ou todas essas coisas de sorte que formataram a gente nesse futuro-presente que já passou? Será que teu amor e o meu eram predestinados, mesmo que a gente nunca acreditasse nisso? Balanço a cabeça e afirmo, conduzindo-te num passo de dança enquanto mostro a minha vida. Te faço sala, você é meu quarto. Meu diário-trancado-de-confissões que exprime e pede silenciosamente que seja cuidado, enquanto vulnerável.
Não faz assim, porque cócegas me tiram do sério e eu sou mais forte que você. Dos deuses da mitologia, sou uma mistura de Áries com Dionísio, e você é um Apolo-com-um-quê-de-Narciso, sem ter intenção nenhuma de ser Deus. Mundano, você acredita nas coisas todas daqui, da gente e o nosso amor se encontra em Vênus, prazer. Talvez a gente combine, talvez seja tudo um discurso inflamado pra te dizer que o importante é que as coisas mudam, sim, e a gente pode mudar um dia. E te peço pra não me mandar mais embora por medo, por isso te mando flores e um cartão confessando que eu continuo, sempre, sendo teu.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Você vai lembrar de mim.





Parece que foi há tempos atrás. Em uma época que remetia às aventuras dos mais destemidos heróis da Idade Média e aos romances noir em preto e branco. Aliás, acho que aqueles filmes tinham um quê de mais reais do que os coloridos de hoje em dia. O preto e branco transmitia um sentimento mais verdadeiro. Trágico, profundo, complexo. Tudo preto no branco. Mas não foi há tanto tempo assim. As fotos não me deixam mentir. O teu cheiro na minha camisa não me deixa esquecer. Até as meninas bonitas com milhares de sorrisos movidas a batidas melódicas nas festas me lembram você.
Aquele relógio de pulso que você me deu no meu aniversário não parou Aquela. Curioso. Achei que os ponteiros parariam no exato momento em que você dissesse adeus. Nem as estações congelaram, nem a gravidade cedeu, nem a programação ridícula da Tv aberta fez concessão ao meu sentimento. Estático, sem reação, sem saber o que fazer da vida estou eu. Porque na verdade ninguém se importa. Ninguém sabe mais que eu o que eu estou sentindo. Sabe, você foi a mais bela esperança que eu já tive em meus braços. Você foi, para mim, a resposta de que vale a pena amar alguém tão diferente de você. Você foi. E não volta mais.
Eu nem me dei o trabalho de empacotar as coisas, de retirar tudo o que é seu da minha vida. Eu tentei reagir da melhor maneira possível. Funcionou um pouco, sabia? Mas é que toda vez que eu fico em silêncio, meu coração dispara. Toda vez que eu fecho os olhos, a única imagem que me aparece é você. Eu vou sentir a sua falta. Isso eu nem preciso frisar. As minhas palavras caem no papel com o peso de um milhão de silêncios. Crueldade é que a gente está conectado de todas as formas possíveis, com exceção da única forma que me faria feliz agora. Sabe, eu ouvi dizer por aí que você desatou o nosso nó. Ouvi dizer por aí que eu me perdi e não consegui voltar. Ouvi dizer por aí que a gente se enganou. De verdade? Transformo tudo em pequenos grãos de areia que são tão irrelevantes perto da grandiosidade do que a gente foi.

                                       


Esse quarto tá uma bagunça. O pior é que eu tenho plena convicção de que eu corro um grave risco se tentar arrumá-lo. É uma daquelas faxinas que colocam o que restou do amor em caixas, retira as fotografias dos porta-retratos, apaga os bilhetes gravados na parede e todo tipo de coisa. O risco é guardar isso tudo pra nunca mais encontrar. Síndrome de Faxineiro, sabe? Eu me encontro nessa bagunça que anda o meu coração. E me pergunto por onde você anda, com quem você tem estado, se é verdade o que você diz por aí. Me pergunto se você também tem tentado esconder tudo por trás da máscara de inconseqüência ou se realmente está tudo bem. Confesso que saber que está tudo bem me parece ultrajante: é como se você nunca tivesse sofrido essa dor de amor. Eu espero que você esteja lembrando. Que você se lembre de mim. Pelo menos que o meu nome não tenha sido apagado da tua agenda com tanta facilidade. Pode até esquecer o nome, mas guarda o endereço, por favor.
Bom, vou continuar então a fazer o que eu estava fazendo. Vou continuar a fazer nada por nada e continuar me sentindo nessa mistura de nada com coisa alguma. Tenho fé nas coisas do mundo, tenho fé no clichê do tempo. E falando em clichês, nas últimas horas eu contrariei um dos grandes clichês da humanidade: homem chora sim.