terça-feira, 5 de junho de 2012

Vivendo...


Fui quase injusto em desejar que as coisas tivessem sempre um real tamanho, que as fomes fossem saciadas sempre pelo melhor gosto, que a chuva só desabasse em tempos de matar a sede. Tranquei meus dias ruins nas cores de um Miró aceso. Fui tão constrangedor não sendo infeliz como escritor, preferindo de qualquer maneira a incerteza da existência da verdade inteira. Se quase sucumbi num poço de tristeza, me reergo até hoje, constante e amiúde, fazendo o meu melhor. Fiz o maior que pude, mas não me preservei: ainda sou atingido por coisas que não dependem de mim.
Engulo o amargo da saudade sem fazer careta, absorvo o azedo da rejeição sem me achar menor, abro os braços para a escuridão contando estrelas, gasto cada gota de suor e sangue nas minhas entregas. E não economizo gargalhadas, mas pago o preço alto do inconveniente de viver no mundo paralelo e metafísico onde vivem as palavras. Estive em muitas páginas. Grifei muitos parágrafos. Sorvi tantas inglórias e orgasmos e vitórias. E estive com você além de mim. Fui burro, mas fui bom. Fui puro, mas fui tolo. E toda a malícia vinda na hora inadequada me fez desconfiado por tudo, por nada. Eu tenho um jeito enorme de amar pra sempre, mas sou desajeitado. Eu tenho um jeito imenso de ser comovente, mas sempre concluo as histórias na hora errada.

''Talvez eu escreva, sempre e tanto, e insista em vibrar uma energia que de tão intensa entorpeça, porque isso no fundo me impede de aceitar a simplicidade e a leveza das ações de todo dia. Talvez essa seja (ou tenha sido) a minha forma de lidar e aceitar que não é preciso que a vida seja estratosférica de verdade pra que eu a sinta estratosférica de verdade... em mim.''

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