segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Além do que os olhos podem ver




E você espera o sinal abrir. Olha os carros, lembra da conta de celular que vence amanhã, lembra das provas de calculo... Nem reparou no muro grafitado na sua frente. Alguém, em algum momento, gastou algumas horas da sua vida pintando aquele muro. Escolheu as cores a dedo. Criou personagens. Chegou em cores. Mas você nem viu. Quando muito, reparou de relance que aquela esquina tinha mais cores do que o resto da cidade cinza. Não há nada de errado com a sua visão. De óculos, você nunca precisou na vida. Você vê muito bem. O problema está na forma como enxerga as coisas.
Sabe, tem uma grande diferença entre ver e enxergar. Você viu os doces na vitrine, mas não enxergou o coração detalhadamente feito pelas mãos habilidosas e precisas da confeiteira em cima do cupcake. Você viu seu colega de trabalho chegando, mas não enxergou que havia algo de errado com os olhos dele que brilhavam menos e traziam uma pequena bolsinha inchada na parte de baixo, coisa de quem chorou na noite passada. Você vê o cachorro atravessando a rua, mas não enxerga que ele é um ser que conversa com os olhos. Você vê o cara bonito e de roupa bacana conversando com você na balada, mas não enxerga que sua linguagem corporal e seus elogios entregam que ele só quer te comer e nada mais.
Esse é um dos motivos pelos quais muita gente diz que não encontra ninguém legal pra namorar. Num universo com tantos seres, pra todos os gostos, ela insiste em dizer que só encontra cafajestes. Talvez isso aconteça porque ela vê os homens, mas não os enxerga de verdade. Quem tem antena ligada e os sentidos abertos, fala com você e te escuta, mas, paralelamente, enxerga outras coisas. Repara no tom da sua voz e na ansiedade que vem junto com ela. Repara na sua dificuldade ou facilidade em fitá-los nos olhos. Repara no seu riso, se ele é verdadeiro ou não. Repara nas suas reações quando lança assuntos polêmicos. O externo, é só detalhe. O externo é mascarável. Você pode acordar no seu pior dia e tentar enganar o mundo colocando roupa nova, arrumando o cabelo, carregando na maquiagem. Quem somente vê, não percebe que há algo de errado. Os que vêem enxergando já sacam de cara que alguma coisa aconteceu com o seu ser.
Esse despertar dos sentidos traz mais mudanças do que você gostaria de acreditar. Você provavelmente dispensou dezenas de homens legais que se aproximaram  porque não conseguiu enxergar além do óbvio. Estava se achando a mulher madura e experiente e, bobinha, confiou nas armadilhas da sua mente. Mal se lembrou que a mente prega peças e analisa os fatos de acordo com a perspectiva dela. O coração vai muito além – ele ultrapassa a barreira do palpável, do racional, e capta aqueles sentimentos que a gente insiste em esconder. Coração tem visão translúcida pra máscaras – elas enganam a todos, menos a ele. Saint-Exupéry tentou nos ensinar isso quando disse que “Só se vê bem com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos.” Com certeza você já leu essa frase antes, mas talvez não a tinha entendido direito – talvez porque tenha visto as palavras, mas não enxergado real seu significado. Tem gente que não entende e talvez, jamais entenderá. Mas não é com elas que a gente fala.

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