“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Pode ser que o seu nome não seja João, nem Teresa, nem Raimundo, nem Maria, nem Joaquim e nem Lili. Mas, provavelmente, você já foi personagem de uma história como essa. Assim como João, você já pensou em Teresa antes de dormir. Assim como Teresa, você já derramou algumas lágrimas por Raimundo. Assim como Maria, você já quis saber o que Lili tinha e você não. Assim como Joaquim, você já homenageou Lili no banho. E assim como Lili, você já esteve livre e desimpedida antes de se apaixonar por mais um João. Em suma, como todo bom ser humano, você já ficou sem par na quadrilha da vida em pelo menos uma festa junina desse mundo de encontros e desencontros.
Em sete singelos versos, Carlos Drummond de Andrade, em ''Quadrilha'', conseguiu eternizar da maneira mais simples possível a mais genuína fonte de satisfação e sofrimento desde os tempos mais remotos – essa dor que se chama ''amor''. Satisfação porque, por mais que Teresa não corresponda ao amor de João, saber que é desejada – se não trouxer uma felicidade momentânea – pelo menos infla o ego. Mesmo ego a quem o desamor de Raimundo tanto maltrata – e daí vem o sofrimento. Recuso-me a continuar explicando o amor e peço desculpas já de antemão pelo quão patético isso possa ter soado. Embora indecifrável, o amor é inerente ao homem. Explicar o amor a um homem é tão desnecessário quanto apresentar a respiração subaquática a um peixe. O amor não precisa de explicação. Mais do que isso, o amor não merece explicação. Merece apenas que abramos os braços ou viremos as costas. E aí, meus caros, depende de nós.
Por mais que Hollywood tenha o ensinado que não se escolhe quem se ama – e que você tenha acreditado porque isso soou extremamente bonito e comovente aos seus ouvidos - eu ponho as minhas dúvidas sobre as suas certezas. Um: você só se deixa encantar por alguém se se permite. Dois: você só se permite porque está ciente de todos os alentos e desalentos que isso pode trazer-lhe mais pra frente. Três: você só se envolve quando enxerga que há uma mínima possibilidade de sucesso. Quatro: sucesso não significa necessariamente casar e constituir família. E cinco: não, o que você sente pelo Robert Pattinson não é amor.
Quem me vê falando assim, com tanta propriedade, tem a mais absoluta certeza de que eu nunca derramei uma lágrima por uma mulher que fosse. Seria realmente maravilhoso se não fosse mentira – afinal, se tem uma coisa que eu tenho mais do que todos vocês, além de me foder, é dedo podre amparado por uma (In)consciência levemente masoquista. Sim, a conclusão que tiro de tudo isso é que, assim como eu, todo ser humano tem um pouco de masoquista. E de sádico também, porque, como componentes de um bom par complementar, o masô não existe sem o sádico. Na quadrilha, enquanto o sanfoneiro toca, Maria satisfaz seu masoquismo com Joaquim, que exerce seu sadismo sobre ela. E assim a tal da quadrilha da vida vai se consumando. Olha a cobra! É mentira! Olha a chuva! Já passou! Olha a decepção! Provavelmente está à sua espera na próxima esquina. Olha os amores imperfeitos! Esses não passam. Jamais passarão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário