Você me pega pela nuca e me arrasta por cada parte do seu corpo com força e precisão. Quase me arranha com a minha própria barba usando a fricção da pele pra desenhar os nossos sinais na barriga, seios, pernas, coxas e tudo mais. Me faz pagar a língua quando eu enceno algum teatrinho dramático pra não deixar você levantar da cama: você fica se quiser e ainda diz que poderia ter levantado enquanto aproveitava a minha distração. Conto as suas pintas uma por uma com cuidado pra você não perceber a minha obsessão em calcular cada milímetro do teu corpo. Tento aproveitar que agora é tarde e daqui a pouco amanhece, você vai embora e se cria um abismo que envolve tempo e espaço entre o toque da campainha e o nosso toque de novo.
Eu tenho pressa de você e a minha ansiedade não pode ser controlada por diagnóstico nenhum. Me liga pra desafinar essa saudade com o teu tom rouco, pra melhorar o meu dia, pra me fazer dirigir com pouca atenção e ser xingado no meio do trânsito turbulento dessa cidade, me liga pra desacelerar o meu pensamento e a minha prosa que vai. Se perdendo. E não se conclui. E fica solta por aí com. Muitos pontos e fala mais um pouco que eu quero ouvir tua voz de novo, vai.
Me lembra como é bom desacreditar e ser pego de surpresa com alguma coisa boba rondando a cabeça que até os meus amigos perguntam – mas já sabem que vem de você. Já sabem que eu misturo o teu cheiro, as tuas roupas, a sua preferência por cachorros e bebês que me deixam de lado nos shoppings, cinemas, peças, parques, encontros, os filminhos água com açúcar que você adora ver escondida e faço uma bagunça danada dentro de mim. Engraçado que a gente tinha tudo pra se repelir porque você não é nem meu oposto, nem se parece comigo, nem sei dizer mesmo como é que um esbarrão podia ter sido a coisa mais doce da minha vida quando eu nem ao menos tinha provado o teu gosto.
Faz parecer que as vinte e quatro horas do meu dia passam devagarinho e não tem botão pra avançar em você como eu bem queria fazer agora. Deixo o trabalho e parece que eu tenho sempre quinze anos de idade de novo porque você me aflige, me ataca, me espreme e tira mais de mim do que muito psicanalista com doutorado e me causa uma taquicardia que a minha boca fica seca, eu me descontrolo – mesmo que só na minha cabeça – mas não repara, tá? Repara no que você me faz de bom e de como a vida ficou boa quando você quis ficar por aqui, passeando, me fazendo sala, jogando baralho, xadrez, dominó ou dormindo em cima de mim. Repara que eu estampo na cara o que o seu uso prolongado pode causar de efeito colateral – pra bem e pra mal – e as reações adversas que me causam o excesso e a abstinência de você. Repara que pra você eu me separo em partes, das que você precisa conhecer às que a gente pode ignorar um pouco agora, e sempre te apresento o melhor de mim, servido na bandeja com um Martini e azeitona. Repara que você é o melhor amor que eu já tive e que me tem nos detalhes, nos fiapos desfiados das camisas de lã no frio, na mão suja de carvão do churrasco de domingo, nas notas fiscais guardadas e organizadas nas pastas pra me lembrar do presente do dia dos namorados que eu ainda não comprei. Repara que você me enamora e me encanta como nunca alguém me encantou nessa vida. Repara que você nem sequer existe de verdade.
Porra, Nórthon, texto perfeito!
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