quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mudança de Estação

Não percebi a chegada do outono, mas eu sentia que estava embarcando numa nova estação: todas as árvores na rua, as que eu gosto e as que eu não gosto, de repente, estavam nuas. E eu caminhava num tapete de folhas e flores. Os caminhos também se estreitaram e tive uma sucessão de perdas, ou melhor, tive uma sucessão de trocas. E assim, como toda pessoa que tem um coração pulsando, fiquei assustado demais com as mudanças. Mas agora já consigo perceber beleza na nudez de cada uma das minhas árvores prediletas. Elas apenas estão trocando de roupa enquanto eu troco de pele, tamanha cumplicidade. Então, quando bate a ansiedade e meu coração machucado começa a doer, ponho a mão nele e digo a mim mesmo: “Obrigado por, pelo menos, poder sentir que não estou sozinho”. Porque eu não perdi uma estação, eu perdi a mim mesmo e agora me sinto como um prédio que foi demolido e está sendo reconstruído, tijolo a tijolo novamente. E esse processo é muito difícil, mas acho também a experiência mais bonita que uma pessoa possa vivenciar. Toda reforma é para fazer melhoras e, algumas coisas, por não poderem ser recuperadas, terão de ser substituídas. E a gente se apega demais a tudo, pois estou tão disposto às reformas, mesmo que isso inclua marretadas no meu coração logo pela manhã, bem cedo. A gente, quando enjoa da dor, começa a ressignificar os acontecimentos, e percebe que se agarrar a um momento bom, acelera o processo de cura. Tenho tido bons momentos todos os dias, o amor dos meus amigos e da minha família ameniza qualquer momento de desespero. Ainda assim, há tempos em que eu não consigo gargalhar, eu que sempre tive isto como umas das minhas maiores características. Paciência deve ser o meu aprendizado agora. Aceito e agradeço.

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