sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sobre ela



Depois da sessão no cinema sempre bate saudades de você que não veio ainda. De você que podia ter recostado a cabeça no meu ombro durante o filme. De você que teria chorado porque eles se acertaram e deram certo depois do não-tão-felizes-assim para sempre. De você que ocupa um banco vazio do meu lado. Só que eles sempre acendem as luzes pra gente ir embora – e eu acho que você acaba indo mesmo. Porque eu sempre vou sozinho pra casa em altas horas da noite.
Mas todo filme trabalha com a gente para além da sua duração. E eu já me adianto nas flores e penso ''será que você vai gostar da gravata que eu coloquei?''.  Você é meu amor imaginado, sonhado pra aparecer um dia desses no meio das nossas loucuras, com todos os nossos problemas e com aquela coisa que faça com que a gente se apaixone pelos olhos um do outro. Com calma pra eu não tropeçar e cair pra dentro de você, me afogar, me afundar e não querer mais sair dali, mesmo que perdido. Você é o meu amor de roteiro romântico. Do tipo que perdoa as minhas maluquices e não pergunta o que eu conversei com meu terapeuta hoje. Do tipo que se magoa porque eu falei muito sobre a minha ex, me dá uns dois socos no ombro direito e vai dormir com o telefone desligado. Do tipo que eu reconheceria assim que tivesse a oportunidade de conduzir uma dança e pisar nos seus pés. Pra fazer a gente cair no meio de todo mundo. E pra você começar a rir desesperadamente e transformar o constrangimento em alegria.
Você é o meu tipo de garota do cinema, de cena após cena. De câmera nos trilhos e silêncio no estúdio. De gemidos abafados na última fileira do filme. Dá até pra antecipar a sua timidez no primeiro encontro. Com mãos se esbarrando lentamente no descanso das poltronas. Entrelaçando os dedos conforme os quadros se sucedem e alguém nos manda fazer silêncio porque o coração armou uma escola de samba e agora bate forte. Você é o meu tipo de primeiro beijo esperado, pra dizer que eu já sabia que era você no momento em que pus os olhos e pude ver que você era tão complicada quanto eu – e não ligaria pra isso. Você encararia as coisas com a máxima de que nós dois nos encontramos no mundo por conta de alguma força que vai além da nossa compreensão. Pra dizer que as nossas conversas estão fadadas ao silêncio quando nenhum dos dois souber o que dizer e isso não incomoda. Você é toda cheia de dedos e sinais que se atrapalham na tentativa de dizer alguma coisa. Estudou um pouco sobre fantasia e vive por aí contando histórias, e me encantando. Você é um mistério mal resolvido, e espero que continue assim, com esse quê de que pode ser real sem perder essa aura de ilusão que me mantém consciente de que pode ser tudo um sonho.
E é por isso que eu volto ao cinema em todas as sessões coruja de comédias românticas. Pra ver se eu esbarro numa garota tão perdida quanto eu no seu próprio mundo. Pra ver se eu encontro alguém que se apaixona tanto pelas histórias dos filmes a ponto de querer vivê-las a flor da pele como eu. Pra ver se dessa vez eu sento do lado de uma poltrona ocupada e recebo um sorriso desconhecido, mas ainda assim bonito. Mesmo que acendam as luzes. Mesmo que baixem os créditos finais. Mesmo que esvaziem as salas, eu ainda acho que um amor tão grande e tão bonito assim exista além das telas do cinema. O meu tipo de garota também acharia.

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